Férias no paraíso socialista? Coreia do Norte tenta seduzir turistas

Se voc est procurando um lugar extico para passar o vero e no se incomoda com frias que venham acompanhadas de dose pesada de propaganda socialista e culto ao lder, a Coreia do Norte acredita ser o lugar perfeito para voc.

Ao final de uma drstica proibio que proibiu o acesso de virtualmente todos os estrangeiros ao pas por seis meses devido ao medo de que eles pudessem difundir o vrus do ebola – a despeito do fato de que o nmero de casos de ebola registrados na sia zero -, a Coreia do Norte est uma vez mais determinada a exibir seu “conto de fadas socialista” aos turistas.

O foco no turismo conta com as bnos pessoais do lder Kim Jong Un e, como comum no pas, as autoridades estabeleceram metas grandiosas em seu esforo por satisfazer o lder.

Cerca de 100 mil turistas visitaram a Coreia do Norte no ano passado, a maioria absoluta dos quais da vizinha China.

Kim Sang Hak, economista snior na influente Academia de Cincias Sociais, disse Associated Press que a Coreia do Norte espera que o nmero de turistas cresa em 10 vezes at 2017 e que atinja os dois milhes ao ano em 2020.

O interesse de Pyongyang em atrair turistas pode parecer irnico ou at contraditrio, para um pas que tomou medidas extremas a fim de se resguardar contra o resto do mundo.

Mas Kim diz que a campanha, formalmente endossada por Kim Jong Un em maro de 2013, vista tanto como uma potencial fonte de receita quanto como maneira de rebater os esteretipos sobre o pas – uma terra faminta, retrgrada e incansavelmente sombria.

“O turismo pode produzir muito lucro com relao ao investimento requerido, e por isso que o nosso pas est dedicando prioridade a ele”, disse Kim em recente entrevista em Pyongyang, acrescentando que, alm de belas montanhas, praias desertas e uma lista aparentemente interminvel de monumentos e museus, a Coreia do Norte tem outra carta na manga: o fato de que simplesmente diferente de qualquer outro lugar do planeta.

“Muita gente em pases estrangeiros pensa de maneira errada sobre o nosso pas”, disse Kim, descartando crticas ao histrico norte-coreano de direitos humanos. “Ainda que as sanes econmicas dos imperialistas norte-americanos estejam crescendo, estamos desenvolvendo nossa economia. E acredito que muita gente sinta curiosidade sobre o nosso pas”.

Adversrios da Coreia do Norte no Ocidente dizem que os turistas que vo ao pas ajudam a encher os cofres de um regime renegado e prejudicam os esforos para isolar e pressionar Pyongyang a abandonar suas armas nucleares e melhorar seu desempenho quanto aos direitos humanos. Por motivos de segurana, o Departamento de Estado norte-americano recomenda fortemente aos cidados dos Estados Unidos no viajar Coreia do Norte.

Nada disso impediu que o nmero de turistas norte-americanos e europeus crescesse gradualmente, e essas preocupaes no so to fortes nos pases em que a Coreia do Norte se dedica mais a atrair visitantes – China, Rssia e o Sudeste Asitico.

“Cerca de 80% dos turistas que nos visitam vm dos pases vizinhos”, disse Kim Young Il, um funcionrio do departamento estatal de turismo norte-coreano. ” normal desenvolver o turismo em sua regio, e por isso nosso pas nada tem de excepcional, quanto a isso. Mas tambm estamos nos expandindo junto aos pases europeus”.

Embora a qualidade de vida da Coreia do Norte no tenha melhorado muito, em termos gerais, nos ltimos anos, os esforos para construir atraes para os visitantes e a infraestrutura necessria a receb-los j esto comeando a mudar a face da capital e algumas zonas especiais de turismo, estabelecidas recentemente em regies dispersas do pas.

Em meio ao contexto em geral espartano de seu ambiente, essas atraes, que tambm so usadas pelos norte-coreanos comuns por preos muito mais baixos, podem ser impressionantes.

Em Pyongyang, alguns dos lugares de turismo mais populares incluem um campo de tiro de alta tecnologia no qual visitantes podem caar tigres de animao usando armas laser, ou caar faises reais com balas de verdade, e cozinh-los e com-los no local. Tambm h um novo centro de equitao, um grande parque aqutico e “feiras de diverso” reformuladas agora oferecendo montanhas russas, barracas de comida e um teatro 5-D. Depois de um ano de construo em ritmo fervilhante, o novo terminal internacional do aeroporto de Pyongyang pode ser inaugurado j no ms que vem.

Mas fora da capital e de suas obras para turistas, nas regies onde verbas, eletricidade e acomodaes adequadas so muito mais escassas, o desenvolvimento se concentrou na rea em torno do Monte Kumgang e de Wonsan, um porto na costa leste.

Um complexo de esqui de luxo foi inaugurado recentemente logo ao lado de Wonsan e alguns restaurantes novos surgiram na regio da praia da cidade, popular junto aos moradores e turistas para natao, frutos do mar e churrascos ao ar livre.

Mas como tudo mais, a Coreia do Norte est tratando o turismo ” sua maneira”.

Turistas de qualquer nacionalidade devem esperar constante vigilncia por guias sempre atentos e muitas visitas aos hospitais, escolas e fazendas, alm de eventos encenados com o objetivo de impressionar e promover a vertente de socialismo autoritrio que nica de Pyongyang. Como todos os demais visitantes Coreia do Norte, eles tero pouqussimas oportunidades de interagir com as pessoas comuns ou observar seu estilo de vida cotidiano.

Mas os turistas tambm devem esperar repercusses severas caso saiam da linha.

Excurses de sul-coreanos ao Monte Kumgang foram muito populares durante uma dcada, at 2008, quando foram suspensas depois que uma dona de casa sul-coreana que entrou sem saber em uma rea restrita foi morta a tiros por um segurana norte-coreano. Mais recentemente, um turista norte-americano que impulsivamente deixou uma bblia em uma casa noturna na provncia passou seis meses na cadeia, at que o Pentgono enviasse um avio para retir-lo de Pyongyang.

Traduo de PAULO MIGLIACCI

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