Vinhos com história que “nasceram” para os mercados internacionais

As duas quintas localizam-se na confluência dos rios Ceira e Douro, no coração da mais antiga Região Demarcada do Mundo. Ali, ondepodsemos encontrar marcos pombalinos da primeira demarcação (1756), produzem-se os vinhos ‘Bulas’

É num ambiente de excelência e grande beleza natural, que as videiras das quintas da Foz Ceira e da Costa de Baixo produzem uvas para Vinho do Porto e Douro DOC, aliando a qualidade ao património. Os vinhos aqui produzidos combinam harmoniosamente tradição e inovação.
Estamos na Bulas Family Estates uma empresa familiar. A quinta da Costa de Baixo é da família Bulas Cruz desde da Segunda Guerra Mundial, adquirida pelo José Bulas Cruz, reconhecido médico e paladino do desenvolvimento da região do Douro, representante da vitivinicultura portuguesa durante um quarto de século na camara corporativa e na OIV e pai do atual proprietário, José Afonso Bulas Cruz, que tem desenvolvido e ampliado os vinhedos e quinta desde os anos 80, conciliando a carreira universitária com a vitivinicultura.
Ali, Isabel Vieira e a enóloga Joana Duarte falam-nos projecto Bulas. Na verdade e desde sempre se produziram vinhos na Quinta da Costa de Baixo e Quinta da Foz Ceira.
A comercialização dos vinhos, primeiro devido ao condicionamento do comércio do vinho do Porto com venda às empresas exportadores e desde os anos oitenta também com marca própria “Quinta da Costa de Baixo” a falta de estrutura de comercialização profissional não permitia a criação de mais valias que potenciassem o projecto. Daí o apostar num novo projecto de incorporando novas valências de marketing e apostado numa marca nova “BULAS” e sobretudo na exportação.
Com a nova marca e reposicionamento no mercado criou-se também uma nova estrutura capaz de trabalhar os novos mercados e produzir os vinhos para os mesmos.
Aqui entram a Isabel Vieira e a Joana Duarte responsáveis pela parte comercial e técnica da Bulas. A Bulas como marca nova teve de partir do zero e criar novos mercados e clientes no exterior o que obrigou a um grande esforço e presença no estrangeiro .Fruto de grandes investimentos quer na vinha, quer nas instalações, adega e na quinta virada para o enoturismo, a questão que se coloca nesta reportagem, é como se começa logo a exportar vinhos ou seja se “nasce” na exportação. A resposta é que o potencial dos vinhos e os vinhos do Porto velhos já existiam. Só com muita qualidade e muito trabalho foi possível, dizem a enóloga Joana Duarte e de Isabel Vieira. “Começamos pela Alemanha… depois foi o ir a feiras, bater ‘porta a porta’ concursos internacionais, o ser medalhado e; passo a passo fizemos o nosso próprio mercado, já que qualidade havia, mas ser conhecido num competitivo mercado internacional, não é fácil”.
Salienta a Joana Duarte: “destacamo-nos desde cedo pela qualidade e isso foi o nosso grande trunfo”. A marca foi construída, as medalhas de platina ouro e prata vão sendo ganhas, pela excelente qualidade dos vinhos e este projecto familiar é acarinhado com muito amor.
A maior produção é de vinho generoso 60% contra 40% do vinho de mesa num total de 100 mil garrafas, mas com crescimento à vista.
A Bulas foi crescendo pela Europa, onde está nos mais variados países (Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Holanda); depois fora da europa: Singapura, China, Japão, chegou ao Canadá, EUA. “Estamos a produzir na nossa previsão de vendas, mas todos os anos estamos a crescer e curiosamente”, saliente Isabel Vieira, “começamos a sentir a pressão dos nossos clientes, que visitam Portugal, onde se podiam encontrar os vinhos em Portugal e sentimos então a necessidade de colocar os nossos vinhos no mercado nacional. Ou seja a Bulas começa pelo mercado externo e há dois anos começamos a fazer o mercado interno e tivemos a mesma aceitação com vendas na ordem dos 45%”.
O vinho Bulas está hoje nos restaurantes premium e lojas dedicadas, o que não foi fácil para uma marca, que entre nós não era conhecida, como salienta Isabel Vieira!.
O crescimento a nível do enoturismo tem se registado para grupos reservados e grupos com poucas pessoas, clientes por assim dizer “especiais” e não para um turismo massificado. O ambiente familiar é uma constante e esta vertente vai crescendo sustentadamente.
Este projecto da Bulas, garante, “tem muito para dar e muito para crescer”. A Bulas produz as suas uvas em condições edafoclimaticas num local que garantem a mais alta classificação potencial de qualidade da região (letra A).
De facto, ano após ano, as vinhas velhas, compostas por uma variedade enorme de castas autóctones da região, produzem uvas de excelência permitindo obter vinhos concentrados, complexos, de elevada qualidade. As vinhas são tratadas, tentando manter no local o equilíbrio e resiliência das plantas em harmonia com o ambiente envolvente, garantindo o cumprimento de todas as regras ambientais.
A produção dos vinhos é feita em pequenos lotes, que procuram captar as especificidades das diversas vinhas e castas. Aliando as técnicas tradicionais aos mais recentes conhecimentos e inovações, a Bulas pretende garantir um contínuo acréscimo de qualidade e sustentabilidade futura.
A família Bulas Cruz quer, mantendo a tradição e salvaguardando a cultura e património da região, produzir, de uma forma sustentável, vinhos de extrema qualidade captando a essência do Douro.

