“Na China, pensam que o Vinho do Porto é inglês”

Publicado em: 29/04/2016 – 16:07:33

Rita Jia, empresária do setor vinícola na China, é a organizadora da mais antiga feira de vinhos internacional realizada na China e esteve em Portugal a promover a 16.ª edição da Interwine.

Rita Jia

Rita Jia, 40 anos, empresária do setor vinícola na China, presidente da Feira Interwine e presidente da Câmara de Comércio Guangdong-Sichuan, é a organizadora da mais antiga feira de vinhos internacional realizada na China e esteve em Portugal a promover a 16.ª edição da feira Interwine.

Como caracteriza o setor vitivinícola na China?

Creio que mais e mais países estão interessados na China e procuram apoiar as indústrias locais com campanhas de marketing e presença em feiras exatamente porque reconhecem a escala da país e crescimento das vendas. Este ano, pela primeira vez, está a ser organizado um concurso de vinhos entre produtores vinícolas portugueses e chineses. É fantástico como só este ano de 2016 se considerou um evento deste tipo. Vamos finalmente ter vinhos premiados por um júri internacional com provadores, nomeadamente chineses e portugueses, nas estantes dos supermercados chineses.

E como evolui o setor na região de Guangzhou?

É um mercado maduro. Aliás, faltava, na região, um representante português, pelo que saúdo a decisão das autoridades diplomáticas portuguesas de abrirem um consulado em Guangzhou, à semelhança dos outros países produtores de vinho que já aí estão representados. O setor sairá valorizado com a presença do Sr. Duarte Bué Alves que, além disso, trabalhou anteriormente no Ministério da Agricultura de Portugal e, como tal, acredito que terá uma grande sensibilidade para estas oportunidades.

Que tipo de vinhos preferem os consumidores chineses?

Essencialmente, vinho tinto de castas internacionais, grau de álcool alto e frutados. Existem também nichos como o Vinho Verde e o Vinho do Porto.

Que oportunidades existem para os produtores portugueses encontrarem importadores?

Os produtores portugueses devem selecionar as feiras internacionais certas, preparar-se pelo menos três meses antes, enviar amostras, integrar os roadshows promocionais (escolher alguns, porque será impossível fazer todos) e fazer o follow-up de contactos com vendedores chineses. Os vendedores chineses têm um custo básico semelhante ao ordenado mínimo português mais comissões e que podem, no final, representar o dobro de um salário mínimo. Não me parece um custo relevante, se se considerar o mercado em questão.

O que é a Interwine e como se diferencia de outras feiras vitivinícolas na China?

É a mais antiga feira de vinho da China, é um centro de competência e ponto de encontro de importadores de toda a China. A equipa da Interwine trabalha todo o ano a promover em diferentes cidades os dois eventos que realiza em Guangzhou, um em maio e outro em novembro. A Interwine tem, nomeadamente, uma conta de Wechat com mais de 30 mil leitores chineses ativos. E sabe o que é o Wechat? Se não sabe, não vai ter sucesso na China. Por outro lado, como o nome indica, a Interwine dedica-se a ligar os importadores locais com os produtores internacionais. Finalmente, a Interwine organiza viagens de importadores chineses aos países expositores no pré e pós feiras, como já fizemos com Portugal várias vezes.

Para quando a próxima edição?

De 20 a 22 de maio, acontecerá a 16.ª edição.

Como avalia a presença dos produtores e comerciantes portugueses na Interwine?

Em 2007, tivemos a primeira comitiva. Mas desde 2013, com o impulso da Associação de Jovens Empresários Portugal-China, a presença portuguesa ganhou um novo fôlego, felizmente ininterrupto até hoje nas duas edições anuais, primavera e inverno. Além disso a AJEPC tem integrado várias missões empresariais conjuntas com a organização e trabalhado muito fortemente na promoção de Portugal.

Acredito que, com o esforço que têm feito, os produtores portugueses terão muito bons resultados!

Outro ponto muito importante são as missões empresariais chinesas que a AJEPC tem promovido de visita a Portugal, promovendo o enoturismo.

O vinho português tem notoriedade na China?

Não. O vinho português tem muito espaço para crescer. O consumidor chinês ainda não conhece o vinho português. Há muitas oportunidades e trabalho a ser feito nesse campo.

Como é que um produtor português desenvolve a sua marca num mercado da dimensão da China?

Wechat, Wechat e Wechat! Website em chinês, vídeos das instalações de produção que demonstrem a qualidade e limpeza das instalações, entrevistas com os donos, promoção na imprensa, enaltecer a história das famílias por trás dos vinhos, relatar visitas de pessoas importantes às suas quintas na China, convidar jornalistas chineses a visitar o país, organizar festivais de vinho e convidar fotógrafos e fazedores de opinião, organizar visitas às herdades de cortiça, contar a história, estar muito presente no mercado, fazer follow-up dos contactos de forma profissional e persistente.

O que é que, na sua opinião, pode ser feito para apoiar os produtores portugueses?

Na China, pensa-se que o vinho do Porto é de Inglaterra! É preciso explicar ao consumidor chinês o que é o vinho português, a sua qualidade, a sua história, as suas grandes marcas e as outras marcas de nicho. Na China, há consumidores para tudo, vinho barato a vinho muito caro, mas é preciso promover com estratégia, realização mensal de festivais, participação nos principais eventos, no fundo, fazer aquilo que os franceses já fazem há muito tempo e os espanhóis têm feito bem mais recentemente, no fundo investir na marca Portugal. Portugal tem a cortiça, a história e a qualidade, só lhe falta o marketing para fazer os consumidores acreditarem na marca Vinho de Portugal! São necessárias mais competições de vinho, mais presença na China, mais conversa sobre a vinho de Portugal na China!

OJE

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