Urbanismo de múltiplos usos projeta Santa Catarina no mapa das cidades inteligentes

O conceito de empreendimentos de uso misto — que unem moradia, trabalho, lazer e serviços em um só endereço — vem ganhando força nas principais metrópoles do mundo e, cada vez mais, encontra espaço no Brasil. Considerados parte de uma nova visão de urbanismo sustentável, esses projetos se tornaram resposta estratégica para cidades que enfrentam desafios de mobilidade, qualidade de vida e sustentabilidade.

De Nova York a Singapura, os complexos multiuso já são parte estruturante da vida urbana. Ícones como o Hudson Yards (Nova York), o The Shard (Londres) e o Marina Bay Sands (Singapura) mostram como a integração de usos pode transformar não apenas o skyline, mas também a dinâmica social e econômica das cidades.

No Brasil, o movimento se intensifica com projetos como a Cidade Matarazzo (SP), o Parque da Cidade (SP), o Porto Maravilha (RJ), além de iniciativas em Santa Catarina, como a Cidade Pedra Branca (Palhoça), o WOA SKY (São José) e o VivaPark (Porto Belo). Esses empreendimentos indicam que o urbanismo de múltiplos usos deixou de ser uma exceção para se tornar tendência em diferentes regiões do país.

Pesquisas reforçam a relevância desse modelo. Segundo a CBRE (Coldwell Banker Richard Ellis), empreendimentos de uso misto podem gerar até 30% mais valorização imobiliária em relação a projetos tradicionais. Já o Knight Frank Global Cities Report aponta que sete em cada dez grandes lançamentos recentes em metrópoles globais adotam o formato multiuso.

Para o diretor de locação e pesquisa da CBRE, Felipe Giuliano, a volta ao trabalho presencial e a taxa baixa de desemprego no país têm fomentado o mercado de escritórios e, como consequência, as pessoas querem morar perto do trabalho, despertando desejo de aquisição de projetos residenciais. “O mercado acaba criando residências próximas dos escritórios para executivos e suas famílias morarem”, afirma Giuliano.

O relatório NordLB (Spring 2025) também mostra que projetos de uso misto — combinando escritórios, comércio e residências — têm crescido, seja em novos empreendimentos ou na conversão de edifícios existentes.

O conceito também dialoga com a chamada “cidade de 15 minutos”, onde todos os serviços essenciais estão acessíveis em curtas distâncias, reduzindo deslocamentos e ampliando a qualidade de vida. No Brasil, esse movimento encontra respaldo no comportamento do consumidor: pesquisa da Brain Inteligência Estratégica (2024) mostra que mais de 60% dos brasileiros em áreas urbanas priorizam conveniência e qualidade de vida ao escolher onde morar.

Santa Catarina no radar

Santa Catarina começa a figurar nesse mapa de inovação urbana com projetos de grande porte. Um dos destaques mais recentes é o WOA SKY São José, em construção na Grande Florianópolis. Com mais de 75 mil m² de área integrada, o empreendimento prevê residências, escritórios, comércio e lazer em um único complexo, alinhado às premissas de conectividade e sustentabilidade.

“Mais do que um empreendimento, o WOA SKY São José se insere em um movimento maior de transformação urbana. Estamos falando de cidades que buscam ser mais inteligentes, sustentáveis e humanas. É nesse contexto que os complexos multiuso se consolidam como protagonistas do futuro”, destaca Patrícia Hartmann, gerente comercial da WOA.

Especialistas apontam que esse tipo de iniciativa reposiciona regiões inteiras, ao criar polos urbanos capazes de atrair investimentos, estimular a mobilidade inteligente e oferecer novas possibilidades de vida em comunidade. Para Marcus Araújo, fundador da Datastore e referência em inteligência de mercado imobiliário, o futuro do setor não está no tamanho das unidades ou na quantidade de quartos, mas na capacidade de atribuir significado e propósito ao espaço habitado. “O imóvel deixou de ser apenas sobre metragem. Hoje, o que conta é a identificação, a integração dos ambientes e a flexibilidade para atender às novas dinâmicas familiares e profissionais”, analisa. E mais: “essa busca por conveniência e tempo de qualidade explica o interesse crescente por empreendimentos de múltiplos usos, que unem moradia, trabalho, lazer e serviços em um só endereço. Eles traduzem, na prática, o novo estilo de vida urbano”, completa Araújo.

Um novo estilo de vida urbano

Mais do que tendência arquitetônica, os espaços de múltiplos usos representam uma mudança cultural: menos tempo no trânsito e mais tempo para relações pessoais, cultura e lazer. 

“O público dos empreendimentos de múltiplos usos é diverso e em expansão. De um lado, executivos e famílias de alta renda buscam conveniência e qualidade de vida ao reduzir deslocamentos. De outro, investidores e fundos imobiliários enxergam nesses projetos ativos de alta valorização e resiliência. Millennials e Geração Z, por sua vez, encontram nos complexos integrados a tradução de um estilo de vida urbano, vibrante e sustentável. Além disso, empresas e empreendedores se beneficiam do ecossistema criado, que transforma edifícios em verdadeiros polos de inovação e convivência”, explica Hartmann.

Em vez de grandes deslocamentos diários, o morador de um complexo multiuso encontra em seu entorno imediato todas as dimensões da vida urbana — do trabalho às compras, da saúde ao entretenimento. Esse modelo, que já se consolidou em metrópoles globais, começa a transformar também a realidade de cidades brasileiras, especialmente nos eixos onde urbanismo, tecnologia e sustentabilidade caminham juntos. “Os empreendimentos multiuso representam uma evolução natural do setor imobiliário. Eles oferecem não apenas conveniência, mas também solidez em termos de investimento e desenvolvimento urbano sustentável”, finaliza Patrícia Hartmann.