Recessão atinge turismo nas cidades históricas de Minas

Beto Novaes/EM/D.A Press - 18/12/2014

Nem os tapetes coloridos de serragem, as rezas em coros e todos os ritos centenrios podem reverter o impacto da crise econmica nas cidades histricas de Minas Gerais. Acostumados com a fama e uma boa demanda at mesmo em dias normais, esses municpios esto, agora, procura de turistas. A semana santa que historicamente seria o boom para empresrios dessas localidades, virou a ponta de um iceberg para muitos hotis em Ouro Preto, Mariana, Tiradentes, So Joo del-Rei e Diamantina, onde, em muitas pousadas, a uma semana para a Sexta Feira da Paixo, no h nem a metade de quartos reservados. A situao vem desde 2014, quando esses locais passaram a viver na “busca por hspedes”. Uma das estratgias adotadas foi a reduo do preo das dirias em at 30%. Mas nem assim as pousadas voltaram a ficar lotadas.

“A hotelaria anda de mos dadas com a economia. Quando uma vai mal, a outra segue pelo mesmo caminho”, avisa a presidente da Associao Brasileira da Indstria de Hotis de Minas Gerais, Patrcia Coutinho. Com o mercado financeiro prevendo uma inflao acima de 8% ao ano, bem acima da meta do governo federal de 6,5%, o que tem corrodo o oramento das famlias, fazendo-as recuar nos gastos, muitos empresrios do setor hotelereiro, segundo Patrcia, esto acuados. “Muitos esto com medo de investir e o turismo vai sofrendo com isso.”

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Quem visita, hoje, Ouro Preto, na Regio Central de Minas, sente o impacto. Os muitos turistas antes vistos pelas ladeiras esto desaparecendo. Diante da queda, que segundo empresrios deve ter sido em mdia de 40% na taxa de ocupao, restou ao setor reduzir o valor das dirias, em mdia, em 30%. “Temos 22 acomodaes e tem dias que no h ningum nelas. Antes do segundo semestre de 2014, vnhamos mantendo uma mdia de 10 pessoas por semana”, comenta a gerente do Hotel Solar de Maria, Ana Paula Gomes de Carvalho. Ela tem apostado nas promoes para atrair a clientela. “Para se ter ideia, a diria de um apartamento standard aqui custava R$ 288 e a reduzimos para R$ 221. Um apartamento melhor custaria R$ 444, e passamos para R$ 332”, conta.

A mesma frmula tem sido usada por Csar Tropia, dono da Pousada Mezanino, em Ouro Preto. Segundo ele, no ano passado, tinha reserva antecipada para todos os perodos do ano. “Agora, no tenho nada fechado para os prximos meses. A taxa de ocupao caiu em 40%, sendo otimista”, diz. Ele conta que, o micro-empresrio, alm da baixa procura, enfrenta os aumentos de vrias contas, principalmente a de energia. “A minha diria j era uma das mais baixas da cidade e no tenho como reduz-la. Cobro R$180, mas o meu custo de mant-la muito alto. A despesa na lavanderia, no fornecedor de alimentos aumentou. A cidade inteira est sentindo, desde o dono da mercearia at a dona que vende queijos para ns”, conta

Tradicional no municpio, a Pousada do Mondego, que j hospedou grandes polticos, tambm vive dias ruins. O dono, Ricardo Pereira, se diz revoltado com a situao pela qual passa Ouro Preto e culpa a poltica econmica do governo federal pela situao. “A nossa queda no nmero de hspede foi de 80%. Ouro Preto Patrimnio Histrico da Humanidade, com maior conjunto barroco do planeta e o turismo aqui est no cho. Na semana santa, alugava as acomodaes com um ano de antecedncia. Agora, no. Estamos beira de uma convulso social”, comenta. Ricardo tem duas pousadas na cidade e diz que, como est fazendo reformas na Mondego, o que reduziu o nmero de quartos disponveis, possivel que, para a Pscoa, ele consiga uma lotao. “A minha Pousada D´Ouros ficou fechada seis meses por causa da baixa procura e a abro em eventos. Para a Pscoa, s h 50% dos quartos alugados”, diz, protestando que no vai baixar os valores de suas dirias, que chegam a R$ 802 pela sute master.

