Programas de intercâmbio no exterior aceitam crianças a partir de 5 anos

“Urer”. “No, no. Uter”, diziam as colegas. Pronunciar “gua” em ingls foi uma das dificuldades que Nina Chequer, de Fortaleza, teve que enfrentar em sua estadia na Inglaterra –alm do desafio de ficar longe dos pais.

Em seu primeiro intercmbio, aos 9 anos, Nina passou trs semanas estudando em Brighton. Ela faz parte de um grupo cada vez maior: o de intercambistas crianas.

Segundo a Belta, associao de agncias de intercmbio, 20% das empresas do setor vendem pacotes para viajantes de at 15 anos –a maior parte dos programas de curta durao, com viagens de at um ms.

A CI, por exemplo, oferece intercmbio para estudantes viajarem sem a famlia a partir dos 7 anos –e, com os pais, para quem tem 5 ou 6.

Na empresa, a procura por programas para crianas cresceu 50% entre 2009 e 2014 –os mais novos a viajar sozinhos tinham 9 anos; no STB, o aumento foi de 20% s no ano passado. Neste ano, a crise econmica deve frear um pouco esse aumento.

A alta do dlar quase mudou a programao de Karina Barroso, 43, de mandar o filho Thiago, 13, para a Califrnia (EUA) no ms que vem.

“Como o pacote j estava fechado, mantivemos os planos. Mas j o avisei para no gastar com compras”, diz.

TEMPO DE CIO

Os intercmbios so baseados em aulas de idiomas, mas podem incluir atividades mais elaboradas, como robtica. “Os pais querem que os filhos vivenciem a lngua em seu contexto, no s na sala de aula”, diz Fernanda Semeoni, diretora da agncia Experimento.

A professora de psicanlise da criana Adela Stoppel de Gueller, do Instituto Sedes Sapientiae, diz que o intercmbio pode ser positivo –desde que se tomem cuidados.

” importante lembrar que frias so um tempo de cio. Atividades o tempo todo podem sobrecarregar a criana e ela corre o risco de se acostumar a uma carga incessante de tarefas, o que no bom”, afirma.

MATURIDADE

Apesar de a idade mnima para os intercmbios estar caindo, as agncias especializadas e estudiosos do desenvolvimento infantil recomendam que os pais avaliem o grau de maturidade dos filhos antes de fechar a viagem.

H crianas to independentes que at dispensam ajuda. “Lembro de um menino de 11 anos que viajou conosco e no aeroporto j tinha tudo em mos”, conta Fabiana Fernandes, gerente da CI.

pensando na autonomia de Thiago, 13, que Karina Barroso, de Salvador, vai envi-lo para os EUA em janeiro, para ficar em uma casa de famlia. “O americano cria o filho de um jeito diferente; ele vai ter de lavar as roupas, os pratos, sem ajuda”, diz.

Mas Celia Maria Terra, especialista em sade mental infantil e professora da PUC-SP, alerta que intercmbios para jovens com menos de 15 anos so prematuros.

“A viagem pode forar o processo de ganhar responsabilidade de forma precoce, que a criana no estaria preparada para assumir. Ficar sem a famlia faz com que ela se sinta onipotente”, afirma.

DIA A DIA

A rotina no programa pode ser puxada. Em Brighton, na Inglaterra, Nina Chequer, 9, que ficou em um alojamento com outras 15 crianas, tinha aulas de ingls de manh e tarde, intercaladas com atividades -como o show de talentos, em que, danando, tirou o primeiro lugar. Nos fins de semana, passeava.

“A capacidade intelectual das crianas muito grande. Elas querem ir a fundo em assuntos que amam”, diz Christina Bicalho, scia do STB.

Por isso, alm de idiomas, os programas para os pequenos se diversificaram, e incluem aulas de programao, robtica e tcnicas de investigao de cenas de crimes -alm de esportes e dana.

O STB j levou dez crianas para programas de design de games, oferecidos pelas universidades Stanford e de Princeton (ambas nos EUA) para estudantes com idade mnima de 7 anos.

e o banho?

Alm de atividades, h o benefcio de conhecer pessoas com estilos de vida diferentes. Fabrcio Ramos, 14, de Santo Andr, tinha 12 anos quando fez seu intercmbio, em Maidenhead (Inglaterra).

No alojamento estudantil, se surpreendeu com os hbitos de colegas russos e ucranianos. “Uma noite fiquei jogando tnis de mesa com eles. No dia seguinte, estavam com a mesma roupa -no tinham tomado banho e acho que s tomaram vrios dias depois.”