Emanuel Pinto é o responsável pelas vinhas…
Paisagem de um reino maravilhoso como descreveu Miguel Torga pseudónimo do médico Adolfo Coelho da Rocha que nasceu em S. Martinho da Anta, cuja aldeia passamos até chegar à Quinta da Costa de Baixo em Gouvinhas onde se localizam grande parte das vinhas da Bulas .
Nada melhor do que iniciar a visita por este terroir vinhateiro, que ter como cicerone quem nasceu nestas encostas e seguindo as pisadas da família. Trata com dedicação e é responsável pelas vinhas da Bulas .
Iniciamos a descida pelos socalcos desde a quinta e adega, até às margens dos rios Ceira e Douro, no coração da mais antiga Região Demarcada do Mundo, cuja beleza natural foi classificada como Património Mundial pela Unesco. Lá ao fundo serpenteia a linha de caminho de ferro a Linha do Douro que o escritor Eça de Queirós tão bem retratou na viagem de regresso de Paris de Jacinto a Tormes no “Cidade e as Serras”.
Seu nome completo Jesué Emanuel da Silva Pinto que nos refere “como o meu nome é por vezes de difícil dição sou tratado por Emanuel, nasci nesta quinta onde já meus pais trabalhavam. São 40 hectares de vinha contígua, e a Bulas tem mais vinhas no vale do Pinhão. Iniciámos as podas há pouco tempo, há sempre trabalho na vinha até à vindima, cujo vindima é manual e o transporte às ‘costas’ dos socalcos até às carrinhas que percorrem os arruamentos de terra batida.
Se reparar nas vinhas, no sistema de poda que usamos, a nossa aposta é na qualidade e não na quantidade de uvas daí ver que não temos talões compridos. Temos videiras antigas, vinhas velhas e videiras novas, (sobretudo Touriga Nacional e Franca) em novas plantações que foram sendo feitas. No processo de produção tenta-se intervir o menos possível com a natureza, tratamentos fitossanitários só em “caso de necessidade”.
Atingindo a quota do rio, chegamos junto à linha férrea, em frente casa e armazém que foi propriedade da Real Companhia Velha e de outros antes de ser da família Bulas Cruz. O Douro espraia-se nas suas águas calmas retidas pela barragem de Bagauste – Régua que fica uns quilómetros rio abaixo.

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