O admirável mundo novo das adegas portuguesas

É inegável o valor arquitetónico, patrimonial e social de antigas caves e adegas onde pulsa a história de grandes regiões vinícolas portuguesas como o Douro, Dão ou o Alentejo. Contudo, nem sempre estas estruturas geracionais se adequam ao novo mundo proporcionado pelos vinhos: desafiante, arrojado, competitivo, motor de atratividade para as regiões.

De há uma década a esta parte, Portugal não foge a uma nova orientação mundial para a forma como olhamos para as casas-mãe de grandes vinhos. O projeto de novas adegas é entregue a arquitetos de nomeada e o produto final são espaços vocacionados para o enoturismo e com processos produtivos ambientalmente sustentáveis.

Siza Vieira, Carlos Vitorino, Nuno Pinto Cardoso, são alguns dos nomes que emprestaram a perícia de arquitetar espaços singulares a novas adegas de Norte a Sul do país.

Quem visita este admirável mundo novo das adegas portuguesas vai encontrar, não só linhas arrojadas na feição dos edifícios, mas também a prevalência de materiais nacionais, como a cortiça ou os xistos, em consonância com o carácter das regiões onde se integram estas grandes casas.

Conta também o visitante com espaços vocacionados para o acolher, com lojas, alojamento, áreas expositivas e o convite para descobrir uma nova dimensão dos vinhos lusos.

1. Herdade do Freixo, em Freixo, Alentejo

Quem entra na Herdade do Freixo percebe a tarefa hercúlea do arquiteto Frederico Valssassina: esconder na planície uma adega com milhares de metros quadrados. A estrutura imiscui-se 40 metros abaixo do solo, esgueira-se sob as vinhas e, aí, onde não perturba a paisagem, revela o seu design arrojado, assente em linhas “limpas” e cruas e com decoração entregue a materiais rústicos, a madeira de carvalho e o xisto.

Há perto de 11 anos, no decorrer de um jantar nasciam os fundamentos da Herdade do Freixo. Pedro de Vasconcellos e Souza sentava-se à mesa com um grupo de amigos. Entre eles reuniu-se o investimento necessário para arrancar com o projeto. Trezentos hectares de uma propriedade pertença da família Vasconcellos e Souza entraram na sociedade. Na Quinta do Freixo foi instalada a adega e plantados de raiz 26 hectares de vinha.

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Um dos objetivos, produzir vinhos que procuram a matriz dos néctares alentejanos, com estrutura, e corpo cheio. Neste caso, com um outro propósito, acrescentar-lhes frescura, mineralidade, elegância e boa evolução com o tempo.

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No interior o visitante depara-se com um edifício que o obriga a uma viagem de circum-navegação em torno do seu centro. Quem conhece ou já visitou o Museu Guggenheim, em Nova Iorque, fará o paralelismo. Uma enorme espiral que obsta à utilização de escadas e que transporta o visitante a todos os espaços da estrutura.

Na Adega da Herdade do Freixo, o encontro com o vinho faz-se num ambiente que os néctares gostam: estável, calmo, quanto baste de luz e com temperatura controlada. Estamos no Alentejo território dado a grandes amplitudes térmicas. A descida até ao âmago da estrutura, à sala onde se perfilam 89 barricas de madeiras novas, obedece a um ritual de paragens. O visitante é convidado a deter-se na loja e sala de provas, divisão que confina com um jardim interior. Finalmente, no fundo da adega, a zona técnica. Também ai, o vinho descansa em tonéis de 225 litros em barricas produzidas pelo melhor construtor mundial.

Herdade do Freixo, Freixo

Telefone: 266 094 830

E-mail: freixo@herdadedofreixo.pt

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2. Caminhos Cruzados, em Nelas, Dão

No concelho de Nelas (Vilar Seco), a terra respira pacatez, neste Centro de Portugal. Região de contornos abruptos e montanhosos. Aqui, descansando, contudo, num planalto entre os 400 e os 700 metros de altitude. A nova adega do produtor Caminhos Cruzados assume-se plenamente na paisagem. Dois milhões de euros de investimento que resultaram num edifício com perto de dois mil metros quadrados de puro betão armado.

