Milão, 30 anos em 3

Depois de trs anos longe, estive na semana passada em Milo. O circuitinho fashion continua o mesmo, mas a cidade mudou.

Da ltima vez, eu via, da janela do hotel Principe de Savoia, um cenrio devastador. Um quarteiro inteiro posto abaixo e transformado em gigantesco canteiro de obras, tomado por guindastes e entulho.

Agora, na mesma direo vejo a praa Gae Aulenti, um complexo de edifcios modernos onde se destaca um arranha-cu de vidro encimado por um pinculo em espiral pontiaguda (novo smbolo no skyline da cidade), alm de, nas proximidades, dois prdios residenciais de onde pendem abundantes jardins.

No achei nada muito belo nem ousado. Mas no resta dvida de que se abriu um respiro urbanstico na cidade. Como turista, agora sempre vou lembrar de Milo tanto pelo magnfico Duomo quanto pelo pontudo edifcio a trs quilmetros de l.

Mas tambm os moradores foram impactados pela mudana. Nada nunca muda na Itlia, me disseram amigos de l; e de repente, contaram, nesses ltimos trs anos a cidade mudou mais do que em trs dcadas.

O motor das transformaes, ou pelo menos seu pretexto, foi a realizao da exposio mundial, a ExpoMilano, evento que a cidade recebe desde maio.

A expectativa de ficar no centro de uma mar turstica (10 milhes de pessoas j visitaram a feira, que abriu em maio e vai at outubro), estimulou a criao de intervenes urbansticas e paisagsticas que vieram para ficar: j so parte do perfil da cidade.

Teria sido bom que no Brasil o investimento na Copa do Mundo tivesse deixado frutos urbansticos; ou que a Olimpada no Rio deixe um legado paisagstico na cidade –como em Barcelona. Algo que poderia ocorrer mesmo na mar da corrupo que engolfa nossas grandes obras –afinal, no tenho dvidas de que na terra em que Berlusconi rei (na poltica e na economia), a corrupo corre solta; mas, ainda assim, algo se fez em Milo com tanto dinheiro empenhado.

COMER, BEBER

Falando em Milo: o estrelado restaurante de Carlo Cracco (ristorantecracco.it) –que virou celebridade e enriqueceu com o “MasterChef”– continua despertando interesse em boa parte do que serve, mas com alguns pratos sem sentido nem sabor (sem falar de um sommelier, Andrea Ostorero, incapaz de servir decentemente).

No outro extremo, a Trattoria Milanese (via Santa Marta, 11), com um certo ar de cantina paulistana, la Gigetto, serve com dignidade a “comfort food” local: porcini frescos salteados, tortellini (alm do ponto, verdade) com molho do assado, milanesa (crocante) e ossobuco (delicado) de vitelo.

O Eataly (eataly.net), com uma disposio vertical que lembra o de So Paulo (e contrasta com o de Nova York), continua bombando e oferecendo produtos –do polvo carne dry-aged– de babar.

O 10 Corso Como (10corsocomo.com) se mistura com uma loja, galeria de arte e um jardim, na badalada rua onde a noite ferve; a comida impressiona menos que o lugar.

J o Ceresio 7 (ceresio7.com) impressiona pelo lugar (moderno, com piscinas para os clientes e vista para a nova Milo) e cativa pela cozinha. Aqui a noite tambm bomba, e o negroni feito a srio; como tambm, desde sempre, no classudo bar do Principe de Savoia (tinyurl.com/pbbnjpf), antessala para um jantar no ajardinado Acanto, no hotel.

Pin It

Comments are closed.