‘Se tripulação do país não se entender, Brasil se perderá na viagem’, diz presidente da TAM

“Se a tripulao do Brasil no se entender, o pas corre o risco de se perder em pleno voo”, diz a presidente da TAM S.A, Claudia Sender.

Para a executiva, o pas est pagando um preo muito alto pela inter-relao entre as crises poltica e econmica. “O mercado mundial est sendo mais duro do que precisaria com nossa moeda, no porque ache que o Brasil v ficar insolvente, mas por insegurana sobre o futuro.”

Uma das principais patrocinadoras da Olimpada e da Paralimpada do Rio, no prximo ano, a TAM sente o reflexo da retrao econmica tambm em relao aos Jogos: a demanda pelos pacotes de viagens, principalmente os comprados por empresas, est 30% abaixo do previsto.

A empresa postergou os planos para operar, j no prximo ano, um centro de conexes —o chamado hub— no Nordeste.

O anncio da cidade escolhida para o investimento, que seria feito neste ano, foi adiado para 2016, porque no h segurana jurdica: os modelos de operao dos aeroportos e os limites de participao da Infraero ainda no esto definidos.

Como os avies para essa operao j estavam contratados, a empresa estuda outras rotas para utiliz-los.

Uma delas ser o voo entre So Paulo e Johannesburgo (frica do Sul), mas parte desse investimento pode ser direcionado para outro dos sete pases em que opera.

Pressionada pela queda de demanda no mercado nacional e pela competio com empresas estrangeiras favorecidas pela alta do dlar, a executiva diz que h uma guerra de preos prejudicial ao setor como um todo e que o Brasil precisa encarar seriamente a soluo de seus gargalos de infraestrutura, paternalismo trabalhista e tutela do consumidor.

A situao econmica e poltica do pas piorou muito. Como isso afeta os planos da empresa?

Nunca vimos uma crise poltica e econmica to interrelacionada. Difcil separar os fatores macro e microeconmicos, causas e consequncias. A crise poltica piorou muito em 2015 e agravou muito a economia.

O pas est sendo penalizado pelo mercado mundial no cmbio e no rating, por causa da poltica. H ajustes econmicos importantes a serem feitos, mas o clima poltico traz insegurana de que esses ajustes sejam feitos. O mercado mundial est sendo mais duro do que precisaria com nossa moeda, no porque ache que o Brasil v ficar insolvente, mas por insegurana sobre o futuro.

Precisamos demonstrar, com medidas simples, que o pas est no rumo certo, para que as coisas voltem a entrar nos trilhos.

Quais so essas medidas simples?

Aprovar alguns temas importantes no Congresso, como CPMF, a DRU, a reduo de custos do governo, que uma mquina muita inchada.

Aprov-los mostra que h alguma coeso em torno de um projeto de retomada, de um projeto para o Brasil.

Temos a quinta maior populao urbana do mundo, e a segunda que mais cresce em termos absolutos. No h como no precisar de infraestrutura, saneamento, estrada, sade.

A dvida se encontraremos um mecanismo que catalise esse potencial de crescimento no curto prazo. No mdio prazo, no h dvida.

Essas medidas mostrariam pro mercado mundial que a classe poltica brasileira est disposta a fazer esforos para trazer o Brasil de volta a um caminho de retomada e crescimento.

Um tema essencial para a aviao competitividade. uma das indstrias mais sem fronteiras no mundo, e ainda vemos tratamentos na aviao brasileira absolutamente anticompetitivos, e o Brasil vai por um caminho que tira ainda mais essa competitividade.

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Claudia Sender, no escritria da empresa em So Paulo
Claudia Sender, no escritrio da empresa em SP

Pode dar um exemplo?

No Brasil, por exemplo, as empresas so obrigadas a indenizar os passageiros por “acts of God”, como se diz na aviao mundial.

Por exemplo, se chove o aeroporto fecha, a empresa tem que dar hospedagem, alimentao e comunicao para o passageiro.

O Brasil resolveu tutelar o consumidor de uma maneira de que ele no precisa. E isso vira custo empresa area e a todo o sistema. O pas criou isso por portaria, sem qualquer equivalente no mundo.

