Por Ricardo Hida
Há dois anos, juntamente com o Brasilturis e a Boarding Gate, a minha agência, Promonde, organiza o Fórum de Turismo de Luxo no Brasil. A caminho da terceira edição, a ideia é reunir os profissionais do setor para networking e, principalmente, discutir cenários e tendências de um segmento que sofre menos com as crises, de qualquer natureza. E durante os eventos muita gente nos perguntava porque não discutir também a gastronomia e o turismo.
Nesse tempo, observamos o crescimento em nosso País do interesse pela gastronomia e, mais particularmente, pelas bebidas de alto padrão. Uma juventude vem prestando vestibular para os cursos de gastronomia e chef; a profissão é hoje o que a carreira de publicitário era nos anos 1980, estilista nos anos 1990 e DJ na primeira década do milênio. De forma similar, cursos e livros sobre vinhos também brotaram como coelhos nas grandes cidades. Afinal, comer bem e beber mal não faz muito sentido.
Os franceses dizem que comer é um ato de civilidade. Inclusive criaram uma ciência – art de la table – para deixar as mesas mais bonitas. Para os italianos, comer bem é um sacro ofício, um ritual quase divino. E olha que de fé, eles entendem. Como não dá pra brincar com fé e é preciso trazer mais civilização aos tempos sombrios em que vivemos, nasceu no início deste ano a ideia de um Fórum que debatesse o enoturismo. E ele vai acontecer em novembro próximo.
Se a produção do vinho no Brasil avança com entusiasmo, o mesmo não ocorre com o turismo de vinhos. Boas iniciativas surgiram no Sul e também na região de São Roque (SP). Mas muito há que ser feito. O caminho natural é, obviamente, ouvir os profissionais do setor e aprender com os destinos internacionais que já colhem bons resultados.
O enoturismo pode enfrentar menos desafios que outros segmentos de mercado. Primeiro porque já tem uma clientela fiel e madura em seus hábitos de consumo e viagens. Depois porque, como dito anteriormente, não falta benchmarking: França, Itália, Portugal, Alemanha, Chile, Argentina, Califórnia, África do Sul e Oceania.
Trata-se de um segmento que também pode abrir frentes para outros produtos em nosso País, como a cachaça. A bebida deixou de ser vista com preconceito e hoje, com o qualificador artesanal, virou cool. Muita gente se queixa da rota de cachaça, que passa por Salinas, em Minas Gerais, porque o turismo nem chega aos pés da cachaça.
O Brasil desperdiça muitas oportunidades. Não sei ao certo se por preguiça, por falta de autoestima, desânimo ou ignorância. Em todas as indústrias nacionais, e mais ainda no turismo, sinto uma falta de interesse em alcançar o estado da arte. Chineses e indianos perceberam que não havia razão nenhuma para ditarem as cartas neste novo século, deixando a ideia de subdesenvolvimento para trás. Nós, não. Gritamos orgulhosamente para os quatro cantos que só nós temos a palavra saudade em nosso dicionário. Saudade de quê? Da ditadura? Da escravidão? Da época colonial?
Falta-nos olhar para frente. Para um futuro realmente esplêndido, já que nosso berço não o é, ao contrário do que dizem por aí. Falta-nos também humildade para ver que temos de melhorar. E para isso é preciso aprender e discutir. E aprender a discutir. Daí a ideia de um Fórum. Na antiga Roma, conhecia-se como fórum a praça pública onde eram tratados os negócios do povo e onde tinham lugar os julgamentos. O fórum costumava situar-se fora das muralhas da cidade (aliás, fórum significa “fora”) e constituía um ponto de ligação entre esta e o exterior.
Assim, nada melhor do que um Fórum para expressar o que se busca nesse mercado que junta dois prazeres: vinhos e viagens.
Ricardo Hida é formado em administração pela FAAP e pós-graduado em comunicação pela Cásper Líbero. Foi diretor da HT Eventos, executivo de vendas na Air France-KLM, gerente de marketing na Accor Hospitality e diretor-adjunto do Escritório de Turismo da França no Brasil. Atualmente é CEO da Promonde. Dirigiu a comissão de turismo da Britcham e CCFB e é diretor da ABTLGBT. Ele escreve no Brasilturis às quartas-feiras. Contato: ricardo@promonde.com.br