Acredito que você já tenha pensado em ir (ou até ter ido) para o Caribe, se hospedando num daqueles resorts maravilhosos, com piscinas enormes, comida à vontade e desfrutando aquelas praias cinematográficas com areia branca e mar turquesa.
Sei como é, fico feliz por já ter tido a oportunidade de curtir um lugar assim e é massa mesmo! Mas sabe o que San Blas me mostrou? É possível curtir o que o Caribe tem de mais lindo através de uma experiência única e diferenciada.
Se você nunca ouviu falar sobre o lugar, San Blas é um conjunto de aproximadamente 360 ilhas localizado no Caribe panamenho e sob domínio dos índios kuna yalas. Sim, é isso mesmo, quem manda lá são os índios e eles definitivamente não querem que a civilização tome posse do que é deles. De todas as ilhas, umas 40 são habitadas e as outras estão ali, intactas, do jeito que a natureza construiu.
Depois dessa você pode estar pensando “se está cheio de índio lá, o que eu vou fazer nesse lugar?”. Te respondo que você vai ver o que é o paraíso intocado, com pessoas que te recebem super bem, praias só para você e um mar… Ah o mar.. Definitivamente não tem igual.
Nosso roteiro era de três dias inteiros em San Blas e, para mim, foi a quantidade perfeita. Suficiente para ver o que tem de melhor, mas ainda deixar aquele gostinho de quero mais.
A melhor época para ir a San Blas é no verão, entre dezembro e fim de março. Depois disso são meses com muita chance de chuva. Eu fui durante o carnaval de 2017.
Vamos ao que interessa.
Como chegar
Créditos: Arquivo pessoal
Quem disse que chegar ao paraíso seria fácil? Você tem duas opções:
Avião fretado até a ilha de El Porvenir, que não cheguei a orçar;
Carro + barco, nossa opção e a de 99% das pessoas que aparecem por lá.
Nossa saída foi do Aeroporto Internacional Tocumen direto para San Blas. Existem transfers regulares que saem bem cedo, por volta de 5h30 da manhã e cobram U$ 25 por pessoa. Nós pedimos um transfer privado, pois só liberamos às 7h30 e o valor foi de U$ 30 por pessoa.
O trajeto é de aproximadamente 100 km, sendo 60 deles em estrada normal, mas os outros 40… Ai que a brincadeira fica séria. É um trecho pavimentado, porém sem qualquer acostamento, faixa simples de cada lado e o trajeto parece uma montanha russa. É um sobe e desce sem fim, recheado de curvas fechadas. Sugiro fortemente o uso de um remedinho anti enjoo antes de entrar no carro. Ah, o percurso é feito em carro 4×4, porque os 300 m finais não são pavimentados e só um carro com tração para passar por ali em dia de chuva.
No início do sobe-e-desce, você tem que passar por uma barreira militar (na volta é uma alfândega e você tem que abrir as malas). Após a barreira, os índios cobram U$ 20 por pessoa para entrar na terra deles. Passada a aventura inicial, você será deixado no porto. Lá é feita a cobrança de U$ 2 por pessoa só para passar por ali. Em seguida você pega uma lanchinha e segue em direção à sua hospedagem. No nosso caso, foram mais U$ 15 por pessoa de lancha.
Hospedagem
Em San Blas não existe hotel ou resort. A região possui basicamente dois tipos de hospedagem:
“Pousadas” com uma espécie de oca, geralmente com a cama ou rede sobre a areia e banheiro compartilhado. Possuem 3 refeições diárias incluídas;
Veleiros e catamarãs, normalmente com all inclusive.
Eu viajei com meus pais e meu irmão e optamos por ficar em um catamarã. Na minha caça através do Booking, encontrei o catamarã Pura Vida. Ele pertence ao casal Peter e Elaine, que vivem ali com o pequeno Arthur. Eles são de Santa Catarina e foram nossos anfitriões. Se quiser conhecer um pouco mais, visite a página nesse link: Pura Vida.
Preciso dizer que a viagem com certeza não teria sido tão sensacional se não fosse por eles. Além da recepção maravilhosa, eles foram muito atenciosos, nossas refeições eram a base de comida super fresca, como pão caseiro no café e lagosta/peixe no almoço e janta. Tudo de primeira e preparado com muito carinho! Ah, para quem não consegue desconectar, até wi fi tem na embarcação.
