Governo quer grupo de reflexão a avaliar pressão do turismo – Público

O Governo quer criar um grupo de reflexão informal com as autarquias, especialistas e entidades regionais para discutir, a cada seis meses, os impactos do turismo na “sustentabilidade urbana”. De acordo com o novo plano estratégico para o sector, pensado até 2020 e divulgado nesta sexta-feira, a intenção é propor soluções para contornar a pressão provocada pelo aumento dos turistas em Portugal e responder “aos actuais desafios ligados à qualidade de vida dos residentes e dos turistas”.

Nas 149 páginas do documento, cuja introdução é assinada por Adolfo Mesquita Nunes, secretário de Estado do Turismo, é definida uma ambição global para este sector de actividade, que vale 15,7% do Produto Interno Bruto: colocar o país entre os dez destinos mais competitivos do mundo nos próximos anos.

Entre as várias acções previstas, identifica-se como desafio “de sustentabilidade urbana e ambiental” o aumento de turistas nas principais cidades. Este impacto tem sido mais notório em Lisboa onde, num ano, as dormidas dispararam 15,4% para 11,53 milhões. Há quem se sinta esmagado pelo fluxo de visitantes na capital, que se traduz, por exemplo, num aumento do trânsito e do lixo. Assim, propõe-se que o presidente do Turismo de Portugal, os presidentes de câmara dos concelhos com mais de 500 mil dormidas por ano, especialistas e entidades regionais do sector se sentem à mesa para propor medidas específicas e resolver problemas.

Uma das tarefas do grupo de reflexão é “articular e concertar as estratégias de desenvolvimento turístico, que promovam o aproveitamento adequado dos recursos, a valorização da oferta turística e, em síntese, um melhor e mais sustentável ordenamento turístico dos municípios e do destino Portugal”.

Pede-se ainda “soluções inovadoras” para contornar a pressão provocada pelo aumento do turismo e responder “aos actuais desafios ligados à qualidade de vida dos residentes e dos turistas”. Em cima da mesa estará o desenvolvimento de casos de estudo sobre destinos mais “maduros” e estratégias que compatibilizem a actividade turística com o “bem-estar de todos”, da comunidade local ao meio ambiente.

Apesar de reconhecer que este é um problema para ser acompanhado, o Governo entende que os “desafios de sustentabilidade urbana e ambiental” devem ser vistos “com abertura”. O turismo é oportunidade “e não ónus” e deve ser “agente para a regeneração, reabilitação, valorização e dinamização económica do destino”. Pelo contrário, não deve ser encarado como uma “actividade económica a limitar ou vedar”, lê-se no plano, que está em discussão pública durante um mês.

O impacto do turismo nas cidades tem estado na ordem do dia e, recentemente, a nova autarca de Barcelona decidiu suspender temporariamente a concessão de licenças para a construção de hotéis. A iniciativa de Ada Colau congelou pelo menos 45 novos projectos na terceira cidade europeia mais visitada, depois de Londres e Paris. Este ano, Barcelona deverá receber 7,6 milhões de pessoas e a comparação com Veneza tem sido inevitável. Em 1980 moravam no centro da cidade 120 mil pessoas mas, quase 30 anos depois, havia apenas 60 mil residentes. O número de visitantes anuais ultrapassa os dois milhões.

Crescimento moderado do turismo 
Por cá, até 2020 o Governo estima um crescimento moderado do turismo, com subidas anuais de 2,4% nas dormidas na hotelaria (total de 50 milhões). “Paralelamente, Portugal pode ambicionar um crescimento médio anual de 3,6% das receitas turísticas internacionais, para um total de cerca de 13,4 mil milhões de euros”, refere o documento.

Durante a apresentação da nova estratégia, António Pires de Lima, ministro da Economia, destacou os bons resultados do sector e admitiu querer bater mais um recorde em 2015. “Seguramente vai ser possível ultrapassar os 17 milhões de turistas”, disse, citado pela Lusa. O governante destacou ainda que ter um aeroporto dentro da cidade de Lisboa é uma “vantagem competitiva” que o Governo quer preservar. Falou também da expansão da Portela e do aproveitamento da base do Montijo.

O novo plano estratégico tem como objectivo posicionar o país como destino relevante, com crescimentos acima dos concorrentes. O crescimento deverá ser feito através do aumento dos gastos dos turistas, redução da sazonalidade e dos desequilíbrios sazonais e da “preservação da sustentabilidade do território”. Pretende-se um “sector público aberto à mudança constante e imprevisível”, focado no “respeito pela procura e não apenas na protecção da oferta”, e um sector privado “liberto de constrangimentos desnecessários”. Outra das preocupações é recolher, monitorizar e tratar permanentemente dados estatísticos e indicadores.

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