Companhias portuguesas apostam no enoturismo

Rita Soares, da Herdade da Malhadinha Nova: hotel boutique com 10 quartos

Mais tardiamente do que outros países europeus, como França e Itália, Portugal começou a desenvolver sua vocação para o enoturismo só no século XXI. O potencial econômico da atividade, porém, atrai até grandes grupos empresariais, como o Grupo Amorim, uma das maiores multinacionais portuguesas, que, em 2005 inaugurou o Hotel Rural Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, o primeiro destino de hospedagem em vinícolas do país.

Antiga propriedade da Casa Real Portuguesa, a Quinta Nova, no Vale do Douro, produz vinho do Porto desde 1725 e está nas mãos da família Amorim desde 1999. O grupo, líder mundial na produção de cortiça, tem um portfólio variado, que vai dos têxteis à energia. A ligação da família com o vinho deu-se por meio do fornecimento internacional de rolhas – daí surgiu o desejo de apostar numa marca própria.

O hotel tem 11 apartamentos e foi adaptado na casa senhorial, que era utilizada pela família. O restaurante Conceitus, também aberto para não-hóspedes, é mais uma atração do pacote turístico que inclui ainda um museu dedicado à história do vinho do Porto.

Atualmente, a empresa produz 15 rótulos, entre vinho do Porto, tinto, branco e rosé, num total de 500 mil garrafas por ano. O faturamento do enoturismo e do vinho em 2017 foi de EUR 4 milhões – sendo EUR 3 milhões provenientes do vinho. “O que é uma migalha em termos do faturamento do grupo”, diz Pedro Canedo, diretor comercial responsável pela exportação. Só a matéria prima natural (cortiça e uva) produzida somou EUR 720 milhões no ano passado.

Em termos de vinhos a ideia é não ultrapassar 700 mil garrafas ao ano, afirma Canedo. “Não queremos ser um produtor de volume”. Os rótulos da Quinta Nova são exportados para 32 países – o Brasil representa entre 15% e 20% dessas vendas. Dar mais visibilidade para a Quinta Nova é o que traz a empresa pela primeira vez ao evento Vinhos de Portugal, que ocorre de 1 a 3 de junho no Casa Shopping, no Rio, e de 8 a 10 de junho no JK Iguatemi, em São Paulo.

O encontro terá um Mercado de Vinhos com 80 produtores no Rio e 85 em São Paulo – desses, 28 virão pela primeira vez.

É o caso da Herdade da Malhadinha Nova, que também é familiar e se dedica ao enoturismo, mas na região do Alentejo. Rita Soares, o marido João e o cunhado Paulo são distribuidores e lojistas de vinhos: possuem 20 lojas no Algarve, no sul de Portugal. O sonho de ter um vinho próprio os levou a comprar uma propriedade de 1926 em ruínas, totalmente abandonada, sem vinhas nem adega.

De 2001 para cá plantaram 75 hectares de vinhas nos 450 hectares de área total. O Herdade da Malhadinha Nova Country House Spa foi aberto há dez anos. É um hotel boutique com dez quartos, que segue o estilo arquitetônico alentejano. “Estamos no meio do nada. É uma zona muito tranquila, muito plana, selvagem e com bastante tradição. Por isso, quisemos fazer um projeto hoteleiro que vai além da vinha. E se conecta com a natureza, a gastronomia e a herança cultural da região”, diz Rita.

A produção vinícola soma 350 mil garrafas/ano e se divide em duas marcas principais – Malhadinha e Monte da Peceguina -, mas há também edições especiais com monocastas e estágio mais longo em barris de carvalho. Os rótulos com desenhos infantis feitos pelas crianças da família são um dos destaques da marca.

Os vinhos representam 80% do faturamento de EUR 3,5 milhões previsto para 2018. A colheita é noturna e manual, a pisa a pé e tudo é muito artesanal. Por conta disso, não são vinhos baratos. O Monte da Peceguina custa R$ 150 e o Marias da Malhadinha, R$ 750, na Importadora Barrinhas.

Rita vem ao evento Vinhos de Portugal para conhecer melhor o mercado brasileiro, ainda pouco representativo na exportação, que engloba 25 países e tem a Suíça em primeiro lugar. “Sabemos que o Brasil tem um potencial brutal, que tem havido um contínuo crescimento do conhecimento do vinho e queremos, de alguma forma, fazer parte dessa história. Vendemos pouco aí e há muito por fazer”, disse ela, por telefone, antes de embarcar para o Rio.

O evento Vinhos de Portugal é uma realização do jornal O Globo, do jornal português Público, do Valor e da revista Época, com parceria da vinhos de Portugal; patrocínio do CasaShopping, Pão de Açúcar e Construtora Canopus; apoio da Agência Regional de Promoção Turística Centro de Portugal, do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, das Comissões de Vinhos do Alentejo e do Dão, da Universidade de Coimbra, da TAP, da AGO Mercedes-Benz e de Volvo AB Gotland; apoio educacional do Senac SP e apoio institucional do Experimenta Portugal.

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