Enoturismo: Chile é preferência entre os brasileiros

Restaurante do famoso chef Francis Mallmann funciona dentro da vinícola Montes

Por Didu Russo*

O Chile é realmente privilegiado quando o assunto é vinho. Imagine que as condições climáticas e geográficas do país possibilitam algo raro em nível mundial, pois o território é protegido naturalmente a leste por uma cordilheira, a oeste por um oceano, ao norte por um deserto e ao sul por uma geleira. Não bastasse isso, seu solo é rico em cobre, o que dificulta a propagação de doenças.

No Chile, 94% de todas as vinhas estão em ‘Pé-Franco’, nome que se dá a uma videira que foi plantada diretamente no solo – a maioria das videiras em todo o mundo é plantada por enxertia. Isso quer dizer que quando você bebe um Gran Cru de Bordeaux, aquele Cabernet Sauvignon tem uma raiz de vinha do tipo americana. Essa foi a forma que a Europa arrumou para superar a praga da Phyloxera vatraxtis que dizimou as vinhas de quase todo o planeta nos anos 1875. Essa praga nunca chegou ao Chile.

Há uma curiosidade em relação a esse tema. Por uma ironia do destino, quando a francesa Bordeaux afundou-se na Phyloxera e perdeu suas vinhas de Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, etc, foi justamente o Chile que veio em socorro. Isso porque dez anos antes, o país havia comprado um enorme volume de castas vitis viníferas da França para reformar seus vinhedos.

Voltando ao tema que nomeia esse artigo, vale lembrar que o brasileiro importa 75% de todo o vinho fino que consome. Desse volume, nada menos que 43% vêm do Chile! Em seguida vêm os argentinos (13%), portugueses (13%), italianos (11%) e franceses (10%). E o fato é que tanto a proximidade como a qualidade dos vinhos chilenos – notadamente os Cabernet Sauvignon – são motivos suficientes para que os brasileiros elejam o Chile como destino enoturístico. Cerca de 500 mil brasileiros viajaram para o país em 2017 e, certamente, a maioria foi visitar alguma das 340 vinícolas locais.

O crescimento da oferta de enoturismo nos quatro principais vales (Maipo, Aconcágua, Casablanca e San Antonio) visitados pelos brasileiros foi incrível. Há novos restaurantes – como o do famoso chef Francis Mallmann, que funciona dentro da vinícola Montes – e diversas atividades – como tour a cavalo na vinícola Odfjell, orgânica e biodinâmica; passeios em balão; programa de vindima e ‘faça seu próprio vinho’, entre outras.

Vale registrar ainda a abertura de várias vinícolas do Movimento de Vinhateiros Independentes (Movi), associação que reúne alguns dos mais talentosos produtores do Chile; e a oferta de experiências eno-gastronômicas em Santiago, como os winebars como os Bocanariz, Barrica 94, Lavinocracia, La Mision e Baco.

Hoje há até enoturismo no Chile dirigido exclusivamente para o mercado brasileiro. É o caso da agência 321 Chile Turismo de Experiência, do brasileiro Artur Temper Faria, um cara apaixonado por vinhos que foi para lá estudar e hoje é pós-graduado em vinhos chilenos pela Universidad Catolica. Com certificação nível 1 e 2 da escola inglesa WSET, maior e mais reconhecida instituição de formação de vinhos no mundo, Faria percebeu que havia uma oportunidade de levar brasileiros para visitar vinícolas e fazer a visita guiada em português.

O negócio prosperou e, em 2017, ele atendeu nada menos que 8 mil brasileiros com traslados e visitas guiadas. O empresário brasileiro também oferece o Wine Taste 360o, um minicurso de vinhos acompanhado com jantar harmonizado de cinco tempos que é preparado por ele mesmo. Ou seja, o turista é atendido por um brasileiro e volta de lá sabendo mais de vinhos e com uma experiência enogastronômica excepcional na bagagem.

Para este ano, Faria lançará um roteiro em vinícolas selecionadas por este que vos escreve, um apaixonado por vinhos “naturebas” – orgânicos, biodinâmicos ou naturais. Todas ficam próximas a Santiago, em Vales como Maipo, Casablanca e Cachapoal. Os viajantes terão vantagens exclusivas para degustações e visitações que ninguém tem para oferecer em vinícolas como Antiyal, Odfjell, Rukumilla, Catrala e Attilio Mochi Passionate Winemakers.

Que tal? Pense em Chile em seu próximo roteiro.

Saúde!

* Didu Russo é fundador da Confraria dos Sommeliers, autor de livros e reportagens focadas no universo dos vinhos (www.didu.com.br)