‘Meninos do dedo verde’ dão novas cores à cidade de São Paulo

Nik Sabey, 35 anos, sempre foi uma espécie de “menino do dedo verde”. Desde a infância, vivida na região da represa do Guarapiranga (zona sul da capital paulista), cultiva a paixão por bichos e plantas. “Aos 10 anos, tirava os ferrões dos marimbondos para empiná-los com linha de costura”, conta. E mantinha no quintal seu próprio jardim, no qual plantava bromélias, cactos, orquídeas, plantas carnívoras. Foi naquele tempo que surgiu o embrião do que é hoje o Novas Árvores Por Aí, iniciativa de plantio de árvores pela cidade de São Paulo encabeçado por ele.

A pulsão pela proximidade com a natureza sofreu um revés quando ele tinha 14 anos. Com a separação dos pais, se viu de repente em meio a outra selva, a de pedra, confinado em um apartamento no bairro de Higienópolis. Mas, em algum canto de sua personalidade, a despeito das pressões do cinza reinante – e da necessidade de se adequar às demandas do ambiente mais urbano –, ele manteve viva a pulsão pela semeadura.

Esse canto emocional ganhou um representante físico, a varanda do apartamento. Ali, passou a colecionar vasos de plantas, mas com a impressão de que não passariam de um hobby em sua vida. Afinal, os colegas se mobilizavam para o vestibular e para as possibilidades de futuras carreiras rentáveis. Nik se rendeu ao sistema e decidiu prestar administração de empresas.

“À época, ciente da minha vocação nata para as coisas da natureza, meu pai ficou inconsolável com a minha escolha”, lembra. “Ao contrário dos outros pais, que em geral querem que os filhos optem por profissões que deem mais dinheiro, ele queria que eu fizesse biologia ou oceanografia.”

Formado em administração, ele enveredou pelo mundo da publicidade e passou a trabalhar nas áreas comerciais de veículos de mídia. O “dedo verde”, no entanto, não parava de “coçar”. “Eu me sentia cada vez mais deslocado e incomodado”, afirma. Um peixe fora d´água, por assim dizer.

Em 2007, casou-se com a advogada Pamela Rassam, hoje com 34 anos, e foram morar na Chácara Flora, zona sul da cidade. Ele não havia abandonado as varandas dos apartamentos. Pelo contrário. E foram elas que o impulsionaram para o passo que mudaria a sua vida. Como costumava plantar mudas de árvores nos vasos, elas, obviamente, adquiriam em determinado momento tamanhos que pediam algo mais que uma sacada como lar.

Créditos: Reprodução/Facebook/Novas Árvores por Aí

O projeto Novas Árvores por Aí traz mais verde para o cinza de São Paulo

No começo, Nik começou a doar para os amigos que tinham sítios as que não cabiam mais em casa. Mas só isso não bastava. Certo dia, resolveu sair pelas ruas de São Paulo e plantar nas calçadas algumas das árvores que havia cultivado. “Ficava receoso se aquilo era permitido ou pareceria loucura, então geralmente saía no final do dia, quase à noite, meio escondido, para fazer os plantios”, afirma.

Mas aquela atividade quase clandestina ainda não era o bastante. Em 2012, resolveu criar no Facebook uma página para compartilhar a iniciativa. “Queria saber como as pessoas iriam reagir, se eu era doido mesmo, se mais alguém toparia participar de alguma forma.”

Passou, então, a postar fotos das árvores que plantava. E, pouco a pouco, descobriu que havia todo um universo de outros “meninos e meninas do dedo verde” que, em grupos ou isoladamente, em finais de tarde ou em manhãs, na medida do possível, também agiam para romper as barreiras de concreto da metrópole.

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Em 2015, conheceu um coletivo de Bauru, o Fruto Urbano. Com ele, empreendeu sua primeira saída em grupo. “Em mais de 50 pessoas, plantamos cerca de 60 árvores na Vila Leopoldina”, conta. Durante uma dessas empreitadas, topou com o professor Diego Lahóz, que já tocava um projeto chamado Flores No Cimento e também saía pela cidade, só que criando canteiros de flores em lugares inusitados, acondicionando as espécies em garrafas PET e pendurando-as em postes ou alocando-as em cantos de calçadas.

Créditos: Reprodução/Facebook/Andréa Tolaini

Quem fica parado é poste: o projeto Flores No Cimento está sempre em busca de cantinhos para colorir

Sabey e Lahóz juntaram forças, então, para dar cara nova a trechos do espaço urbano. Realizaram, por exemplo, em 2016, uma intervenção “verde” em uma praça em frente ao Armazém da Cidade, na rua Medeiros de Albuquerque, Vila Madalena.

O Novas Árvores por Aí cresceu a ponto de atrair a atenção de organizações e instituições, as quais acenavam para Nik Sabey inclusive com possibilidades de ganho financeiro. O toque do dedo verde não era mais apenas um hobby. Em 2016, o administrador largou a publicidade. Seu último emprego na área foi no departamento comercial da Folha de S.Paulo.

Hoje, organiza eventos e cursos de arborização urbana até com a prefeitura de São Paulo. E atua em projetos grandes, como em plantios de árvores no Parque Villa Lobos e no largo da Batata, em Pinheiros.

E, “pra não dizer que não falei das flores”, Diego Lahóz é seu parceiro em muitos desses trabalhos, botando a mão na terra ou transmitindo seu conhecimento, como ao ministrar oficinas de plantio de flores para crianças.

Sobre Nik Sabey, aliás, tudo o que aprendeu sobre o verde da Terra foi como autodidata. Algo que começou lá na infância, no quintal de sua casa no Guarapiranga.

Há dez meses, ele é pai de dois gêmeos, um menino e uma menina. Existem ocasiões em que os pequenos o acompanham nas saídas para os plantios. Pode ser o indicativo de que novos dedos verdes possam germinar na família – e uma esperança de que a selva paulistana continue trocando de cor nas próximas gerações.

Curadoria: engenheiro Bernardo Gradin, especialista em soluções sustentáveis.

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