Em 18 de agosto, o museu Afro Brasil, em So Paulo, inaugurou a exposio “Gullah, Bahia, frica”, que tem por foco o gullah, dialeto do sul dos EUA que tem rastros no Brasil e na frica. A reunio de comunidades da dispora africana por meio da linguagem e tambm do turismo, como no caso do Black Travel Movement, foi o centro desta entrevista com o artista plstico Emanoel Arajo, fundador e diretor do museu.
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Folha – Qual a importncia dessas iniciativas tursticas?
Emanoel Arajo – muito importante o turismo entre culturas das mesmas origens, “afro-atlnticas”, uma palavra de que gosto muito. H muitos anos, a comunidade negra norte-americana vai a Cachoeira, na Bahia, no 13 de agosto, nas festividades de Nossa Senhora da Boa Morte.
Como eles esto distanciados da questo catlica, interessante que comecem a entender a questo sincrtica do Brasil, de Cuba, da santera e de outras comunidades afro-atlnticas. E por que no uma forma de turismo tambm? O bumba-meu-boi do Maranho, o maracatu de Pernambuco…
Nos EUA, o turismo tnico visto como uma forma de auto-reconhecimento…
Sim, uma forma, acho, de auto-reconhecimento e, inclusive, de preservao. Na medida em que essas comunidades, muitas vezes, so minoria. No Brasil, tambm h o tambor de crioula, o tambor da Casa das Minas, o candombl da Bahia. Essas manifestaes que resistiram ao tempo e que esto, de certa forma, guardadas no novo mundo afro-atlntico. muito importante para a subsistncia delas, de sua memria, que isso seja motivo tambm de viagens e de reconhecimento. De estudos.
Essa tendncia de viajar em bloco ao exterior tambm pode vigorar entre a comunidade negra do Brasil?
Por que o negro hoje viaja? Por uma questo econmica, de uma classe mdia que est se formando e que foi, durante muitos anos, reprimida para no se formar.
Esse primeiro passo, viajar de avio, importante Brasil afora. E depois, em uma segunda etapa, viajar pelo mundo. Isso naturalmente vai acontecer, como acontece com a comunidade negra norte-americana. uma questo de conhecimento e de demanda econmica que vai fazer com que as pessoas possam ir para a Europa, e da Europa possam ir para a frica, porque a frica est l, esperando. Assim como a Amrica Latina.