O Wynwood Art District, em Miami (EUA), ganhou fama depois que estrelas do grafite imprimiram sua arte em muros e galerias da região. Apesar das cores e formas, são obras fortes, muitas de cunho político. Durante a reportagem, deparamos com um grupo de artistas, entre eles o brasileiro Sipros, estampando um grande mural com a imagem de Donald Trump (como o Coringa do Batman), tentando silenciar a estátua da Liberdade.
Créditos: Leonardo Raposo
Mural do grafiteiro brasileiro Sipros em Wynwood Art District
Repleto de galerias, dá para sentir o dinamismo nos negócios que a arte propicia. Muitos grafiteiros são patrocinados por grandes empresários e o mix de produtos que as lojas oferecem vão de roupas a utensílios domésticos –tudo com o toque mágico do grafite, até no chão. Aliás, as calçadas de Wynwood estão cheias de mensagens.
Sipros disse que com as ameaças de deportação do candidato Trump, a comunidade latina de grafiteiros, vários ilegais, iniciou um movimento de protesto contra sua figura. Há uma estátua de Trump, do coletivo Indecline, no teto da galeria Harold e outras referências em pontos estratégicos das ruas. Além de Sipros, o grafite brasileiro está representado por feras como Os Gemeos, Kobra, Nunca, Speto, Nove Digitalorgânico e outros.
Créditos: Leonardo Raposo
Yoko e John Lennon grafitados por Eduardo Kobra
Revitalizado
Mas nem sempre foi assim. Há pouco tempo, Wynwood era um bairro perigoso, degradado e esquecido. “Tinha muito tráfico de drogas, viciados, nóias, bandidos, gangues”, afirma a taxista brasileira Lorena Rodrigues que, junto ao marido, trabalha há 20 anos em Miami. “Quando a polícia fazia batida lá, entrava em comboio, nunca uma viatura só”.
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Mural do brasileiro Nove
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A revitalização da área teve início em 2009 quando, na esteira do impacto com os primeiros grafites nos galpões abandonados, artistas consagrados começaram a expor seus trabalhos e abrir suas próprias galerias. O clima underground, avesso à Miami praiana, agradou a população que o considera o novo hipster da Flórida.
No mesmo passo, os vizinhos Miami Fashion District, síntese do luxo com marcas como Prada, Cartier, Hermès etc., e o Miami Design District, voltada para interiores, passam por processo de expansão. Este, com histórico similar a Wynwood, antes um bairro degradado e esquecido.
Wynwood Walls
Créditos: Leonardo Raposo
Wynwood Walls é uma área privada com pinturas de 30 artistas
No coração do conglomerado de arte urbana uma área cercada e monitorada expõe pinturas de 30 artistas –convidados– de várias partes do mundo. Trata-se do Wynwood Walls, passarela a céu aberto com portão de entrada e saída. Cada grafite traz uma plaquinha de identificação (obra e autor) e, logo na entrada, outra placa maior adverte: “Propriedade privada… proibido registro fotos/vídeos para fins comerciais sem autorização por escrito.”
Duas dicas para matar a sede e fome nessa altura da peregrinação. A duas quadras, está o Phanther Coffe (2390 NW 2nd Ave) com uma mesa externa que circunda a enorme árvore. Baristas descolados, sanduíches veganos, café, chope, obras de arte, boa música e clima leve. Parada e refúgio para os artistas em processo de instalação ou estudo. Mas é lá dentro do Wynwood Walls que fica o Wynwood Kitchen Bar.
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Portão de entrada do Wynwood Walls
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Portão de entrada do Wynwood Walls
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O restaurante, que criou cardápio eclético, foi feliz na integração com a paisagem ao redor. Do ambiente externo dá para ver os murais mas é no interior que se revela uma galeria de arte – com todos os requisitos. No corredor de espera para um dos vários banheiros unissex, fotos em pequenos quadros de famosos que já estiveram ou expuseram no labirinto.
Aos domingos, Winwood dorme e tudo fecha. Há quem prefira visitar o bairro neste dia, imerso em calmaria para depois dar um pulinho ao Design District.
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Interior do Wynwood Kitchen Bar
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Interior do Wynwood Kitchen Bar
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Área externa do Wynwood Kitchen Bar
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Interior do Wynwood Kitchen Bar
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Interior do Wynwood Kitchen Bar
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Interior do Wynwood Kitchen Bar
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Interior do Wynwood Kitchen Bar
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Área externa do Wynwood Kitchen Bar
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Interior do Wynwood Kitchen Bar
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Interior do Wynwood Kitchen Bar
Cercania
O espírito alternativo e curioso se estende para outras lojas na região que não tem relação direta com o grafite. Na 2511 NW 2nd Ave, um enorme gorila no teto de uma loja chama a atenção. Dentro da Plant the Future, vários vasos em formas de animais para uma infinidade de plantas. A designer Paloma Teppa e seu marido, Yair Marcoschamer, tentam fundir design, arte, arquitetura e natureza.
Créditos: Leonardo Raposo
Plant the Future, série de vasos em formas de animais para uma infinidade de plantas
Já na 2022 NW 1st Ct, uma galeria de arte automotiva enche os olhos dos aficionados pelo tema . Na Miami Supercar Rooms há carros raros de coleção que incluem um Rolls-Royce 1929, um Mercedes Gullwing 300 SL 1955 e um Shelby Supercar Ultimate Aero TT 2007. A casa oferece jantar na área ao ar livre –Miami Supercar Dining Experience– com direito a debates (sobre os automóveis) e ingredientes da região.
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Crédito da imagem: Leonardo Raposo
Miami Supercar Rooms tem em sua coleção modelos raros
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Miami Supercar Rooms tem em sua coleção modelos raros
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Programação
Os eventos pipocam em torno dos grafites. No segundo sábado de cada mês rolam caminhadas guiadas com vários roteiros (Second Saturday Art Walk). As ruas lotam, food trucks, Djs, pinturas iluminadas e galerias abertas até tarde. Quem prefere misturar arte e comida, há um tour (Miami Culinary Tours) que apresenta a versão cultural com paradas gastronômicas em vários endereços.
A comunidade artística ferve em expectativa para a Art Basel, que acontece na primeira semana de dezembro, durante a Miami Art Week. Para ter ideia, em 2015 foram mais de 20 diferentes festivais de arte espalhados pela cidade. Wynwood explode com intervenções artísticas, feiras e shows musicais. “Vem gente de todo o mundo”, diz a garçonete Lurdes, do Wynwood Kitchen Bar.
A maioria dos muros grafitados fica entre as ruas NW 25th e NW 26th.
Serviço
Wynwood Wall: NW 25th e NW 26th (facebook.com/WinwoodMiami)
Tour: wynwoodartwalk.com
Dica: uma boa opção de transporte são os hop on hop off ou Big Bus, aqueles ônibus com dois andares que circulam explicando os pontos turísticos. Além de ser mais barato que táxi, pode-se descer e subir em qualquer ponto –além de ficar mais informado sobre a história da cidade.
Por Leonardo Raposo, do blog Vila Madalena