Um outro exemplo: temos uma das frotas mais modernas do mundo, porque o combustvel no Brasil um dos mais caros. O querosene o maior percentual do custo, de 30% a 40% dependendo do cmbio, e o preo aqui desproporcionalmente maior em relao a qualquer mercado relevante, inclusive na Amrica Latina.

Alm de termos os avies mais modernos, temos uma aviao mais segura at que a dos Estados Unidos e um pessoal bem pago comparado mdia mundial. Mas h desafios aqui que so jabuticabas. Um o ICMS sobre combustvel, outro a portaria que tutela o consumidor, o terceiro uma infraestrutura muito precria, muito aqum do que necessrio.

As concesses no melhoraram os aeroportos?

Sim, mas veja quanto tempo Guarulhos ficou sem investimento, enquanto o movimento triplicou em dez anos. Hoje temos uma situao em que h aeroportos concessionados que melhoraram bastante e toda uma rede sob gesto da Infraero, sem caixa para fazer investimentos, que fecham a qualquer ameaa de chuva.

Entre Boston e Nova York, h voos em meio a nevascas, e os aeroportos no fecham. No Brasil, a gente brinca que, se algum fumar na cabeceira da pista, o aeroporto j fecha. Enquanto no houver um olhar muito srio para infraestrutura e a competitividade das empresas brasileiras, nosso crescimento vai sofrer.

O setor de aviao j havia previsto que s voltaria a crescer a partir de 2017. Esto revendo essa previso mais para longe?

Estamos agora trabalhando com horizontes mais curtos de planejamento e mais cenrios, mais flexveis. Ficou mais difcil ter visibilidade. E um dos problemas que o ciclo da aviao muito longo.

Por exemplo, vamos receber agora o primeiro Airbus 350 que compramos em 2005, quando o cmbio era R$ 1,50 por dlar, o pas crescia 8%, a aviao crescia 10%. So dez anos desde a compra e mais 15 anos com o avio ativo, 25 anos de ciclo, enquanto a demanda oscila todos os dias.

Como est a demanda agora?

H dois grupos: viajantes a negcios e a lazer.

Negcios sempre foi 60% e agora est em 45%. um grupo muito afetado pelo otimismo do empresariado. H outras coisas por trs, o crescimento do PIB, a taxa de cmbio, a capacidade ociosa das indstrias, mas o que realmente faz a demanda variar o otimismo do empresariado. E esse indicador no para de cair, tem tido recordes de baixa.

a pior baixa que j viram no mercado de negcios?

O corporativo vem se mantendo estvel, com um pequeno crescimento ano a ano, h uns quatro ou cinco anos. Mas, neste ano, houve uma despencada no trfego corporativo. A proporo vinha se invertendo porque o Brasil ainda tem um espao muito grande para crescer em viagens a lazer. O brasileiro faz em mdia meia viagem por ano, muito abaixo do que ocorre em outros pases latino-americanos.

Ns j prevamos essa queda: com o processo eleitoral, o otimismo do empresariado j veio se apequenando. Desde o segundo semestre do ano passado, a demanda corporativa vinha caindo. Nossa estratgia tem sido estimular muito as viagens a lazer, que, por ter uma penetrao muito baixa, muito elstico: se o preo cai, a demanda cresce.

H, porm, limites. Quando o passageiro comea a ter dvidas sobre se vai ter emprego, se os outros da famlia tero emprego, se vo ter dvidas, se o horizonte financeiro fica menos claro, ele pensa duas vezes antes de parcelar uma viagem de frias.

At mesmo esse modelo, que tinha trazido muito sucesso para a TAM desde 2012, mostrou um esgotamento neste ano. O prprio passageiro de lazer est achando que este no um bom momento para viajar.

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Claudia Sender, no escritrio da TAM em SP
Claudia Sender, no escritrio da TAM em SP

A queda do lazer surpreendeu a empresa?

No ano passado, havamos nos planejado para crescer neste ano, mas, ao longo do segundo trimestre, revisamos a estratgia e vimos que no daria para crescer a oferta no segundo semestre, e j anunciamos uma reduo que, agora no quarto trimestre, vai chegar perto dos 10%.

