No Dia dos Namorados, uma estrada com mais de 50 ‘tons de cinza’

Por Heitor e Silvia Reali, do site Viramundo e Mundovirado

_MG_1816_MG_1816
Cinquenta “tons de cinza” em uma estrada? Ulalá!! Pois saiba que não é só de cinza, não. São também 50 tons de marrom. As fotos confirmam, mas é bem melhor fazer as contas percorrendo a estrada. Ela vai te conquistar, e te levar às alturas literalmente.

_MG_1794_MG_1794

A Ruta 76 corta terras altas e áridas de La Rioja, nordeste da Argentina. Um território imenso e inexplorado onde algumas vezes estivemos mais perto do céu do que da terra.

_MG_1787_MG_1787
Partimos ainda ao amanhecer da pequena vila de Jagué. Meno male que não era época do degelo das neves que coroam as altas montanhas dali, pois a rua principal é também o leito do rio gelado. Nosso destino era a Laguna Brava que fica a 4.500 mts de altura. Precisávamos subir ‘despacio’, devagar como se diz ali, para afastar o temível mal das alturas, um azedume capaz de estragar qualquer passeio.

_MG_1827_MG_1827
O ritmo lento nos permitia parar e ver conchas incrustadas e pegadas de animais extintos nas encostas das montanhas, pois, essas impressionantes formações rochosas já foram fundo de mar. E os pigmentos de colorido tão diverso atestam os diversos materiais de sua composição: lava vulcânica, óxidos de cobre e de ferro, ouro, prata, enxofre e sal. Daí tantos matizes acinzentados além de tonalidades de castanho, ferrugem, chocolate, ocre, mostarda, zarcão, tons violáceos, lilás, verdes e até um incrível rosa. Sem contar os salpicos brancos de neve e o cobalto puro do céu.

_MG_1860_MG_1860
Laguna Brava é um lugar extremo: frio, gelo, altura e aridez, mas a aventura se radicaliza com o vento constante que até mesmo levanta a neve fina. É o chamado ‘vento branco’ que impede o caminhar e dificulta a visão. Mais uma vez a sorte não nos faltou – não era dia do ‘vento bravo’. Quando este perde as estribeiras e se divide em dois, cada um sopra para um lado e passa cortando a superfície azul água-marinha da laguna. O vento confunde as águas formando ondas que se chocam tão bravias fazendo valer o nome que ganhou.

_MG_1888_MG_1888
A Laguna Brava era local de parada dos arrieros, gaúchos dos Andes, que cruzavam seus rebanhos pela fronteira da Argentina com o Chile. A fim de se protegerem do frio intenso eles construíram abrigos com o único material que sobra por aquelas bandas –pedras. E, engenhosos copiaram o ninho do hornero, nosso joão-de-barro, com entrada estreita, em forma de espiral e oposta ao vento. Restam apenas nove desses ‘ninhões’ que são considerados patrimônio argentino.

_MG_3239_MG_3239

Enfim, uma jornada que confirma as palavras do escritor Joseph Conrad: “cada viagem que iniciamos com espírito aventureiro acaba por ser reconhecida como romance”

_MG_1831_MG_1831
Dica boa para evitar o mal da altura: os riojanos nos ensinaram a tomar chá só com bolachas salgadas no café da manhã. Nada de leite e derivados. No percurso para a laguna não se deve ir tomando muita água e evitando nem correr ou fazer movimentos bruscos. Leve sanduíches, frutas e uma térmica com café (ou chá) para quando chegar na Laguna Brava e parar para contemplar o lugar.

_MG_1849_MG_1849

_MG_1851_MG_1851

_MG_1877_MG_1877

_MG_3262_MG_3262

Pin It

Comments are closed.