Uma crônica sobre a Viação Cometa, eleita a melhor empresa de ônibus

Finzinho dos anos 70. Eu chegava correndo antiga rodoviria de So Paulo, na praa Jlio Prestes, no centro da cidade. Depois de ter dado aulas o dia todo, passava rapidamente em casa para tomar um banho e apanhar algo que pudesse comer no caminho. E l ia eu para a plataforma da qual, s 23h30, zarpava o leito da Cometa para So Jos do Rio Preto, aonde eu chegava um pouco antes das 6h da manh, para trabalhar das 7h at o fim do dia.

O nibus saa da rodoviria e, para evitar sacolejos e no fazer muito barulho, ia em baixa velocidade at entrar na rodovia, onde o motorista finalmente fazia trabalhar o potente motor Scania, que movia a impecvel carroaria “Dinossauro” (que depois se transformaria em “Flecha Azul”), azul-clara e bege, feita de duralumnio, exclusividade dos imponentes nibus da Cometa. A esta altura, j tinha entrado em ao uma sempre eficiente rodomoa, que distribua a cada passageiro algo para beber e um pacote do delicioso biscoito doce Boa Tarde (da Piraqu), que, salvo engano, lamentavelmente no mais produzido.

O biscoito caa como um blsamo complementar do meu parco “jantar” nesse dia. Depois disso, eu me acomodava na poltrona-leito, na esperana de dormir e s acordar quando, 438 quilmetros depois, o nibus estivesse entrando em Rio Preto —pela avenida Alberto Andal, caminho que ele faz at hoje.

Durante mais de duas dcadas, trabalhei na cidade de So Paulo e em diversas unidades do interior paulista de um grande curso pr-vestibular. A Cometa me acompanhou em algumas delas, sobretudo em So Jos do Rio Preto, Sorocaba e Itapetininga. No inverno, na volta da querida Itapetininga, no nibus que saa s 22h40 (via Raposo Tavares), era reconfortante observar a percia e a tranquilidade dos motoristas na regio de So Roque, onde normalmente a neblina no permitia que se visse um palmo diante do nariz. E l ia o soberano Cometo, numa tocada suave, segura, no compasso do Bolero de Ravel.

Mas no foi nas viagens para trabalhar que a Cometa entrou na minha vida. Desde criana, quando eu passava pelo centro e via a pequena agncia da empresa que havia por l, a minha imaginao voava a bordo dos seus nibus, que acabaram me levando algumas vezes ao Rio, a Belo Horizonte, a Curitiba.

At hoje, quando estou numa rodovia, sinto-me seguro ao ver um Cometo, que, muitas vezes, age como guia confivel na hora de ultrapassar ou quando tento “ver” o que acontece adiante. Operao concluda, a troca de um leve toque na buzina entre mim e o motorista da empresa sempre algo que me emociona. A Cometa mora no meu corao. isso.

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