Provavelmente em 2016 vamos ter ainda mais reduo na oferta, de 6% a 9% da capacidade, dependendo de como estiver a demanda. No vemos uma recuperao em 2016. Em 2017, vamos estar partindo de uma base to deprimida que pode haver alguma recuperao.

O problema que, a cada segunda-feira, as previses dos economistas vm sendo revisadas para pior, para uma retrao mais profunda, uma inflao mais acelerada, o que muito nocivo para a nossa indstria. Esperamos que, at o final de 2016, seja possvel uma retomada.

A estratgia para sobreviver at l cortar mais custo?

ser muito eficiente na operao e fidelizar nosso passageiro. Precisamos garantir que, como h menos passageiros, cada passageiro que viaja seja muito bem atendido e seja fiel companhia.

Mas h uma sensibilidade a preos que se torna muito relevante, por isso preciso ser competitivo em custos, o que impede viajar com o avio meio vazio. Por isso estamos revendo constantemente a malha, para ficar nas rotas em que h mais demanda.

Em alguns Estados, conseguimos manter nossos voos porque h reduo do ICMS do combustvel. Temos tido sucesso em reduzir nossos custos desde o ano passado, com a colaborao de toda a equipe, mas ningum esperava um cenrio to adverso quanto este. A procura por viagens para os Estados Unidos caiu 40%. Tirar os voos complicado, j h um custo fixo pesado, a tentao manter os avies voando, e enquanto no se reduz a capacidade existe uma guerra de preos, que acaba potencializando o resultado negativo das companhias areas.

Por isso teremos uma viso muito conservadora da capacidade no ano que vem e esperando que o pas retome nos anos seguintes a agenda de infraestrutura e competitividade.

Vo revisar investimentos? Como fica o hub do Nordeste?

O hub do Nordeste uma iniciativa de muito mais longo prazo, para os prximos 25 anos. Estrategicamente, o Nordeste est muito bem posicionado para ser o “gateway” entre a Amrica Latina e a Europa. Est na esquina do continente. Ali h uma oportunidade de fazer algo semelhante ao Oriente Mdio, criar um verdadeiro centro de conexes onde se agrega toda a demanda da Amrica Latina e distribui para a Europa e a sia, onde esto nossos parceiros.

A Latam tem a beleza de ser parte de um grupo com sete operaes domsticas na Amrica Latina: Brasil, Chile, Colmbia, Equador, Peru, Argentina e Paraguai. Conseguimos trazer um passageiro de Quique, no Chile, para lev-lo a Madri, o grupo tem uma vantagem competitiva muito grande, de captura de passageiros, que nenhum outro grupo tem na regio.

O hub do Nordeste um investimento estratgico muito importante, que tem que acontecer. Pode comear um pouco mais lento, mas precisa comear, at para aprendermos a operar na regio.

Por que o anncio do hub foi adiado?

O grande motivo que, quando olhamos para a infraestrutura, no temos segurana jurdica de que os aeroportos possam prover o que a gente precisa.

Fortaleza est em processo de concesso, e no sabemos qual o formado dessa concesso, que participao tir a Infraero e que poder de investimento ter quem assumir essa concesso.

Em Recife, estamos trabalhando com a Infraero para desenvolver um novo modelo, que no existe hoje, de ter um terminal privado dentro de um aeroporto operado pela Infraero.

E Natal ainda tem todos os desafios logsticos do prprio aeroporto e o plano de investimento.

Enquanto no tivermos mais segurana de onde o hub pode ter mais qualidade de implantao, no podemos anunciar. Mas j teremos a frota disponvel a partir do final do ano que vem, porque nos comprometemos com ela. Vamos procurar projetos alternativos at que o hub passe a operar, mas estamos totalmente comprometidos de que isso vai acontecer.

uma superoportunidade para revertermos uma tendncia no Brasil muito forte: um avio que sai do Brasil para qualquer lugar vai com 70% a 75% de brasileiros. O pas recebe menos turistas em um ano que Paris em um ms. Recebe menos turistas que a Argentina. O potencial de turismo que o Brasil tem subutilizado e o hub do Nordeste supertransformacional, no s para mas para a companhia area, mas para a regio.

So mais de 35 mil postos de trabalho, para pessoas que vo falar outros idiomas, desenvolvimento de servios. Quando se conecta uma cidade com o mundo, o potencial transformacional enorme.