O presidente do Sindicato dos Empregados em Turismo, Hospitalidade de Ouro Preto e Regio, Otaviano Mendes, lembra que o carnaval no foi to bom na cidade e diz que, alm do cenrio econmico, o setor sofre com a concorrncia das repblicas, nas quais muitos jovens preferem se hospedar. “J tivemos um turismo muito forte aqui, onde havia inclusive, pousadas com dirias de R$ 1,2 mil. Hoje, a que cobrava este valor reduziu para R$ 480”, revela, dizendo que aqueles empresrios que no diminurem as tarifas vo perder clientes.

Bem perto dali, a situao a mesma ou, talvez, pior. Em Mariana, a cerca de 20 quilmetros de Ouro Preto, a reclamao dos empresrios que a cidade, que recebia os funcionrios de mineradoras, perdeu cerca de 70% da clientela no setor de hotis. Isso porque a queda no preo do minrio de ferro afetou muitas das empresas do setor. “A cidade est parada, ningum compra nada. J baixei minha diria de R$ 180 para R$160 e muitos colegas da rea j falam em fechar as portas”, comenta Edson Antnio, dono da Pousada Rainha dos Anjos. No Hotel Providncia, a queda foi a mesma e, segundo o gerente-geral, Antnio Dinis, foi preciso reduzir as tarifas, de R$ 230 para R$ 180. “Temos um centro de conveno e as mineradoras sempre promoviam eventos aqui. Agora, tem trs meses em que no h nada”, diz.

DEMISSO  Em Diamantina, no Vale do Jequintinhonha, a situao j faz com que haja demisses no setor da hotelaria, principalmente em locais tradicionais da cidade. Segundo Jaqueline Arajo, da Pousada do Garimpo, a cidade vive um dos perodos mais fracos de turismo. “Fazemos promoes com descontos de 30% e mesmo assim estamos com 50% de taxa de ocupao para a Semana Santa. No sabemos se a falta de divulgao ou a crise econmica que tem feito os turistas a no virem. Tivemos que reduzir nosso quadro de funcionrios de 35 para 32 e acho que vamos enxugar mais. Outras pousadas tm feito o mesmo”, conta.

Em outro roteiro tradicional de Minas, Tiradentes, o quadro o mesmo. Aline Garcia, presidente da Associao de Empresrios de Tiradentes, conta que, geralmente, nesta poca do ano, os pacotes de Pscoa estariam todos fechados. “Ainda h muitas vagas. Ns temos feito aes com os empresrios para informar como driblar a crise. uma preocupao real”, diz. Na Pousada Tiradentes, o gerente Jos Nildo Flor da Silva conta que os preos das dirias cairam de 10% a 20%, e para o pacote da Semana Santa, a reduo foi maior: passou de R$ 1,4 mil, no feriado de 2014, para para R$ 1mil. “No est fcil para nenhum de ns. A diria normal ficou mais barata e ainda temos vagas”, comenta Vanessa de Paiva, gerente da Pousada Neuza Barbosa.

Em So Joo del-Rei, a histria se repete. “J tivemos taxa de ocupao de 100%. No ano passado, a gente indicava outras pousadas a quem procurava, tamanho era a demanda. Hoje, os outros locais nos ligam para saber se temos algum para indicar”, comenta Ctia Regina, funcionria da Pousada Casa dos Contos.

Em situao diferenciada

Enquanto a maioria das pousadas das cidades histrias tem como alvo um pblico de classe mdia e sofre com a crise, h estabelecimentos que ainda registram uma boa procura. So aqueles que atendem a clientela de maior poder aquisitivo. o caso da pousada Pequena Tiradentes, em Tiradentes, onde, segundo a gerente comercial e de marketing, Gabriela Barbosa, no houve reduo nas tarifas. A diria passou at por aumento: de 10% para dias normais e de 20% a 25% em feriados. “Para a Semana Santa, temos 85% dos quartos ocupados, sendo que a menor diaria varia de R$ 3,2 mil a R$ 5,8mil para as trs noites”, comenta.

Em Ouro Preto, segundo o gerente do Hotel Solar do Rosrio, Niley Ulhoa, com a alta do dlar, o brasileiro tem procurado as cidades do interior e para a Semana Santa o estabelecimento est com 100% de taxa de ocupao. No local, as dirias variam de R$ 325 a R$ 865. (LE)