A médio prazo a gastronomia vai ser escolha determinante para o … – Tribuna do Norte

Leandro  Pena Catão

A gastronomia como apelo para o turismo. Temática provocante e que encontra no professor Leandro Pena Catão um estudioso.
Ele vê com entusiasmo a possibilidade da gastronomia dos lugares ter se tornado um atrativo para o próprio turismo local. “E uma das formas privilegiadas de se conhecer isso é por meio da gastronomia, da culinária.  Ela (a culinária) é a porta de entrada do viajante conhecer aquela cultura”, destaca Leandro Catão, que esteve em Natal participando da Feira Estadual de Turismo do Rio Grande do Norte.

Alex RégisLeandro  Pena Cato  doutor em Histria pela Universidade Federal de Minas Gerais. Coordenador do Curso Superior de Gastronomia da Faculdade Senac Minas. Atua tambm no mestrado profissional em Desenvolvimento Regional da Universidade do Estado de Minas GeraisLeandro Pena Catão é doutor em História pela Universidade Federal de Minas Gerais. Coordenador do Curso Superior de Gastronomia da Faculdade Senac Minas. Atua também no mestrado profissional em Desenvolvimento Regional da Universidade do Estado de Minas Gerais
Ele aposta em um crescimento do segmento de turismo gastronômico. “Se hoje a maioria dos turistas não escolhe pensando apenas na gastronomia e isso é levado em conta, mas não é o que determina a escolha. Mas a tendência é que no médio prazo, isso venha a determinar absolutamente a escolha”, observa.

O convidado de hoje do 3 por 4 é um professor com análises apuradas sobre a gastronomia no turismo. A entrevista é um convite a avaliação o impacto desse segmento para atrair visitantes.

A gastronomia ganhou um status maior junto ao turismo. É isso mesmo?
Isso se deve ao interesse das pessoas pela comida. Alimentação é fundamental na vida das pessoas. Todo mundo gosta de se alimentar. Entretanto, nos nossos dias, isso tem ganhado um requinte extraordinário, uma vez que as pessoas tem viajado mais, conhecido outras culturas, seja por meio de programas televisivos ou por meio de viagens e isso tem ampliado e despertado o interesse da sociedade como um todo aos atrativos gastronômicos, que são parte de uma cultura. Quando a gente viaja, quando você escolhe um determinado destino, um dos interesses dos viajante é, justamente, conhecer a cultura daquela terra, daquele local. E uma das formas privilegiadas de se conhecer isso é por meio da gastronomia, da culinária. A culinária é a porta de entrada do viajante conhecer aquela cultura. Seja o estrangeiro ou de outras parte do Brasil. O nosso país tem essa particularidade: território gigantesco, culturas regionais muito distintas. Para o gaúcho, ou  mesmo para o mineiro que visita o Nordeste, parte dessa gastronomia é inédita. Eu, por exemplo, não conhecia o feijão verde e o queijo de manteiga (típicos do Rio Grande do Norte  ele conheceu aqui). São aspectos que suscitam a curiosidade do visitante. Antes, no passado, o interesse era o sol e o mar. Resumia-se a isso. Hoje, definitivamente não. O turista está cada vez mais exigente e quer também desfrutar de experiências gastronômicas. Sol e mar durante o dia, acompanhado de boa comida, mas a noite quer conhecer a gastronomia local. Não havia essa demanda no passado. Hoje a demanda não só existe, como o turista anda, está cada vez mais atento a qualidade nesse sentido. Isso é bom porque cria um mercado, gera renda, cria emprego. É benéfico para toda sociedade. Mas isso também demanda ampliação da qualidade.

A gastronomia é determinante para a escolha do destino pelo turista?
Se não para todos os turistas, mas para uma parcela significativa. E, digo mais: a tendência é que a gastronomia venha a se tornar ao longo do tempo cada vez mais um aspecto decisivo para escolha do turista. Se hoje a maioria dos turistas não escolhe pensando apenas na gastronomia e isso é levado em conta, mas não é o que determina a escolha. Mas a tendência é que no médio prazo, isso venha a determinar absolutamente a escolha. Defino para onde eu vou analisando também o nível gastronômico daquele local. O padrão dos serviços e as particularidades gastronômicas serão decisivas. Então para alguém que gosta de frutos do mar, naturalmente vai estar atraído para um destino como o Rio Grande do Norte, desde que tenha um serviço de qualidade. Sabemos que há, mas que tem também espaço para aprimoramento.