Foi o que aconteceu com Dubai, que hoje um dos maiores centros financeiros do mundo. Temos muita confiana nesse projeto, mas precisamos ter condies de infraestrutura e competitividade de preo.

Quais so as alternativas para o atraso que o hub ter?

Estamos avaliando vrias. Uma delas o voo entre Guarulhos e Johannesburgo [frica do Sul].

Estamos olhando outras opes, no s na nossa operao do Brasil, o que triste, porque estamos perdendo investimento no pas.

O Abilio Diniz disse que o pas est “on sale” [em liquidao], e a verdade que hoje no est caro para investir no Brasil, mas do ponto de vista da moeda. Do ponto de vista de segurana regulatria, ainda est.

O capital infiel, no tem nacionalidade, e o investidor quer segurana e retorno interessante. Se no conseguirmos dar isto perderemos uma chance de ouro de atrair capital estrangeiro.

Qual o maior gargalo da aviao regional? um problema de tamanho da aeronave?

No. a demanda, a um preo que consiga justificar esse tipo de operao. As cidades menores vm crescendo a um ritmo mais rpido que as maiores.

A Latam opera em mais de 10 aeroportos regionais no Brasil com as nossas aeronaves, por isso no um problema do tamanho dos avies, mas de infraestrutura e a demanda a um preo interessante.

Mas o grande problema continua sendo a infraestrutura. No adianta dar subsdio para que uma empresa voe para um aeroporto que fecha toda vez que h nevoeiro. Quando um voo cancelado, preciso dar hospedagem, remarcao de voo para os passageiros, continua pagando o leasing, continua pagando a remuerao varivel que a tripulao teria nessa rota, mesmo sem ter tido a receita.

Sem infraestrutura adequada, o custo no se sustenta, a operao no para de p.

H outro tema cuja discusso est bastante acalorada no Congresso que o da jornada dos aeronautas. O Brasil tem a segunda tripulao menos produtiva da Amrica Latina, depois da Argentina. A regulamentao neste ano faz 39 anos. Precisa ser revista.

Mesmo sabendo que a aviao brasileira uma das mais seguras do mundo, h uma discusso no Congresso para aumentar o nmero de folgas e reduzir a jornada. um desafio entender que, num momento em que todo o Brasil procura flexibilizar a jornada, procura alternativas para manter emprego, trazer competitividade para as indstrias, queira-se aprovar uma lei para reduzir a jornada de trabalho.

No existe o argumento contrrio: de que a aviao brasileira segura justamente porque a jornada da tripulao menor?

No, e o fundamental no o nmero de horas, mas a gesto da fadiga. preciso levar em conta o ciclo circadiano, horas de descanso diurno, descanso noturno, horas de viglia, oportunidades de sono de qualidade. Essa avaliao no depende necessariamente do nmero de horas que se trabalha no ms.

O importante que, quando o comandante assume uma viagem, ele esteja em condies de assumi-la de forma segura, e isso tem a ver com a escala de trabalho.

Em vez de a abordagem pensar em trazer competitividade mantendo a segurana, querem fazer da forma fcil, que aumentar o nmero de folgas.

A discusso no tem o nvel de seriedade que merece.

E, num momento em que preciso aumentar a competitividade, as empresas areas vo perder fcil R$ 7 bilhes. Uma perda recorde, histrica. A falta de sensibilidade crise que o setor est passando algo difcil de entender.

A sra. citou varias jabuticabas, a proteo trabalhista, a proteo ao consumidor. E no caso das aeronaves? mais caro para uma companhia area brasileira comprar aeronave Embraer do que uma estrangeira?

No necessariamente. Hoje, outras empresas que operam Embraer no Brasil compram a aeronave de uma empresa de leasing, atravs de uma empresa estrangeira. Ento a Embraer vende o avio para essa companhia de leasing, que ento faz o leasing dessa aeronave para a companhia nacional. Ou seja, a aeronave exportada para depois ser importada.

Durante toda essa transao h impostos ao longo da cadeia.

Em algum momento, quando o Brasil voltar a crescer, a gente vai precisar de uma aeronave de menor porte. A Embraer hoje lder na fabricao de jatos regionais. Temos conversas com eles pensando no longo prazo.

