Pirenópolis, em Goiás, se prepara para entrar em ‘guerra’

Heitor e Silvia Reali, do site Viramundo e Mundovirado

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Booom, cabumm, buum, tumm! O estrondo da roqueira de pólvora vai acordar toda a cidade que já está dividida entre mouros e cristãos. As batalhas começam dia 24 de maio e terminam dois dias depois, e tem local marcado: a Arena da Cavalhada. Escolha um lado e aliste-se.

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A Guerra Divina acontece 50 dias depois da Páscoa, na Festa do Divino, isso desde 1727. Quando toca o sino da Igreja Matriz, a procissão vai até a Arena da Cavalhada. Lá, o rei cristão, acompanhado de onze garbosos cavaleiros vestidos de azul, desafia os doze cavaleiros árabes que luzem ao sol em suas vistosas capas de veludo vermelho. Os embaixadores de ambos os exércitos galopam em um balancê ritmado e num bate-boca arcaico tentam fazer o outro mudar de crença.

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Não deu certo o combate das palavras? Então haverá o ‘arrazoado dos reis‘– guerra. No intervalo da peleja começa a algazarra (do árabe al-gazara, gritaria). Entra em cena um endiabrado tropel de cavaleiros mascarados vestidos de trapos, cobertos de capim, cipós e latas velhas, com caras de vampiro, caveira, lobisomem, capeta e onça. Há os mascarados faceiros, em roupa de cetim, com cara de boi, e chifres recobertos de rosas de crepom. Os cavalos são complementos de todos eles, compondo um visual que remete a centauros oníricos. Encanta. Após dois dias de lutas encenadas e banzés dos mascarados soam as alvíssaras (do árabe al-basara, boa nova): os mouros se convertem à fé cristã.

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Quem gosta de viagens com começo, meio e fim, poderá ser um espectador na festa. Mas a Cavalhada de Pirenópolis gosta que todos participem. Então, Silvia e eu aceitamos o convite, pedimos umas roupas bem coloridas emprestadas dos cavaleiros, compramos duas máscaras e nos divertimos no furdunço. Dá uma olhada como ficou nosso look!

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Em tempo: O sagrado e o profano, a realeza e o popular, a diversidade e a singularidade fizeram da Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis, em Goiás, Patrimônio Imaterial do Brasil, inscrito pelo Iphan no “Livro das Celebrações”.

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Em tempo dois: Casas seculares, sedes de fazendas, praças e igrejas, dentre elas a Matriz de Nossa Senhora do Rosário, de 1727, além do Theatro de Pyrenópolis em estilo art deco, fazem parte do rico patrimônio arquitetônico da cidade e, por sua importância e conservação, foi declarado Patrimônio Histórico e Arquitetônico pelo Iphan em 1998.

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Mais um: Se é gastando a sola dos sapatos que se conhece uma cidade, em Pirenópolis isso vale para se descobrir o diversificado artesanato da região nas charmosas lojinhas pontilhadas pelas ladeiras. São máscaras em papel machê, cestaria, tapetes feitos em teares manuais, bonecos em cabaças, cerâmica, as rosas de crepom ou de chita –um dos símbolos dos mascarados, recortes de papel, além de jóias em prata. Nas ruas o calçamento de quartzito reluz ao sol.

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