Precursor dos campos de concentração preserva detalhes de tragédia nazista

As torres dos guardas, as cercas de arame farpado e as oficinas de trabalho forado seguem intactas como eram 80 anos atrs. Pedaos de trilhos de trem fixados no cho recordam como era o caminho de entrada de um local que por anos no teve nenhuma porta de sada.

A 20 km do centro de Munique, no sul da Alemanha, o memorial do campo de concentrao de Dachau mantm preservado com riqueza de detalhes o cenrio de um dos locais mais simblicos do regime de Adolf Hitler.

O lugar foi o primeiro dos campos de concentrao alemes, aberto menos de dois meses aps a chegada de Hitler ao poder, em 1933. L foi desenvolvido e testado o conceito que acabou aplicado em outros locais pela Europa, como Auschwitz, na Polnia.

Inicialmente, o campo de Dachau funcionou como crcere de presos polticos. Com a crescente perseguio na dcada de 1930 a grupos como judeus, homossexuais, ciganos e imigrantes, acabou recebendo pessoas de inmeras nacionalidades, incluindo presos de guerra.

A superlotao e a precariedade das instalaes contribuam para a matana dos alvos do regime. Dezenas de milhares de pessoas ficavam abrigadas em 36 barraces que serviam de cela. Ao longo de 12 anos, passaram por l 200 mil presos. O nmero de mortes incerto, mas estimado em ao menos 40 mil.

Hoje, apenas dois dos barraces ainda esto em p, com rplicas dos beliches da poca e de plataformas em que os prisioneiros dormiam literalmente amontoados.

O ptio onde os presos eram obrigados a perfilar todas as manhs para a contagem hoje tem instalaes artsticas em memria aos que morreram no local.

Por todo o complexo, painis contam detalhes inacreditveis do dia a dia em Dachau, como um manual de instrues milimtricas sobre como cada preso deveria arrumar a cama. Qualquer descumprimento da “regra” servia de pretexto para punies de todo tipo.

Uma faixa de grama prxima s cercas de arame farpado, tambm ainda preservada, servia para delimitar a rea de circulao dos prisioneiros. Quem ultrapassasse era morto a tiros. E muitos, ainda assim, cruzavam propositalmente o limite para dar fim ao sofrimento.

O ponto mais impactante de uma visita pelo campo de concentrao, no entanto, a parte do crematrio, em uma rea afastada do ptio central. L esto os fornos usados para se desfazer dos corpos e uma cmara de gs.

Em um bosque ao lado do prdio, uma pequena trilha leva a um ponto de fuzilamentos e a uma vala comum. Uma placa aterradora informa que ali h os restos mortais de “milhares de desconhecidos”.

Quando militares dos Estados Unidos libertaram Dachau, um dia antes da morte de Hitler, em 1945, a populao da cidade foi convocada pelos americanos para ir ao local e testemunhar a carnificina.

CAPELAS E MUSEU

A rea do antigo campo de concentrao, equivalente a 45 campos de futebol, mantida h 50 anos por uma associao de sobreviventes e vtimas, o Comit Internacional de Dachau. A visita gratuita e um audioguia pode ser locado na recepo por 3,50 (cerca de R$ 12), com opo tambm em portugus.

A entidade transformou um setor ao fundo do complexo em capelas de diferentes religies. O museu do campo de concentrao funciona em um prdio que servia como oficina de trabalhos forados. O acervo inclui objetos e documentos da poca, vdeos, cpias de jornais antigos e uma linha do tempo com o passo a passo da chegada de Hitler ao poder. Um livro traz nome a nome as milhares de vtimas mortas.

Andreas Gebert-3.mai.2015/Efe

A chanceler alem Angela Merkel com Max Mannheimer (na cadeira de rodas), sobrevivente do campo de Dachau
A chanceler alem Angela Merkel com Max Mannheimer (na cadeira de rodas), sobrevivente do campo de Dachau

s vsperas do aniversrio de 70 anos de libertao do campo, em abril deste ano, o comit providenciou um novo porto de ferro para o complexo, com o caracterstico lema nazista “Arbeit macht frei” (o trabalho liberta). No fim de 2014, a pea havia sido furtada.

O aniversrio foi lembrado por personalidades como Barack Obama e Angela Merkel, que visitou o local e se encontrou com sobreviventes em uma cerimnia. Obama, em mensagem, repetiu as palavras com as quais um oficial americano relatou o que tinha encontrado em Dachau: “No se pode imaginar que exista isso em um mundo civilizado.”