Hoje, num cenrio com crescimento econmico to baixo, no est no nosso horizonte trazer aeronaves de modelos diferentes. O desafio, quando voc tem uma frota to diversa, que tem que investir muito dinheiro em treinar os pilotos, porque os tira da operao e o investimento em treinamento alto.

Nossa frota j complexa hoje. Temos os Airbus no mercado domstico e os de grande porte no mercado internacional. Colocar outra frota tem que ser algo muito bem pensado, traz complexidade de manuteno e operao.

O tema no o valor da aeronave. mas o que se adequa melhor estratgia.

o gargalo da aviao regional.

Se tivssemos feito essa conversa h dois anos, nosso vis seria diferente, de continuar crescendo pelas cidades menores.

Hoje, com a retrao econmica difcil olhar para um cenrio de crescimento. Estamos em um cenrio absolutamente contrrio: tirando avies de nossa frota, enxugando a nossa operao.

Quando voltarmos a crescer precisaremos olhar para essas cidades e aeronaves que tenham porte menor com muito mais carinho. No necessariamente tem a ver com infraestrutura e operao hoje, mas, sim, um planejamento de longo prazo para voltar a crescer.

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Crach da presidente da TAM, Claudia Sender
Crach da presidente da TAM, Claudia Sender

Da os planejamentos estarem encurtados.

Exatamente. Por causa da incerteza. Eu entrei na TAM em dezembro de 2011. O dlares era R$ 1,69, o Brasil crescia. Eu entrei com plano de crescimento para a companhia. Olhvamos para uma expanso importante, conquista de mercado, abertura de novas bases. Tnhamos uma viso diferente do que o que realmente ocorreu nos ltimos quatro anos.

Um bom lder tem que saber navegar por cus de brigadeiro e por cus turbulentos.

Na sua avaliao, qual foi a principal causa dessa virada nas expectativas e no crescimento?

O ciclo das commodities desacelerou muito fortemente. E a gente surfou uma onda sem nos preocuparmos com investimento de longo prazo.

Nesse momento em que a gente tinha o Brasil to pujante era hora de fazer as reformas mais difceis e os investimentos para desengargalar a nossa infraestrutura e trazer mais competitividade para o setor.

Mas o Brasil optou por crescer atravs de um modelos de investimento em subsdios e de consumo, e no de investimento na infraestrutura.

A gente aplaude todas as concesses feitas e v a diferena que faz na vida do passageiro e das companhias quando o aeroporto eficiente para operar.

A questo do investimento vai ter que esperar mais segurana jurdica, como a sra. mesma colocou. Deviam ser priorizadas as reformas?

A concesso do setor eltrico foi um sucesso porque algumas variveis foram flexibilizadas. Se enxergarmos isso, por exemplo, para a nova rodada de concesso dos aeroportos, h muitos grupos interessados em entrar. Quem pensa em construo e operao de um terminal aeroporturio no est pensado nos prximos trs anos. Est pensando nos prximos 15 ou 20.

Se desenharmos contratos que tragam segurana institucional, temos udo para trazer investidores que olham para o Brasil com olhos melhores at que os prprios brasileiros.

A sra. falou que vocs encurtaram seu plano estratgico. Trabalham agora com qual horizonte?

Sempre trabalhamos com planos de trs, cinco anos e depois a perder de vista, principalmente com o nosso plano de frota. Hoje estamos olhando para o plano de um e dois anos com muito mais ateno. Esse horizonte de 12 e 24 meses se tornou cada vez mais crucial para ns.

A sra. tambm disse que ampliaram o nmero de cenrios para fazer a anlise. Qual o melhor cenrio?

O cmbio impacta 60% dos nossos custos. S o que j vimos de desvalorizao cambial neste ano, estamos falando de uma aumento de custo de quase 27% para a indstria no Brasil.

O melhor cenrio para ns um cenrio de cmbio controlado, em que a gente consegue trafegar. Gostaria de voltar a R$ 1,69, sabemos que isso no vai acontecer.

Um cenrio positivo um cenrio de cmbio controlado que permanea abaixo de R$ 4, a uma taxa de R$ 3,50 a R$ 3,70. H pouca probabilidade de acontecer.