Mudará também o paradigma por essa sua previsão? Ou seja, mudará a forma como se divulgar o destino a partir da gastronomia como atrativo?
Também. Vamos imaginar e tomar como exemplo a Europa, onde o turismo tem papel acentuadamente importante na economia daqueles países. Lá a gastronomia é um dos principais fatores atrativos com todas as belezas que existem naturais e com toda história. São culturas, civilização. Imagine então no nosso caso, onde há tanto ainda a se descobrir. Isso porque as pesquisas no âmbito gastronômico na Europa vem se dando há mais tempo e funciona como atrativo para os turistas. No caso do Brasil, temos beleza natural muito acentuada e os outros elementos tendem a agregar valor a isso que temos muito acentuado. Falta um melhor trabalho para divulgação disso. E como você bem colocou, acredito eu que no futuro as peças de mídia necessitarão dar maior atenção ao aspecto gastronômico. E eu lhe digo que gastronomia não é só o prato ali acabado, a técnica. Você tem toda pesquisa, uma questão cultural. O turista quer saber como o prato foi inventado, de onde vem o insumo, qual a história do preparo e a relação com a história. Esse é um ponto onde precisamos avançar muito. Mesmo quem trabalha hoje na cozinha, muitas vezes desconhece esse passado. Desconhece as nossas heranças. A matriz portuguesa é responsável por introduzir a maioria das técnicas de hoje em dia.

Cria-se uma nova vertente para o profissionalismo do turismo? Ou seja, profissionalizar quem trabalha com o turismo gastronômico.
Exatamente. A gastronomia enquanto área do conhecimento está atrelada ao turismo. Eu sei porque sou editor de revista científica. A gastronomia é um campo do conhecimento multidisciplinar, estabelece diálogo com várias áreas do conhecimento, entre eles o turismo, mas nós também estabelecemos elos com a nutrição, antropologia, administração, história, sociologia. É uma área de conhecimento que tem essa facilidade para estabelecer diálogo com outras áreas do conhecimento. Sem dúvida nenhuma o estudo do fenômeno gastronômico por parte dos turismólogos dará mais elementos para o convencimento de quem estiver indeciso e até para conceber novos destinos turísticos. O turismólogo que dá atenção ao aspecto gastronômico tem uma chance muito maior de se tornar bem sucedido no que deseja. Seja fomentar evento, turismo direto, enquanto produto para o turismo. A gama de atuação dele é muito ampla.

Falta os gestores descobrirem o potencial do turismo gastronômico dos seus municípios?
Sem dúvida. E aí entra a importância da iniciativa privada, junto com os setores públicos, com atuação juntas. As empresas precisam se capacitar e criar condições para isso ocorrer. Os turismólogos a medida que fomentarem a nível local a gastronomia, isso vai tornar a experiência do visitante mais rica. Então, óbvio, conhecendo bem esse potencial, isso vai ter um potencial gerador do turismo extraordinário, mesmo a nível local. Isso potencializa o turismo dentro do próprio Estado ou entre os Estados vizinhos.

Bate volta
O grande destino do turismo gastronômico hoje no Brasil:  Minas Gerais é um dos pilares da nossa gastronomia. Diria que vai depender muito do interesse do turista, do tipo de paladar dele. Mas se gostar de frutos do mar , o Rio Grande do Norte é a grande escolha. Minas Gerais é uma culinária que tem elementos de todo Brasil, com exceção de frutos do mar. Temos um pouco da culinária do Nordeste, de São Paulo, do Rio. A cultura alimentar mineira é muito ampla.

Apostar em um destino para a gastronomia:  pergunta muito difícil, qualquer coisa que responsa estaria cometendo uma injustiça. Eu cito não o destino mais importante, mas um local, coincidentemente, onde estamos fazendo um trabalho de pesquisa, que é o santuário do Carás que fica em Minas Gerais. É um local de peregrinação e muito voltado também para o turismo ecológico.  Lá tem um templo religioso. Entretanto, descobriu-se que o local tinha uma grande riqueza gastronômica.

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