Crianas que vo fazer intercmbio em outro pas podem ir com a famlia -em programas nos quais pais e filhos se encontram aps as aulas e dormem em um hotel-, viajar com um monitor desde o Brasil ou encontrar-se com um representante da escola no desembarque. Podem ficar em casas de famlia ou em alojamentos.

So os “tutores” os responsveis por lidar com o emocional das crianas e administrar os problemas -desde a vontade de desistir, na partida, at questes cotidianas mais ntimas.

A monitora Rosana Lippi, do STB, teve que acalmar uma jovem que menstruou pela primeira vez durante a viagem (leia na pg. ao lado perguntas e respostas sobre essas situaes).

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MEU MUNDINHO
Como funciona o intercmbio de uma criana

De quais documentos a criana precisa?
Para sair do Brasil, pessoas com menos de 18 anos precisam de passaporte, RG, uma autorizao de viagem assinada pelos pais (com firma reconhecida em cartrio), visto de estadia e cartes de vacinas (caso o pas de destino exija), seguro viagem, medicamentos e receita mdica (em ingls) para remdios de uso controlado. Tambm til que ela leve consigo uma lista de telefones teis ou de emergncia

Quem vai ficar com a criana no destino?
A criana pode viajar com a famlia e s se encontrar com os pais noite. Se viajar sem eles, pode ir com um grupo de crianas –que sai do Brasil com um monitor, responsvel por elas durante todo o intercmbio– ou totalmente sozinha; neste caso, um funcionrio da agncia o responsvel durante o voo e, no pas de destino, um representante a aguarda no aeroporto; l, ela pode se hospedar em casa de famlia ou alojamentos da escola

Os pais podem falar com os filhos a qualquer hora, no Brasil?
Depende do programa: h escolas mais flexveis, mas em alguns casos o uso de celular proibido, justamente para evitar contato em excesso com o pas de origem e atrapalhar as atividades da criana. O mais normal que o contato com os pais acontea uma vez por dia, geralmente noite. Mesmos nos programas em famlia, sugere-se que cada um faa seu curso sozinho e todos s se encontrem em horas combinadas

E se a criana passar mal ou se machucar?
Alguns programas contam com enfermeiros 24 horas. Os planos cobrem gastos mdicos de at US$ 250 mil e priorizam os melhores hospitais –agncias do Brasil relatam casos de crianas com apendicite resgatadas de helicptero. Em eventual internao em hospital, um monitor destacado para acompanhar a criana o tempo todo; os profissionais mantm canais de comunicao com os pais, para avisar questes que saiam da rotina

E se a criana no se adaptar?
Os monitores passam por treinamento para lidar com as questes emocionais e cotidianas das crianas, mas elas podem desistir do programa e voltar ao Brasil a qualquer momento Durante o programa s se fala o idioma local? a ideia, para que a criana aproveite ao mximo a experincia. Mas, em casos de emergncia (por exemplo, uma dor no corpo), ela pode falar em portugus com o monitor

Durante o programa s se fala o idioma local?
a ideia, para que a criana aproveite ao mximo a experincia. Mas, em casos de emergncia (por exemplo, uma dor no corpo), ela pode falar em portugus com o monitor

Fontes: agncias STB, CI e Experimento

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PARA ONDE EU VOU

INGLATERRA

ONDE Escolas Seaford (em West Sussex), Clayesmore (Iwerne Minster) e Oundle (Oundle)
QUANDO Julho de 2016
DURAO 2 a 7 semanas
IDADE 8 a 17 anos
QUANTO US$ 1.640 por semana
SERVIOS aulas de ingls de manh e esportes tarde
MAIS Experimento (experimento.org.br )

ONDE Escola Southbourne (Bournemouth)
QUANDO julho de 2016
DURAO 3 semanas
IDADE 12 a 17 anos
QUANTO a partir de R$ 15 mil
SERVIOS aulas de ingls, atividades em grupo, excurses
MAIS CI (ci.com.br )

ESTADOS UNIDOS

ONDE New York Film Academy (Nova York)
QUANDO Julho de 2016
DURAO 3 semanas
IDADE a partir de 10 anos
QUANTO a partir de US$ 3.300
SERVIOS cursos de filmagem e atuao e tour por NY
MAIS STB (stb.com.br )

ONDE Wheaton College (Chicago)
QUANDO julho de 2016
DURAO 3 semanas
IDADE 10 a 14 anos
QUANTO a partir de US$ 6.010
SERVIOS aulas de ingls, contato com estudantes americanos MAIS Experimento (experimento.org.br )

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