O cmbio no tem s um impacto nos nossos custos, mas, principalmente, na demanda por viagens internacionais. Hoje, a gente tem conseguido compensar parte dessa demanda atravs das nossas operaes domsticas nos outros pases. Se voc entrar hoje em um avio nosso indo para Paris ou Londres voc vai ouvir muito mais espanhol do que antigamente, porque a gente traz passageiros da Argentina, do Chile, que conectam no nosso voo aqui em Guarulhos e so distribudos na Europa. Tem nos ajudado a compensar parte da demanda do brasileiro que reduziu.

Agora, o Brasil mais de 50% do trfego da Amrica Latina. difcil, tem que somar todas as operaes do resto do continente e a gente no vai trazer um passageiro da Colmbia para conectar em Guarulhos e ir para Londres. No faz sentido. Tem parte da demanda que a gente consegue compensar e parte que no consegue.

E o pior cenrio?

um cenrio de cmbio realmente descontrolado.

Tem gente j falando em um Cmbio em R$ 5 em 2017.

A gente no acredita nesse cenrio. Obviamente, tudo possvel, mas no provvel. Um cenrio em que o cmbio fica l em cima e essa situao poltica-econmica no se move o pior.

O mais importante agora ter algum sinal de movimento de evoluo para que o mundo volte a confiar no nosso pas e a gente tenha uma volta do otimismo no empresariado.

A sociedade civil tem um papel nesse momento. No adianta a gente ficar s falando do que pode dar errado, mas tambm de qual e o nosso papel para fazer o Brasil dar certo.

O hub do Nordeste um desses projetos, um projeto de trazer oportunidades de desenvolvimento social e sustentvel de uma regio que precisa e que tem tantas possibilidades.

Enquanto a gente ficar s falando da crise, s falando do ruim, a gente cria esse sentimento de fim do mundo. E isso faz com que as pessoas invistam menos, trabalhem menos, busquem menos.

Cria-se essa sensao de que o Brasil no tem soluo. Eu no acredito nisso. O Brasil muito maior. A gente j teve hiperinflao. Essa uma crise muito profunda, muito sria, uma das crises mais longas que o Brasil j viveu na sua histria recente, mas j passamos por crise pior. E o brasileiro muito resiliente.

Mas precisa buscar esse caminho. O que me preocupa se a gente no conseguir trazer propostas e uma construo. A sociedade civil brasileira muito ativista no Facebook, mas pouco propositiva.

Precisamos trazer novas propostas e se engajar para entender, se no como classe poltica, como classe empresarial, como a gente pode se engajar num debate propositivo. Isso falta para o nosso pas.

Para a sua capacidade de tomar decises, a abertura da discusso sobre se abrir um processo de impeachment ou no torna mais definida a situao ou no?

Eu acho que o cenrio hoje continua to indefinido quanto ele era antes porque muito difcil saber hoje o que vai acontecer.

Tem uma frase que ouvi outro dia: ‘Qualquer coisa pode acontecer amanh, inclusive nada’. Esse o pior cenrio, o custo da no deciso para o pas muito alto. A gente precisa tomar uma deciso e mover adiante.

O que muda quanto tempo a gente vai levar nesse cenrio de estagnao e no olhar para uma agenda de crescimento. Da forma estrutural que ele precisa ser resolvido, fazer as reformas tributria, poltica, trabalhista. Seno vamos perder uma dcada. Nossa legislao trabalhista est to ultrapassada.

Uma mudana de presidente afeta isso?

Tem que haver uma mudana de pensamento em Braslia, no necessariamente de quem est na cadeira. A poltica tem que virar de frente, e no de costas, para a populao. Minha sensao que hoje a classe poltica est to introvertida no seu prprio mundo, tendo discusses que so pertinentes apenas a eles e no populao, que a gente est perdendo uma grande oportunidade de resolver temas estruturais do Brasil.

A reforma trabalhista algo que temos discutido muito. O Brasil um pas onde a classe trabalhista entende que seu direito ter reajustes acima da inflao todos os anos sem nenhum ganho de produtividade. Isso s faz com que a inflao cresa, porque as empresas se tornam cada vez menos competitivas.