Admito que fiquei com receio de dormir em um barco e enjoar com o balançar, mas o catamarã é muito estável! O Pura Vida possui 4 quartos, sendo 2 de cada lado. De um lado fica a família e do outro eles alugam. Tem um banheiro exclusivo para os hóspedes e os quartos são bem ventilados. Não possui ar condicionado, mas entrava tanto vento à noite que eu chegava a sentir frio!
Eu só encontrei vantagens em se hospedar num barco. Veja só:
No barco os passeios já estão incluídos;
Cada dia dormimos numa praia diferente;
Não precisamos nos preocupar em levar comida/bebida para a praia;
É mais confortável que dormir na oca;
O sistema foi all inclusive mesmo, com as refeições, cerveja, vinho, petiscos e tudo mais que inventamos de comer até fora do barco;
Ficar numa oca significa que você vai perder alguma refeição (se fizer passeio que fica fora o dia inteiro) e a quantidade de restaurantes lá é contada nos dedos de uma mão;
Quando você faz as contas, o investimento no barco não fica tão mais alto do que na oca, principalmente levando em conta os benefícios citados acima.
Roteiro
Quando falo que San Blas é um paraíso não estou mentindo! É cada ilha/praia mais maravilhosa que a outra!
Vou contar para você o roteiro que fizemos:
1º dia – Chegamos no Pura Vida por volta das 10h. Eles estavam ancorados entre a ilha Nuinudup e a Perro Grande. As duas são lindas. Na Nuinudup tem umas índias que vendem seus artesanatos e, pelo que nos contaram e comprovamos, os dali são os mais baratos da região. Na Perro Grande, assim como em algumas outras ilhas habitadas, tem que pagar uma taxa de U$ 3 por pessoa para curtir a praia de lá, mas todas as nossas taxas estavam incluídas no pacote do catamarã também. Aproveitamos o dia por ali e no fim da tarde navegamos até a Waisaladup, nos Cayos Hollandeses, e dormimos por lá. Maravilhoso!!
Créditos: Arquivo pessoal
2º dia – Acordamos com um visual divino e praticamos snorkel por ali. Tem um coral muito legal com vários peixes para observar. A transparência da água dispensa comentário de tão incrível que é! Após o mergulho seguimos para Morodup, também conhecida como Barbecue Island. Ali também tem o pagamento da taxa e, como o nome diz, dá para fazer churrasco!! Nosso capitão Peter preparou uma picanha deliciosa e de quebra curtimos aquela siesta numa das redes disponíveis para os visitantes.
3º dia – Sério, acordar com a vista para as ilhas é de quase derramar uma lágrima de emoção de tão lindo que é! Era nosso último dia inteiro e começamos o processo de volta para Perro Grande.
No caminho paramos em Sinadup. Olha, até me arrepio só de lembrar!!! Você consegue imaginar aquele mar turquesa-espetacular-do-caribe só para você, com uma profundidade de pouco mais de 1 metro, parecendo uma piscina?
Sinceramente, se tem lugar de praia mais incrível eu ainda não conheci. Essa ilha também é habitada e os kuna yalas que nos receberam foram uns fofos!! As crianças são hiper carinhosas e ali experimentamos o tal do peixe-frango, um peixe cuja carne realmente parece de frango, e uma lagosta preparada na hora muito saborosa! À noite fomos jantar no Bar Kaibir Mega, que fica na ilha Banedup, bem ao lado da Perro Grande e Nuinudup. Esse é o restaurante mais arrumadinho da região e a comida estava bem gostosa.
A experiência
Créditos: Arquivo pessoal
Sabe quando falei no começo desse relato que ir à San Blas é uma experiência única? Eis o por que:
Passar esses três dias num barco e numa região que não é dominada pelo homem branco é uma lição de vida. Você não tem só o contato com a natureza plena, intocada e maravilhosa. Você aprende muito sobre respeito ao próximo, sobre o espaço de cada um e como funciona uma comunidade verdadeiramente unida em prol do bem coletivo.
Foram três dias lidando com pessoas muito honestas, muito dispostas a te receber bem. A alegria no olhar de cada criança kuna ao te ver é até difícil de descrever. Você se sente tão bem, vendo tanta pureza que, por alguns instantes, você até esquece o tanto de covardia que estamos acostumados a lidar no dia a dia.
Minha recomendação é: coloque San Blas na sua lista de próximos destinos. Tenho certeza que não irá se arrepender.
Por Manuela Larica, do blog Dona Viagem