‘Perigo’ urbano

Soube na semana passada da morte prematura de um escritor americano apaixonado pela carne, Joshua Ozersky, aos 47 anos. Alm de autor, ele tambm realizava eventos, sendo o mais conhecido o Meatopia. Foi encontrado morto em um hotel em Chicago, aonde tinha ido participar da premiao anual da James Beard Foundation, e at agora as causas da morte so inconclusivas.

Colaborador de diversas publicaes (ultimamente, “Esquire”, “The Wall Street Journal”, “Food Wine”), Josh mostrava sua predileo culinria j no ttulo de livros como “The Hamburger: a History” e “Meat Me in Manhattan” (um trocadilho em que “meet me”, encontre-me, grafado “meat”, carne).

Sua mais chamativa participao na vida gastronmica era o Meatopia: evento ao ar livre no qual chefs, restaurateurs e churrasqueiros profissionais preparavam carnes na brasa para um imenso e faminto pblico. Foi realizado por nove anos seguidos em Nova York e em 2013 aconteceu no Texas e em Londres.

Eu o conheci no Uruguai, em 2011, quando participamos do festival Punta Food Wine, em Punta del Este. Josh no teria do que reclamar de pelo menos uma atividade do evento, o almoo ao ar livre promovido pelo chef Francis Mallmann, ocupando toda a praa do pequeno vilarejo de Pueblo Garzn.

Mallmann aficionado pelo fogo e pelas brasas, como fica evidente em seu livro “Sete Fogos” (editora Vergara Riba), que mostra sete diferentes tcnicas, em geral bem rsticas, de preparo de carnes, peixes e vegetais no fogo.

Naquele ano –e nos seguintes, sempre no festival– ele distribuiu pela praa diferentes estaes de preparo, que iam desde a conhecida parrilla (a churrasqueira) at o forno de lenha, passando por legumes enterrados sob brasas no cho.

O “happening” de Mallmann, como os de Ozersky, so eventos que impelem moradores e turistas a uma convivncia divertida e informal. So fenmenos de comida de rua que no Brasil ainda apenas engatinham, e de maneira tortuosa.

Comida de rua costuma se equilibrar entre o apetitoso (com seus aromas ganhando diretamente as narinas dos passantes) e o perigoso (quando no se sabe direito quais os cuidados de higiene observados).

Mas nos pases do mundo onde ela de regra (especialmente na sia, mas tambm em algumas cidades ocidentais), flertar com o risco faz parte da aventura. E, quanto mais existe, mais o pblico separa o que h de melhor, nem que seja custa de eventuais desarranjos fsicos, tpicos da seleo natural…

No Brasil, se descontarmos as excees –o tacac do Par, o acaraj da Bahia, o pastel de feira de So Paulo, os carrinhos de comida em volta dos estdios, o hot-dog na porta das baladas– a comida de rua tem uma oferta limitada. E agora, que resolveu aparecer com mais fora, foi direto para a pedante soluo dos caros food trucks, ou de festivais de comidas “de rua” confinadas em estacionamentos e galpes.

Acho timo que existam reluzentes e equipadssimos food trucks com boa comida pelo meu caminho, e toro para que tenham sucesso, embora prefira, pelo preo que a maioria cobra, comer sentado e com mais conforto em um bar ou em um restaurante.

Tambm dou fora s feirinhas gastronmicas que andam ocorrendo em espaos fechados. Mas um pouco mais de espontaneidade, de exagero, no estilo do comilo Josh Ozersky tambm faria bem.

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