Quando olhamos para o mundo l fora, esse um direito que garantido em pouqussimos lugares no mundo. Um colaborador no Brasil muito mais caro do que em qualquer outro pas onde a gente atua, porque no o salrio, so todos os custos que vm junto, toda a burocracia.

Para termos uma pas realmente competitivo, a reforma trabalhista essencial.

Se o Brasil fosse um avio em viagem, como voc o descreveria neste momento?

um avio em que a tripulao tem que conversar mais, saber qual o norte real, definir aonde quer chegar. Precisa saber para onde quer levar o pas e engajar tanto os passageiros quanto a tripulao para garantir que o avio vai chegar seguro e da melhor forma possvel ao seu destino. Talvez ainda haja muitas discordncias entre a tripulao, e periga o avio se perder no caminho.

E o Fundo Nacional de Aviao Civil? Como avalia a eficcia dos subsidios?

sempre uma forma complicada de desenvolver qualquer mercado. O melhor investimento na aviao civil o desenvolvimento da infraestrutura e reduo dos custos estruturais. Subsdios distorcem tanto a oferta e a demanda e, quando so retirados, o mercado virou de cabea para baixo, como vemos acontecer com a indstria automobilstica.

Para ns, o Fundo Nacional da Aviao Civil deveria ser utilizado para desenvolver a infraestrutura aeroporturia e garantir que a aviao brasileira como um todo, de forma democrtica, fique mais eficiente. No somos a favor de medidas protecionistas, somos a favor de mais competitividade, achamos que, quanto mais competio melhor se torna a indstria, melhor para o passageiro em termos de preo e acesso.

Quando se comea a criar subsidio direcionado para um tipo de operao ou outra, cria-se uma distoro que no positiva para nenhuma indstria. Da forma como o subsdio havia sido discutido originalmente, podia-se fazer uma operao entre So Paulo, uma cidade regional e Brasilia com subsdio. Faz sentido? A companhia vai deixar de oferecer um voo direto entre So Paulo e Braslia porque vai custar menos fazer uma escala numa cidade do interior?

E superdifcil controlar esse tipo de operao.

As tarifas de conexo, que oneraram tremendamente o setor areo para poder viabilizar as concesses dos grandes aeroportos, um dinheiro que est sendo pago pelas companhias, parte do fundo, mas no revertido por nenhum tipo de benefcio, seja para o passageiro, seja para a indstria.

O fundo tem que ser usado para infraestrutura e reduo de custos e gargalos logsticos.

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Avio decorativo no escritrio de Claudia Sender
Avio decorativo no escritrio de Claudia Sender

O passageiro no vai ver guerra de preos agora?

J est vendo o tempo todo.

Mas a TAM no vai entrar nessa guerra? Vai fazer reduo de oferta?

difcil ficar alheio aos movimentos de preo da concorrncia. muito fcil comparar preos na internet. Num momento de crise, o passageiro opta pelo que cabe no seu bolso.

O que acaba acontecendo que temos reduzido a capacidade para poder ter menos estoque para queimar, para tentar no entrar na guerra de preos, mas tivemos uma eroso muito forte nos preos das passagens, principalmente das internacionais, que so precificadas em dlar. O valor em real aumentou demais e o passageiro sentiu demais no terceiro trimestre deste ano, quando o dlar estava 56% acima do mesmo perodo do ano passado.

Estamos concorrendo com empresas americanas que esto fazendo muito dinheiro no seu mercado domstico e podem oferecer passagens muito baratas aqui. Temos tentando ficar de fora da guerra de preos, mas no possvel o tempo todo, e a guerra est muito acirrada em todos os mercados, no domstico e no internacional.

Qual a perspectiva para a Olimpada?

outro projeto em que entramos acreditando no progresso do pas.

Esto frustrados?

Entramos de trs maneiras: patrocinador da Olimpada e da Paralimpada, como transportador oficial da tocha olmpica e a TAM Viagens a nica distribuidora de hospitality [pacotes para turistas] dos Jogos no Brasil.

o evento com a maior visibilidade do mundo e, na Copa, o pas fez um papel lindo, as avaliaes foram muito positivas, mas pouqussimo divulgadas.

Perdemos a oportunidade de mostrar l fora essa avaliao.

