As vinícolas brasileiras, ao contrário do que muitos pensam, estão produzindo vinhos de excelência. Enólogos brasileiros, e de diversas partes do mundo, participaram na semana passada, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, da 24ª Avaliação Nacional de Vinhos.
O encontro anual, promovido pela Associação Brasileira de Enologia (ABE), reuniu mais de 850 degustadores e enólogos de países produtores como Grécia, Chile, Estados Unidos, França, Guiana, Reino Unido, Uruguai e Brasil.
Na “carta de vinhos do dia”, eles ficaram encarregados de apreciar 16 amostras selecionadas entre as 75 (30%) mais representativas da Safra 2016, classificadas em um cenário de 241, produzidas em 46 vinícolas de mais de 10 microrregiões produtoras. A avaliação prévia técnica foi feita por 90 enólogos no Laboratório de Análise Sensorial da Embrapa Uva e Vinho, parceira técnica do evento, que analisaram, no mês de agosto, vinhos de 11 variedades diferentes.
A maior diversidade ficou com as tintas que, além das habituais Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, também estrelaram com a Marselan, Tannat, Tempranillo e Alicante Bouschet. Entre as brancas, destaque para a Chardonnay, Sauvignon Blanc, Moscato Giallo e Riesling Itálico.
Variedades
O enólogo Juliano Perin, presidente da ABE, ressaltou que o grande valor da Avaliação está na representatividade e na promoção dos vinhos brasileiros. “Com diferentes solos e condições climáticas, o Brasil tem potencial para cultivar muitas variedades de uva e produzir vinhos diversos. Isso apareceu na multiplicidade de amostras inscritas e se comprova no resultado que apresentamos ao público, pois foi o ano em que a Avaliação classificou a maior diversidade de variedades”.
Embora amostras de diversas regiões brasileiras, inclusive do Vale do São Francisco (BA e PE), tenham sido coletadas pelos enólogos, todas as 16 selecionadas foram da Serra Gaúcha. Vinícolas grandes como Salton, Miolo e Casa Valduga estavam entre elas, mas é bom ressaltar que os produtores de vinho que trabalham com menor escala, como a Dal Pizzol, também foram eleitas entre os melhores rótulos.
Em 24 safras, a Avaliação Nacional de Vinhos já apreciou 5.522 amostras, sendo 241 nesta edição, e o público reunido totaliza 15.467 pessoas. O evento é reconhecido por sua proximidade com a cadeia produtiva da uva e do vinho, de modo que contribui para que a produção do vinho brasileiro evolua em qualidade, tecnologia e reconhecimento. Portanto, um dos legados da Avaliação é nortear produtores e enólogos na a escolha de variedades de uvas, técnicas de elaboração e lançamento de produtos. Destaque para os espumantes brasileiros como o Chardonnay da Casa Venturini; da Domno e da Vinícola Geisse.
A Avaliação Nacional do Vinho movimenta toda a cadeia produtiva do setor. O dia do evento atrai para a pequena, porém rica, cidade de Bento Gonçalves, estudantes de enologia, sommeliers, enólogos, produtores, chefs de cozinha, donos de restaurantes e até apreciadores de vinho.
Reconhecimento
Para o enólogo da Dal Pizzol e presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Dirceu Scottá, a qualidade do vinho brasileiro tem sido reconhecida por especialistas do mundo inteiro. A luta agora, diz ele, é reduzir a tributação para que os vinhos brasileiros possam competir com os importados. “Esse ainda é um grande entrave para o crescimento da produção nacional”, diz.
Durante a passagem pela cidade, aproveitam para visitar vinícolas que abrem as portas para visitantes fomentando o enoturismo na região. A rota dos vinhos, que inclui vinícolas pequenas e centenárias como as chamorsíssimas Dal Pizzol e Don Giovani, e outras que atuam em grande escala, como é o caso da Salton e Miolo. Em todas elas, o visitante pode acompanhar o processo de produção de vinhos que começa numa visita guiada aos vinhedos, passando pela produção e fechando o ciclo com almoço e, claro, a degustação de seus rótulos.
(*) O repórter viajou a convite do Instituto Brasileiro do Vinho