O arquipélago das mulheres em San Blas, no Panamá

Por Heitor e Silvia Reali, do site Viramundo e Mundovirado

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Da janela do pequeno avião que decolou da Cidade do Panamá, após vinte minutos de voo, surge entre as nuvens a pista de pouso da ilha El Porvenir. Longa e estreita, nos sugeriu uma passadeira estendida sobre o mar.
Numerosas ilhotas e atóis, para ser exato são 365, salpicam o mar do litoral caribenho do Panamá onde vivem os índios kuna, etnia que venera as mulheres e as cores. Tudo ali é puro e primitivo. A maioria das ilhas é pouco maior do que uma quadra de tênis, há uma que lembra um cartum de náufrago: um montinho de areia rodeando um coqueiro, e outra é uma plantação de banana e coco. E tem o pralapracá dos cayucos coloridos, pequenas canoas que navegam entre as 56 ilhas habitadas.

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De El Porvenir, Silvia e eu vamos de cayuco para Nalunega navegando pelo mar cristalino que duplica nossas imagens e intensifica nossa emoção. Acompanhados por um guia kuna caminhamos pelas estreitas ruas de areia ladeadas de coqueiros e casinhas de sapé, onde roupas esvoaçantes nos varais parecem bandeiras, tal a profusão de cores. Atmosfera de pura festa.

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As casas dos moradores têm telhado de sapé e chegam até as bordas do mar. Algumas pousadas têm o mesmo look das moradias: chão de areia e paredes de bambu. Para o guia Juan Amado “se a maneira como vivemos desperta a curiosidade de nos conhecerem, é natural que provem nosso modo de viver. Não temos grandes hotéis, pois não permitimos que estrangeiros comprem nossas terras, para não sermos envolvidos por outras culturas”.
Permanecemos na ilha durante três dias. Escolhemos um quarto na praia de areia branca para melhor ouvir o marulho, sem imaginar que uma onda mais afoita poderia invadi-lo à noite. Foi o que aconteceu e ficou inesquecível.

As paredes de bambu são indiscretas, deixando passar todos os sons da aldeia, mas deixam passar também a brisa, o canto dos pássaros e a luz da lua. Antes do sol da manhã inundar nosso quarto, o perfume doce dos plátanos fritos –bananas– misturava-se ao aroma do pão recém assado e ao vozerio dos pescadores saindo para o mar.

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Nos vilarejos crianças brincam de roda, homens pescam e, mulheres cozinham o tulemasi, iguaria à base de mandioca, peixe e leite de coco fresco. As mais talentosas tecem molas. Este é feito de diversas camadas de panos coloridos e recortados, e para conseguir mais textura, aplicam sutaches, sinhaninhas e entremeios. Seus desenhos labirínticos, cujas cores, formas e motivos são retirados da natureza, reproduzem peixes, aves, folhas e criam mandalas que buscam reproduzir a harmonia com o mundo. Afinal, não é este o princípio da mandala?
Símbolos da vida e do futuro, todas as festas ali são dedicadas às mulheres: o nascimento de uma menina, quando atinge a puberdade, seu casamento e quando tem o primeiro filho. E são elas que dão mais colorido às ilhas com sua vestimenta que realça a feminilidade.

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As kuna completam a roupa com um lenço escarlate, anéis, brincos e as wini — pulseiras e caneleiras feitas de miçangas e vidrilhos. Como último toque o ol-osu, uma argola de ouro, símbolo do sol, que é colocado entre as narinas e a protegerá dos espíritos malignos. Ela é realçada ainda mais por um traço negro delineado em todo o perfil do nariz. Como último detalhe um amplo lenço, geralmente em tons laranja ou fúcsia, a protege do forte sol caribenho. As meninas “coroam” literalmente o traje com um periquito verde na cabeça. As mulheres não curtem serem fotografadas, então Silvia fez algumas ilustrações delas com seus trajes tão particulares.

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Agenda de viagem – A viagem para San Blas passa invariavelmente pela Cidade do Panamá. Da capital panamenha os voos para o arquipélago são realizados por companhias aéreas regionais e duram em média trinta minutos.

Onde ficar  – Kwadule Eco Resort (507-269-6313), na ilha Kwadule, com cabanas confortáveis construídas sobre palafitas.

Quem leva – Sanchattour, tel. 11-3017-3140.

Melhor época – As ilhas podem ser visitadas durante o ano todo, mas os meses de agosto e setembro são os mais propensos a furacões na região do Caribe.

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