por O Globo
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A cada ano os vinhos portugueses estão melhores, não estou falando de safras, que são outro assunto, mas do conhecimento que os brasileiros adquirem sobre eles. E conhecimento é estima, amor, escolha. Algum tempo atrás falar em Touriga Nacional, Alfrocheiro, Maria Gomes, Trincadeira, Loureiro ou Baga era como tentar explicar um mistério em língua estranha. As pessoas só entendiam Cabernets e Chardonnays. E, no entanto, a terra portuguesa se movia, parafraseando Galileu Galilei.
Lembro que passei uma semana gelada em Lisboa, vários anos passados, num janeiro especialmente frio para os invernos — normalmente amáveis — daquela cidade, provando, a convite da ViniPortugal, três centenas de vinhos que não chegavam ao Brasil. Era uma surpresa diária, “como este vinho não é conhecido por nós? Como tantos vinhos de qualidade existem sem serem importados e bebidos?” pensava, enquanto caminhava debaixo de chuva gelada, na cidade tornada belamente melancólica.
Depois, em duas ocasiões, fui parte do corpo de jurados do Portugal Wine Challenge, e o mesmo espanto: a quantidade de vinhos excelentes que são desconhecidos pelos brasileiros. Tive uma mistura de tristeza pelo desconhecimento e de alegria pelo desafio intelectual de perceber o vasto mapa a ser explorado.
Hoje, eu me orgulho, por afinidade e amizade, de chegar a um jantar com uma garrafa escolhida debaixo do braço, e ser um Ameal, um Buçaco, um Manoella, um Poeira, um Quinta da Leda, um Chocapalha, uma novidade de Filipa Pato ou um Cortes de Cima e dar alegria aos anfitriões, vê-los não se decepcionarem mais por não ganhar um Bordeaux.
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O vinho português seduziu o gosto do Brasil, pessoas como Sandra Tavares, Luis Pato, Paulo Laureano e Dirk Niepoort, os Baga Friends, Douro Boys e outros já juntam filas para suas degustações, são tão populares por aqui quanto os grandes nomes franceses e italianos. Sugiro beber um soberbo português para acompanhar pratos nacionais, como churrasco, peixe amazônico, feijoada, vatapá ou moqueca.
Tais vinhos conseguiram o seu lugar em todos os níveis, da confiabilidade dos Periquita à grandiosidade do Barca Velha. Não é preciso mais apontar onde fica o Dão, nem argumentar que, sim, o Alentejo é capaz de brancos sutis, nem repetir que há grandes tintos na Bairrada e que o Douro não é só dos Portos. Embora os Portos ainda me emocionem acima de tudo, meus genes gritando.
E há outra qualidade, escrevo isto bebendo um moscatel da Quinta da Bacalhôa, um destes monumentos hedonistas que custam tão menos do que oferecem de prazer, Portugal está over-delivering, expressão inglesa certeira: entregando mais do que pede em troca.
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Portugal deixou de ser um destino de passagem, uma escala em Lisboa para uma noite de fados, rumo a outro lugar europeu, e virou ponto de chegada, de turismo desejado, enoturismo em particular.
Cada dia se viaja mais até lá para comer e beber, para visitar quintas, fazer degustações e conhecer novas regiões; as pessoas pedem endereços de lojas de vinhos, restaurantes gastronômicos, hotéis rurais em vinícolas.
Três conselhos: há pouca coisa mais linda na geografia dos vinhos que um passeio de barco pelo Douro, monumental obra de parceria entre homem e natureza, para fornecer vinhos sublimes. Um drinque no hotel Ritz, de Lisboa, vendo o entardecer sobre a cidade, algo que não deixo de fazer. E visite Colares, com seus vinhedos na areia, batidos pelo vento fortíssimo da costa, prove seus vinhos, tesouro esquecido e metáfora para o casamento de Portugal com o oceano.
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