Turismo de massa no Vietnã pode se tornar ameaça à maior …

O projeto para construir um teleférico que atraia o turismo de massa na caverna de Soon Dong, situada no centro do Vietnã e considerada uma das maiores do mundo, deu início a uma guerra com os ecologistas.

As autoridades da província de Quang Binh deram aval em 2014 para que a empresa Sun Group começasse a construir a infraestrutura, que transportará cerca de mil turistas por hora em um percurso de 10,6 quilômetros e passará principalmente pelo Parque Nacional de Phong Nha-Ke Bang.

A obra penetraria mais de meio quilômetro dentro de Soo Dong, que abriga uma floresta virgem, 150 grutas e diversos rios subterrâneos.

A principal cavidade da caverna tem cinco quilômetros de comprimento, 200 metros de largura e 150 metros de altura, e foi descoberta em 1991 por um aldeão chamado Ho Khanh, mas a notícia não teve repercussão até uma expedição de espeleólogos britânicos redescobrir o local em 2009.

Desde que foi parcialmente aberta para o turismo, em fevereiro de 2014, foram concedidas apenas 250 permissões para visitar a caverna, em um percurso de seis dias e com o máximo de 10 integrantes por grupo. A visitação exige excelente condicionamento físico e custa US$ 3 mil (R$ 7,7 mil).

O panorama atual é muito diferente do novo, de mil visitantes por hora a um preço aproximado de US$ 20 (R$ 51), que será conseguido com a nova infraestrutura, segundo o anúncio do prefeito da cidade de Quang Binh, Nguyen Huu Hoai, em entrevista coletiva.

Com uma onda de protestos dentro e fora do país, o governo central paralisou o projeto em um primeiro momento e, dias depois, anunciou um estudo de viabilidade e de impacto ambiental antes de tomar uma decisão final.

A Unesco, que em 2003 considerou como Patrimônio da Humanidade todo o entorno das cavernas de Phong Nha-Ke Bang, onde fica Soon Dong, pediu explicações e iniciou uma investigação por conta própria para avaliar o impacto da infraestrutura.

“Dependendo do que nossos especialistas falarem, diremos se o Vietnã deve ou não continuar o projeto”, afirmou Duong Bich Hanh, representante da Unesco no país, ao jornal “Thanh Nien”.

Pamela McElwee, professora de Ecologia Humana da Universidade de Rutgers e especializada em Vietnã, considerou que o plano é “mal pensado” por seu alto custo, tanto econômico como ecológico.

“Parece que o Vietnã sente que sua beleza natural e suas paisagens não são suficientes e devem ser ‘melhoradas’ com teleféricos, cassinos ou karaokês barulhentos. É uma pena”, disse.

Os protestos pela internet, com cerca de 100 mil assinaturas contra do projeto recolhidas dentro e fora do Vietnã pelo ativista Bao Nguyen, surpreenderam as autoridades, pouco acostumadas a terem seus planos contestados.

Os governantes locais propuseram o projeto como uma forma de revigorar o turismo e a economia da província de Quang Binh, uma das mais pobres do país e conhecida por ser uma das regiões que mais sofreram durante a Guerra do Vietnã.

Além da preocupação ambiental, alguns especialistas alertaram que o parque nacional inteiro se situa sobre duas falhas geológicas, o que poderia colocar em perigo a estabilidade das 30 torres necessárias para sustentar o complexo.

Esse temor foi ignorado pelo prefeito de Quang Binh, um dos maiores defensores do teleférico, que insiste que não haverá “nenhum impacto sobre a beleza natural das cavernas ou sobre a integridade da estrutura”, e ressaltou que também não ocorrerá nenhum problema de segurança para os visitantes.

A empresa responsável pelo projeto, Sun Group, já realizou um trabalho similar nas montanhas de Ba Na, também no centro do país, e deve inaugurar em setembro um teleférico que vai até o cume do monte Fan Si Pan, o mais alto do Vietnã, com 3.142 metros, outro polêmico projeto.


EFE

 

 

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