Um dos ambientes da casa de Neruda em Isla Negra (Foto: Natacha Pisarenko/AP)

Fascinado pelo oceano, o poeta chileno Pablo Neruda preferia se manter um “marinheiro em terra” e incorporou detalhes que lembram o mar em sua casa favorita na cidade costeira de Isla Negra, a cerca de 110 quilômetros de Santiago.

Construída em um penhasco rochoso sobre o Oceano Pacífico, a casa tem o teto baixo, janelas redondas e conchas incrustadas no chão da entrada principal, colhidas manualmente por ele na praia. Ele brincava com seus amigos que as conchas foram deixadas lá para fazer uma massagem nos pés dos visitantes.

Excêntrico, Neruda encheu essa e suas outras duas casas de souvenirs e objetos trazidos do mundo todo. De estátuas polinésias a mascaras africanas, passando por borboletas e cachimbos, a coleção dá aos visitantes uma amostra de seus casos amorosos, viagens, festas e da imaginação de um dos maiores poetas do século 20.

Coleções

Máscaras adornam parede da casa do poeta; residência é cheia de objetos trazidos por ele do mundo inteiro (Foto: Natacha Pisarenko/AP)

Na casa de Isla Negra, turistas podem “navegar em terra”, como Neruda diria, em uma jornada por uma vasta coleção de mapas antigos, frentes de barcos e conchas de todos os tamanhos.

O hall da casa está cheio de miniaturas de barcos engarrafadas trazidas de praias brasileiras, um presente do escritor baiano Jorge Amado. Na parte de fora está o maior brinquedo de Neruda: uma locomotiva de trem.

Borboletas estão entre as muitas coleções de Pablo Neruda, expostas em sua casa de Isla Negra (Foto: Natacha Pisarenko/AP)

“Na minha casa eu colecionei brinquedos grandes e pequenos, sem os quais eu não conseguiria viver”, escreveu Neruda em suas memórias. “A criança que não brinca não é uma criança, mas o homem que não brinca perdeu para sempre a necessária criança que costumava viver nele.”

As janelas de vidro colorido foram escolhidas para que ele visse o oceano de tons diferentes. Em “Casa de Areia”, um livro dedicado a Isla Negra, o poeta ganhador do Nobel escreve sobre uma “musa” na sala de estar: Maria Celeste, uma figura de madeira que ficava à frente de um barco que navegou pelo rio Sena, em Paris. O poeta afirmava que a musa vertia lágrimas no inverno.

Três casas

La Sebastiana, uma das três casas do poeta Pablo Neruda, fica em Valparaíso (Foto: Natacha Pisarenko/AP)

Mais de 40 anos após sua morte, os poemas de amor de Neruda e sua vida aventureira continuam a inspirar, levando cerca de 400 mil visitantes do mundo todo anualmente a suas três casas.

Assim como a de Isla Negra, as outras duas residências também têm temas náuticos. Uma delas, batizada de “La Chascona”, fica na capital Santiago. A outra, “La Sebastiana”, na cidade portuária de Valparaíso.

Neruda escreveu desses três lugares, que eram um cenário para sua inspiração e suas excentricidades.

Mulher observa a vista da casa de Pablo Neruda em Isla Negra (Foto: Natacha Pisarenko/AP)

“Não há como não se inspirar e produzir grandes poemas com essa vista maravilhosa”, diz a turista brasileira Cristiane Stekel, de 35 anos, que é fã da poesia de Neruda e visitava Isla Negra. “Agora posso entender sua história melhor porque parece que ele está vivo nesta casa.”

Vida

Garota perto do túmulo e Neruda e de sua mulher, Matilde Urrutia (Foto: Natacha Pisarenko/AP)

Neruda nasceu Neftali Reyes Basoalto em 1904 em Parral, cidade no centro-sul do Chile. Ele mudou seu nome porque seu pai não aprovava sua escrita.

Apesar de ser mais conhecido por seus poemas, Neruda foi também diplomata, político de esquerda e amigo do presidente socialista Salvador Allende.

Aos 69 anos e sofrendo de câncer na próstata, o poeta ficou traumatizado pela perseguição aos seus amigos e planejava se exilar. No entanto, morreu em circunstâncias suspeitas 12 dias depois do golpe militar no Chile.

Os corpos de Neruda e de sua mulher, Matilde Urrutia, estão enterrados no quintal da casa de Isla Negra.