A nova casa da Caminhos Cruzadas [ver aqui reportagem completa no SAPO Lifestyle] é da autoria do arquiteto Nuno Pinto Cardoso. Um desafio que lhe foi proposto em 2014, pela equipa desta Casa inserida na região do Dão, nascida em 2012. O de construir uma adega energeticamente sustentável e com um compromisso ambiental. Para mais com uma estrutura que dispensa pilares internos e com uma fronte idêntica ao logótipo da empresa e ao conceito da mesma, duas linhas que se cruzam. Foi no berço de vinhas novas, plantadas há três anos, que nasceu a nova adega.

Imaginemo-la como dois enormes monólitos que, de uma posição ereta inicial, frente a frente, tombaram sem choque e sem se destruírem mutuamente. Tocam-se no solo. Sob os dois portentos em betão, abre-se a porta para o seu seio. Ocorre-nos a intemporalidade da pedra, do xisto e do granito dos solos da região. Depois, a delicadeza das vinhas perfilando-se a partir deste centro empedernido.

O produtor tem uma componente de Enoturismo com visitas à adega, vinha e prova de vinhos, piqueniques nas vinhas, peddy paper, workshops, entre outras atividades.

Caminhos Cruzados

Estrada Municipal de Algeraz – Carvalhar Redondo, Nelas

Telefone.: 232 940 196

E-mail: geral@caminhoscruzados.net

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3. Adega da Quinta da Gaivosa, em Santa Marta de Penaguião, Douro

Vinte e cinco velas é quanto sopra a Quinta da Gaivosa este 2018. A marca detida pela família Alves de Sousa, conta com uma história ligada aos vinhos durienses transversal a cinco gerações. Uma casa que tem em Domingos Alves de Sousa o patriarca, um engenheiro civil de formação que em 1992 se lança na produção de vinhos. Tornou-se um nome incontornável da região, no país e mesmo no estrangeiro. Em 1999, a “Re­vista de Vinhos” atribui-lhe o título de “Produtor do Ano”, feito que volta a repetir em 2006.

Quando a arquitetura se une a grandes casas vitivinícolas o resultado é surpreendente. As adegas deixam de ser meros espaços para a produção e estágio de vinhos, para se tornarem espaços de visita em interação com a paisagem.

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Ver galeria com as novas adegas portuguesas

A adega, projetada de raiz há três anos, foi concebida pelo arquiteto transmontano António Belém Lima. Um projecto que esteve na corrida ao prémio de arquitectura contemporânea Mies van der Rohe.

Um edifício em tijolo negro, portentoso como uma fortaleza, negro como um néctar tinto. Nesta estrutura todos os detalhes contam. As paredes exteriores são duplas e ventiladas para que a temperatura no âmago do edifício, onde reside o centro de vinificação e repousam os vinhos, se mantenha estável, independentemente dos humores das estações. Um clima quente de verão e frio de inverno.

As grandes janelas viram-se para a paisagem de socalcos que desce até ao Douro. Janelas espelhadas, devolvendo a quem assome à adega, os contornos das montanhas que descem até ao grande rio do norte, as vinhas, os olivais, as manchas de bosque e o céu.

Dentro de portas, a surpresa, o edifício é de uma alvura inquestionável. O novo edifício capacitou este produtor duriense para o Enoturismo. E não são só os visitantes interessados em descobrir os segredos atrás da produção de vinhos como o Gaivosa, Primeiros Anos, Reserva Pessoal, Vinha de Lordelo e Vinha do Abandonado, que visitam a adega. Arquitetos e estudantes de arquitetura, nacionais e estrangeiros, acorrem à Gaivosa para perceber os meandros desta adega.

As visitas podem ser marcadas no site do produtor.

Quinta da Gaivosa

Santa Marta de Penaguião

Telefone  254 822 111

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4. Quinta do Encontro, em Anadia, Bairrada

A obra do arquiteto Pedro Mateus não engana na feição o visitante menos atento a este território da Anadia, na região Centro. Inaugurada em 2008, enquadrada à distância pelas serras do Buçaco e Caramulo, a estrutura tem a forma de uma gigantesca barrica de vinho e, no interior, o visitante é convidado a deslocar-se como se viajasse sobre um megalómano saca-rolhas. A estrutura segue a linha de uma congénere mais a sul, a Herdade do Freixo, no Alentejo, e todo o interior faz-se em espiral. Nos quatro pisos do edifício o apaixonado pelos vinhos contacta com todo o processo a ele associado na produção, a adega e a vinificação, a loja com venda dos néctares da casa e o restaurante.

Quinta do Encontro
São Lourenço do Bairro, Anadia — Aveiro
Telefone: 231 527 155
E-mail: enoturismo@quintadoencontro.pt

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