A Olimpada tem tudo para ser um sucesso, mesmo com os desafios de infraestrutura do Rio, de garantir que as competies tero segurana, mas tenho certeza de que vai ser um sucesso. Para ns, fazer parte da Olimpada mais que uma oportunidade de patrocnio. uma oportunidade de se posicionar como a empresa que d as boas vindas a quem chega ao Brasil.

Onde temos encontrado mais desafios na operao paralmpica, porque os aeroportos no esto preparados para transportar, por exemplo, uma seleo inteira de cadeirantes que chega de uma vez. complicado dimensionar-se para isso e os aeroportos ainda no esto 100% prontos para isso.

Estamos numa operao de guerra para garantir que nossa equipe sabe como se comportar numa situao como essa.

Do ponto de vista da Olimpada, estamos muito animados, pode ser um timo momento para mostrar o pas e do que somos capazes de outra maneira, sem falar de poltica, Lava Jato e corrupo. Por outro lado, a venda de pacotes est mais lenta que nossa programao inicial.

Parte tem a ver com o fato de serem pacotes corporativos, com tquete mdio mais elevado, e as empresas esto esperando mais para fazer o planejamento para o ano que vem. Vamos ver se melhora no comeo do ano que vem.

Quanto abaixo das expectativas est a demanda pelos pacotes?

Perto de 30% abaixo do previsto.

Os ltimos episdios de terrorismo preocupam de alguma forma para a Olimpada?

Sem dvida, preocupa. Estamos interligados com todas as agncias de monitoramento antiterror do mundo e, atravs da Iata, temos fruns muito especficos sobre o tema.

A expectativa que o modelo de segurana americano passe a ser adotado tambm em aeroportos da Europa, que ainda era um pouco mais flexvel.

A Latam tem uma equipe de inteligncia que trabalha interligada com as agncias de monitoramento. Esperamos no precisar disso na Olimpada, mas a equipe est superpreparada.

Na Copa, houve uma tentativa do governo de segurar os preos das passagens areas. Temem movimento semelhante na Olimpada?

O evento diferente, porque concentrado numa cidade.

Na Copa, havia um grande jogo num s momento numa cidade, com muita gente querendo ir para aquela cidade e depois voltar. Na Olimpada so 45 dias de competio, com fluxo contnuo de passageiros.

No temos ouvido ruido at agora, porque o excesso de capacidade deixa os preos mais controlados.

Acredito muito na liberdade tarifria. Depois que as tarifas foram liberadas no Brasil, o que fez a exploso do nosso setor, que foi de 30 milhes para 100 milhes em dez anos, foi a liberdade tarifria, que permitiu s empresas reduzir os preos. Antes as empresas no tinham incentivo a reduzir preos e ser mais eficientes. Hoje, possvel comprar uma passagem por R$ 69 para o Rio ou Curitiba. Mas quem quiser ir na segunda-feira s 8h, num horrio supercorporativo, vai pagar mais caro, o que financia a passagem mais barata para Curitiba, o que faz sentido para muitos pblicos.

A Olimpada deveria ser um momento em que as empresas fossem capazes de cobrar um pouco mais.

Que reflexo a mudana do governo da Argentina traz para vocs?

J foi anunciada uma mudana na liderana do nosso principal concorrente na Argentina e a nossa expectativa que sejam aplicadas muito mais regras de mercado em relao operao area nesse pas.

Ainda cedo para dizer, mas soframos alguns tipos de discriminao, como no Aeroparque, onde no tnhamos direito de operar em fingers [tubo que conecta o avio ao terminal de passageiros]. Sempre opervamos na remota, enquanto a nossa concorrente local tinha toda a operao em finger. Isso traz mais custo para a operao, mais desconforto para o passageiro.

Ainda no sabemos qual vai ser o caminho, mas acreditamos que pode ter um nivelamento da competio entre a operao local e a estatal. uma expectativa ainda a ser confirmada.

Outro tema a sada de capital da Argentina. Esperamos que a sada de capital seja amplamente liberada.

Uma desvalorizao cambial tambm pode ter um impacto negativo na demanda. Hoje, para o argentino, com um cmbio como est muito barato viajar para fora. Dependendo da velocidade da desvalorizao cambial, pode ter um impacto na demanda por trfego areo, mas ainda h srios debates sobre como e quando. cedo para especular.

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