Em SP para divulgar seu país, agente turístico nepalês lamenta tremor: ‘Dói’

O operador de turismo nepalês Sajan Man Mulmi em São Paulo (Foto: Flávia Mantovani/G1)O operador de turismo nepalês Sajan Man Mulmi em São Paulo (Foto: Flávia Mantovani/G1)

O operador de viagens nepalês Sajan Man Mulmi veio na semana passada pela primeira vez ao Brasil para divulgar os atrativos de seu país para o mercado de turismo nacional. Chegou no último dia 21, participou de uma feira do setor em São Paulo e se preparava para compromissos também no Rio de Janeiro, em Curitiba e em Florianópolis.

 


Mas tudo mudou no último sábado (25), quando o Nepal foi atingido por um devastador terremoto que, além de deixar milhares de mortos e feridos, danificou ou destruiu completamente muitos dos monumentos milenares que Sajan veio divulgar.

“Não consegui fazer mais nada. Estou o dia todo contatando minha família, amigos e parentes pela internet e pelo telefone, preocupado”, contou ao G1.

O nepalês tentou adiantar sua passagem de volta, mas não conseguiu e teve que manter o plano inicial de voltar no dia 29 à noite. Por sorte, sua mulher e suas filhas, de 19 e 13 anos, estão bem.

Elas estão dormindo na rua, em barracas de camping, como medida preventiva contra os outros tremores que têm acontecido depois do tremor inicial mais forte. Mas a casa deles, que fica nos arredores de Kathmandu e foi construída com forte reforço contra terremotos, está de pé.

“Moramos em uma região nova, com casas mais modernas e mais preparadas. Além disso, ficamos ao sul de Kathmandu, que não foi tão afetado quanto o norte. Algumas paredes racharam e ficaram danificadas, mas foi só isso”, diz.

Sajan não sabe dizer “se teve sorte ou azar” de estar no Brasil durante o terremoto. “Minha família está lá, e eu quero vê-los. E quero fazer o que eu puder para ajudar. Muitos amigos estão limpando a rua, ajudando os pobres, tudo voluntariamente”, conta.

100% de cancelamentos

Fotos mostram Praça Durbar antes e depois do terremoto: atração é considerada patrimônio mundial pela Unesco (Foto: Prakash Mathema/AFP/Ganesh Paudel/CC)Fotos mostram Praça Durbar, no Vale do Kathmandu, antes e depois do terremoto: atração é considerada patrimônio mundial pela Unesco (Foto: Prakash Mathema/AFP/Ganesh Paudel/CC)

Sajan, que tem 53 anos de idade, trabalha com turismo há 28 anos. Começou como guia para viajantes que falam espanhol e há 15 anos abriu sua própria empresa. Na entrevista, falou com entusiasmo sobre os atrativos naturais e culturais do Nepal, mas chegou a chorar ao mencionar os monumentos milenares que foram destruídos pelo terremoto.

“Dói. Não consigo nem ver as fotos e já me saem lágrimas dos olhos. Não consigo. É impossível para mim ver essa situação”, disse, com voz embargada.

selo - Não consigo nem ver as fotos sajan correto (Foto: Sajan Man Mulmi/Arquivo pessoal)

Segundo ele, um quarto dos monumentos do Vale do Kathmandu – que reúne construções históricas que são patrimônio da Unesco – foram afetados. Um deles, um famoso palácio de nove andares, caiu totalmente. Na cidade de Patan, ao menos dois grandes templos ruíram, fora outros pequenos. “Deve demorar uns 10 a 15 anos para recuperar esses monumentos”, afirma o operador de turismo.

A operadora de Sajan teve 100% de cancelamentos das reservas para maio e junho. As viagens de julho e agosto ainda estão pendentes. “Alguns clientes estão pensando se adiam para setembro ou se mantêm”, diz.

A família de Sajan está acampada para prevenir danos de tremores secundários; à dir., tomadas são divididas pelos nepaleses no acampamento provisório (Foto: Sajan Man Mulmi/Arquivo pessoal)A família de Sajan está acampada para prevenir danos de tremores secundários; à dir., tomadas são divididas pelos nepaleses no acampamento provisório (Foto: Sajan Man Mulmi/Arquivo pessoal)

Mas ele confia em que aos poucos a vida vá se normalizando. E pede que os turistas não desistam do Nepal. “Acredito que este é o momento em que o país mais precisa de ajuda. Se todo mundo cancelar suas viagens por medo, teremos mais um grande impacto do terremoto na vida das pessoas. O pior já passou, as ruas estão sendo limpas. As coisas vão se acalmar”, afirma.

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