Aos 79 anos, idoso de SP viaja para ver o mar pela primeira vez; assista

Benedicto Caetano, 79, resiste a tirar as papetes. “Mas eu vou ficar de p no cho?” Sim, seu Caetano, aqui pode, explicam para ele. Receoso, ele testa a areia, no consegue senti-la direito por sofrer de hansenase (lepra), mas vai pisando com cuidado e, enfim, toca em gua salgada pela primeira vez na vida.

No primeiro contato, fica com o mar s pelas canelas. No est pronto para um mergulho. No nibus, tinha feito piada com a perda da dentadura, mas no confia mesmo nas pernas. “E se der cimbra? Para ir, at vai, mas para voltar mais custoso.”

Caetano nasceu em 1936 em Santa Branca, no Vale do Paraba, ali no meio do caminho para o litoral norte de So Paulo, a pouco mais de uma hora de Caraguatatuba. Passou a vida toda trabalhando em fazendas da regio. Orgulha-se de saber construir cercas que, segundo ele, s engenheiros so capazes de projetar.

Nunca tirou frias –at foi algumas vezes a Aparecida, mas praia ele s conhecia pela TV. “Sempre diziam que iam me levar, mas no dava certo”, contou ele, que vivo e no tem filhos. A primeira vez foi na ltima quinta-feira (29), em uma excurso para Caraguatatuba organizada pelo Lar dos Velhinhos So Vicente de Paulo, de Guararema, onde ele vive.

Sabendo que ele e outros companheiros de asilo nunca tinham feito a viagem, moradores se juntaram para lev-los ao mar. Uma empresa arranjou transporte, outras ofereceram segurana e lanches. ” uma realizao para eles. Muitos foram abandonados, a famlia no vai visitar. uma forma de sair da rotina”, diz Gabriela Barbosa, chefe de enfermagem do lar.

FILAS DE ONDAS

Pena que o tempo no ajudou e o sol ficou entre nuvens, com garoas esparsas na maior parte daquela manh. “Quando tem friagem assim no muito bom”, reclamou Lidia de Souza, 70, de mai preto e unhas dos ps coloridas de vermelho salpicadas de brilhinhos.

No demorou muito at que Caetano se rendesse aos encantos do oceano. Minutos depois da chegada, j confortvel em uma vistosa sunga azul, era capaz de fazer analogias entre as filas de ondas que se encaminham para quebrar na orla e outros cenrios que lhe eram mais familiares. “Parece uma boiada correndo atrs da outra, igual as que eu pajeava.”

Outras coisas, entretanto, ele no conseguia entender. Curioso como criana, queria saber: afinal, o que tem atrs dessa gua toda? E por que o mar vem com essa fora para a frente para depois voltar?

Na falta de palavras para explicar o que estavam sentindo, muitos dos idosos tambm recorriam a cenrios mais conhecidos. Deitado na cadeira de rodas anfbia, que lhe permitia ficar quase de corpo inteiro na gua, o arteso Adeniz Freire, 82, lembrou das brincadeiras de infncia no rio Paraba do Sul.

“Voc no imagina a vontade que d de entrar na gua e sair nadando. Quando eu era menino, no queria sair do rio por nada”, contou Freire, que tem pernas atrofiadas.

Ele no se lembrava exatamente de qual tinha sido a ltima vez que tinha visto o mar. “Mas eu lembro que s fiquei na areia. Agora fiz questo de entrar no mar e at de tomar gua, no importa que seja suja.”

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