Espaços de arte chegam a 10 no centro de SP e entram no roteiro de visitação

Intrigada com as pouco ortodoxas obras de arte contempornea exibidas no Piv, centro cultural inaugurado h dois anos no Copan, uma antiga moradora do edifcio projetado por Oscar Niemeyer quis saber aps visitar uma exposio: “Quando vo mostrar pintura a leo?”

A diretora artstica e idealizadora do espao, Fernanda Brenner, 28, respondeu que algum dia exibiriam, mas no sabia se a vizinha iria gostar.

“Expliquei que uma coisa no exclui a outra, que algumas maluquices da arte conceitual no eliminavam a pintura a leo, por exemplo. Eu pinto”, lembra a diretora. Em seu bairro, a moradora do Copan no est sozinha nas descobertas de novas formas de expresso artstica.

Tamanha profuso desses locais acabou gerando um roteiro de visitao, o Circuito Centro. Dez endereos em um raio de 5 km integram o mapeamento: Piv, Estdio Lmina, Aurora, Casa do Povo, Casa Juisi + Phosphorus, Galeria Mezanino, COMO Clube, Casa Nexo, Paperbox Lab e Matilha Cultural.

Prdios dos anos 30 e 40 da regio tambm esto abrigando diferentes iniciativas ligadas s artes, caso do Farol, prximo ao vale do Anhangaba.

No condomnio, h seis meses funciona o estdio de design Lquen, um “estudo de experincias”, como definem seus integrantes, que mistura tambm arte e fotografia, e o Eduqativo, instituto da conhecida galeria de arte urbana Choque Cultural.

“O centro democrtico e um dos poucos locais da cidade em que realmente a gente vive uma experincia cosmopolita. Aqui, temos toda a infraestrutura, metrs e as lojas de materiais artsticos”, afirma Fernanda, do Piv.

Para Gabriel Gutierrez, um dos membros do Aurora, ateli e espao expositivo na rua de mesmo nome, a heterogeneidade do centro, sua dinmica e tambm um pouco de fetiche ajudaram essa nova leva de artistas a se instalarem na regio. “Para qualquer artista timo estar perto da diversidade”, diz Gabriel.

A curadora Maria Montero s pisava no centro quando precisava ir ao Poupatempo. Seis meses aps largar seu trabalho na galeria Luciana Brito e abrir o espao de “experimentao artstica” Phosphorus, em 2011, ela se mudou para o bairro.

“Ns, classe mdia, temos uma vida muito mimada. E aqui no centro ficamos mais perto da realidade. No fcil sair do trabalho ou de casa e se deparar com tanta gente dormindo na rua”, afirma Maria.

“Por isso, quase todos ns que viemos para c temos uma preocupao em saber como atuar em relao ‘gentrificao’ [termo derivado do ingls que d nome ao processo pelo qual a alta dos preos de imveis e servios expulsa parte da populao pobre de um local].”

O imvel de trs andares prximo praa da S onde funciona o Phosphorus tambm abriga a Casa Juisi. O espao conta com um acervo com mais de 30 mil peas de vesturio e promove residncias artsticas que dialogam com a moda.

“Antes, parecia que s o que dava certo no centro era estacionamento, restaurante para almoo. Hoje, agradecemos a coragem de ter vindo para c quando todo mundo dizia: ‘L abandonado, no tem nada'”, diz Simone Pokropp, scia da Casa Juisi.

Ela no foi a nica a ouvir comentrios assustados sobre sua empreitada na regio conhecida, entre outras coisas, pelo grande nmero de sem-teto e usurios de crack vagando pelas ruas.

“A primeira coisa que a gente escuta de algum que quer visitar : ‘Tem lugar para estacionar o carro?’. E depois querem saber se d para andar por aqui, se perigoso”, conta o fotgrafo Felipe Morozini, um dos integrantes do Lquen.

“Isso acontece porque as pessoas no sabem lidar com a cidade, elas ficam isoladas em bairros onde no se caminha. E no centro a gente vive o centro.”

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