Início> Notícias> Internet das Coisas: a vez das operadoras?

A Internet das Coisas foi a grande vedete das discussões durante a Futurecom, maior evento da área de telecomunicações brasileira, encerrado na semana passada em São Paulo.

IoT foi o assunto da Futurecom. Foto: Studio F.

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O discurso das operadoras é mais ou menos uniforme: chegou a hora de subir dentro da cadeia de valor, oferecendo aos clientes não apenas conectividade, mas a solução completa para o problema de coletar, armazenar e analisar dados oriundos de milhares de sensores.

As operadoras, de acordo com esse ponto de vista, teriam aprendido as lições ensinadas pelo fenômeno das chamadas OTTs, empresas que oferecem serviços de vídeo, áudio e outras mídias pela internet, fazendo uso da infra construída pelas operadoras ao mesmo tempo em que canibalizam a sua receita.

Serviços como Netflix, WhatsApp, Hulu e todo tipo de ofertas de VoIP estariam em processo de fazer desaparecer US$ 386 bilhões de receita entre 2012 e 2018, mantendo uma média de crescimento anual de 20%, de acordo com dados da consultoria especializada Ovum.

“Para termos um share de mercado justo, precisamos sair do modelo baseado em conectividade. O ecossistema tem que mudar”, defende Amos Genish, presidente da Vivo. “Não podemos cometer com o IoT o erro que cometemos com as OTTs”, agrega.

Talvez influenciado um pouco por estar de saída da Vivo em janeiro, Genish fala sem papas na língua sobre a situação problemática das operadoras brasileiras.

Nos dois últimos anos, a receita média do mercado estagnou, em meio a uma inflação total de mais de 20%. As receitas de voz, base do negócio de telecomunicações de dados há décadas, estão em queda irreversível e já representam menos da metade da receita de muitos players. 

O tempo médio gasto pelo brasileiro em conversas telefônicas via operadoras está 111 minutos mensais. Em dezembro de 2013, eram 140 minutos por mês. 

Genish aponta que o modelo de negócio baseado em minutos de ligações está com os dias contatos e que o negócio das novas “telcos digitais” deve ser “conectividade” como base para “n plataformas”.

Trilhões de dólares de receita gerada e bilhões de dispositivos conectados são mencionados quase frivolamente nos estudos de  consultorias sobre o futuro da Internet das Coisas. 

Seja como for, o que está claro é que as operadoras terão que se mexer se quiserem um lugar ao sol. 

A Business Insider Intelligence prevê que US$ 6 trilhões serão investidos entre 2015 e 2020 em Internet das Coisas, sendo destinados a seis aspectos tecnológicos diferentes.

Conectividade é o último, na faixa as centenas de milhões de dólares, repetindo as margens do lucro de mercado de M2M, nos quais as operadoras entram com a conexão pelo que consideram um valor ínfimo do dinheiro ganho pelas adquirentes de cartões.

Storage, que pode ser atendido pelos data centers das operadoras, e segurança, facilmente agregável sobre essa, são outros serviços nos quais as telcos podem entrar, não se saem muito melhor.

O topo da cadeia de gastos está com desenvolvimento de aplicações e os sensores e demais hardware relacionado, com um terço do total cada um cada um.

Ao que parece, a estratégia das telcos brasileiras até agora parece estar concentrada em ganhar receita pelo lado do hardware, oferecendo uma venda conjunta para os seus clientes. 

A Oi, por exemplo, lançou durante a feira o Oi Smart, que integra câmeras, alarmes, sensores de movimento e biometria controlados remotamente por aplicativos para desktop, iOS e Android. Logo devem vir novos lançamentos na área de carros conectados e saúde.

“Eu acredito que o que fará a IoT ser massificada será o universo dos consumidores finais, assim como já aconteceu no começo da Internet, nos anos 90”, acredita Pedro Falcão, diretor Tecnologia de Redes e Sistemas da Oi.

Com 6,397 milhões de clientes de banda fixa, a Oi está entrando no mercado de segurança doméstica com preços agressivos e uma estrutura de técnicos no campo que é difícil de igualar. 

Outras operadoras tem condições de fazer a mesma coisa, dominando a área de IoT voltada para o consumidor final.

De acordo com outro feito pela Ovum, o mercado potencial do segmento de ambientes inteligentes no Brasil é estimado em US$ 400 milhões em 2016, alcançando US$ 1,4 bilhão em 2020.

Mas mesmo que as aplicações de segurança e, no futuro, saúde de carros conectados decolem, para muitos o dinheiro a ser ganho estará mesmo no lado industrial da IoT. 

“As telcos devem ser um agregador de serviços de terceiros, criando um modelo B2B2X”, projeta Richard Ullenius, VP da CSG International, uma multinacional de software para companhias de telecomunicações.

Como encontrar essa centralidade é a pergunta do milhão de dólares. Ullenius cita como exemplo operadoras para como a australiana Teslra, que criou uma unidade de negócios independente focada em IoT, livre para repensar “sistemas, processos e custos de maneira dramaticamente diferente”.

O principal desafio é deixar para trás uma mentalidade voltada para vender conectividade ou mesmo sensores, para vender no lugar a informação útil para os negócios que pode ser capturada e entregue pela combinação das tecnologias no campo.

E aí que começam as más notícias para as empresas de telecomunicações. 

Só nos últimos meses, grandes players de tecnologia como HPE e Microsoft fecharam acordos com gigantes área industrial como GE e HPE, no que deve ser uma tendência para os próximos anos.

Esses dois tipos de empresas já tem tecnologias complementares. Os players de TI entram com a oferta de cloud computing e analytics e os de automação industrial com o conhecimento de máquinas, processos industriais e a informação que pode ser relevante para os dois. Nesse quadro, unir uma ponta à outra é o de menos.

“Me parece que empresas de software e integradoras têm mais condições de liderar o movimento de IoT industrial”, avalia Craig Wigginton, líder mundial de telecom da Deloitte.

Wigginton, no entanto, tem uma mensagem de consolo para as operadoras de telecomunicações.

“Faz 20 anos que eu escuto brincadeiras sobre como as operadoras vão ser apenas fornecedores de encanamento. Mas a verdade é que existe muito dinheiro a ser ganho com canos, para quem souber fazer isso direito”, resume o executivo.

* Maurício Renner cobriu a Futurecom em São Paulo a convite da organização do evento.

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