Turismo desbaratado – JN

Portugal encontra no turismo um dos seus setores com maior potencial de rentabilização. Temos excelentes recursos naturais, alguma monumentalidade, atrativos índices de segurança e um povo hospitaleiro. À partida, apresentamo-nos como um país recomendável para férias. Mas também convém assumir que somos ainda desastrados na gestão dos nossos cartões de visita.

Comecemos pelas viagens nas estradas de Portugal. Se prescindirmos do GPS, conduzir à procura de um destino pode ser uma verdadeira aventura. Um pouco por todo o país, a sinalética é uma desgraça. As placas são pouco informativas e não apresentam continuidade. Se optamos, por exemplo, por seguir uma determinada direção, duas placas à frente a informação haverá de ser descontinuada, deixando à deriva o condutor mais atento. E isso é muito exasperante. O turista estrangeiro que viaja no seu carro tem ainda que se confrontar com pórticos nas autoestradas, infringindo uma lei que ignora. Na verdade, este país rodoviário não é para aqueles que nos visitam oriundos de outras geografias.

Na hotelaria, há falhas inaceitáveis. Nas chamadas épocas altas, tudo entra rapidamente em colapso. Dentro de alguns dias, parte do país haverá de rumar ao Algarve, que este ano, ao nível da oferta hoteleira, teve um aumento de preços colossal. Poderá esse ser um sinal auspicioso, refletindo um país a sair da crise… Ou talvez não. Com os hotéis lotados, eis que começa outra saga. A da qualidade dos serviços. Não é aceitável que um quarto com ocupação de mais do que um dia fique por arrumar até meio da tarde, mas isso acontece, mesmo num hotel de cinco estrelas. Porque a opção é (quase) sempre fazer mais (trabalho) com menos (recursos). Resultado: hóspedes insatisfeitos. Também não será admissível contratar empregados inábeis no atendimento. Mas também isso acontece. Porque os cursos de formação rápida não fazem milagres e porque quem se dedica sazonalmente a este trabalho não sabe responder aos imprevistos que ocorrem com demasiada frequência.

Na gastronomia falha-se no mais elementar. Com uma cozinha excecional, o nosso país não é conhecido pela qualidade do que serve à mesa. As pessoas sentem que comem bem, mas os restaurantes não investem na apresentação dos pratos. Exigia-se mais requinte numa oferta gastronómica dificilmente igualável por qualquer outro país. E lá vamos desbaratando créditos também à mesa, justamente um dos locais que mais marcam os turistas.

O comércio também não será propriamente uma área carismática. Temos produtos de grande qualidade, mas não investimos na gestão das marcas. Falta-nos a arte de os apresentar com criatividade e, nalguns casos, com a sofisticação exigida. Quem percorre as ruas portuguesas dificilmente fica com o olhar preso a uma montra pela originalidade que esta exibe através dos produtos que ostenta. É pena.

Num destes dias, passei algumas horas num sítio que quer ser património Mundial da UNESCO. A beleza natural é evidente; a monumentalidade, inegável. Nos últimos meses fizeram-se obras que melhoraram os acessos e as zonas pedonais. Meia hora depois de aí chegarmos, começam os problemas. As duas esplanadas existentes têm um serviço deplorável. Empregados poucos habilitados, serviço de pastelaria praticamente inexistente, pão quase impróprio para consumo… Imprensa diária não há e acesso à Internet é quase um pedido obsceno naquele lugar de grande religiosidade. Eis aqui uma metáfora do nosso turismo. Falha-se naquilo que serão pormenores, mas são estes que fazem a diferença entre um sítio onde queremos estar ou um sítio aonde nunca mais voltamos.

Todas estas variáveis dependem da competência daqueles que encontram no turismo o seu modo de vida. São eles que devem zelar pela qualidade daquilo que oferecem, porque desse serviço decorrerá sempre o retorno dos turistas. No entanto, quem tutela o turismo tem aqui obrigações. Alguém tem que impor padrões mínimos de qualidade e isso deve ser uma responsabilidade daqueles a quem compete gerir o turismo de Portugal.

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