Professor viaja o mundo em busca de iniciativas inovadoras

As dificuldades e limitações de uma profissão colocam diante de um profissional algumas opções, entre elas; desistir e mudar de carreira ou desistir, mas ainda assim continuar naquela profissão. Infelizmente essas duas opções são uma realidade muito comum na vida de quem escolheu a carreira da docência.

Foi diante dessa realidade de frustração e impotência, principalmente com a falta de recursos públicos, que Cléssio Bastos, professor numa escola municipal na zona rural de Goiânia (GO), decidiu ir atrás de iniciativas inovadoras na educação.

Cléssio, que leciona língua portuguesa para crianças de 9 a 14 anos na Escola Municipal José Carlos Pimenta, no Distrito de Vila Rica, já foi ao Uruguai, Peru e Angola com o projeto Looking4Heroes, criado em 2015.

Créditos: Arquivo pessoal

O professor Cléssio Bastos criou o projeto Looking 4 Heroes com o intuito de identificar e compartilhar relatos inspiradores

Em janeiro, Cléssio passou mais de 40 dias na Índia, onde fez uma imersão na The Riverside School, em Ahmedabad, escola que tem metodologia inspirada no Design Thinking, que promove a resolução de problemas de forma colaborativa e criativa e nos ensinamentos de Gandhi.

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A escola foi idealizada pela designer Kiran Bir Seth que, por ter tido sua criatividade tolhida na infância, não queria a mesma experiência par a os filhos.

“Há 2 anos venho experimentando conhecer heróis anônimos da educação e nessa caminhada vim parar na Índia, na escola que se propõe formar “super heroes”, diz o professor.

A escola acaba de completar 18 anos e todos os anos conquista prêmios e é citada em artigos e teses por todo o mundo.

Créditos: Arquivo pessoal

No começo do ano Cléssio fez uma imersão na The Riverside School, em Ahmedabad, na Índia

“Depois das experiências que colho por onde passo, volto para minha escola na zona rural de Goiânia e coloco toda essa inspiração empregada na criação de projetos que desenvolvam meus alunos de forma integral, buscando oferecer a eles o melhor que uma aula de língua portuguesa de uma escola pública pode oferecer, às vezes indo até além, modéstia à parte”.

Confira abaixo o relato da experiência vivida por Cléssio na Índia:

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As dificuldades e limitações de uma profissão colocam diante de um profissional algumas opções, entre elas; desistir e mudar de carreira ou desistir mas ainda assim continuar naquela profissão. Infelizmente essas duas opções são uma realidade muito comum na vida de quem escolheu a carreira da docência. Foi diante dessa realidade de frustração e impotência que eu comecei a trilhar um caminho em busca de recursos que me ajudassem a amenizar o peso de ter escolhido ser um professor de escola pública.

Nos últimos meses de 2015 decidi sair por aí conhecendo escolas afim de me inspirar. Criei o projeto Looking 4 Heroes com o intuito de identificar e compartilhar relatos inspiradores ocorridos no âmbito da educação. Na primeira expedição fui ao Uruguai passar alguns dias em uma escola pública de sua capital. Sem pré-produção cheguei a uma escola que, coincidentemente, naquela semana ganhava o maior e mais importante prêmio da cultura do país em reconhecimento pelo trabalho de uma professora de literatura que criou um programa de rádio com seus alunos. Conhecer história foi decisivo para que, de volta ao Brasil, em 2016 eu criasse com meus alunos um projeto de leitura que também nos rendeu um prêmio, o VivaLeitura de incentivo à leitura.

Créditos: Arquivo pessoal

Cléssio com alunos da Escola Municipal José Carlos Pimenta, no Distrito de Vila Rica, em Goiânia

Ainda em 2016 fui ao Peru, onde acompanhei a rotina de mais duas escolas públicas. Lá conheci um professor apaixonado por seu trabalho, um taxista que já arrecadou mais de uma tonelada de livros para construir bibliotecas em áreas carentes do seu país e um grupo de escoteiros que realizavam um trabalho que ajudava a dar sentido à vida das mais de 500 crianças do maior orfanado do continente americano. No retorno à minha sala de aula em uma escola na zona rural de Goiânia, Goiás, tive mais inspiração desenvolver projetos que ajudaram a despertar o interesse pela educação em meus alunos.

Encontrei professores de Hindi muito especiais para tornar meu domingo mais produtivo aqui na Índia. #l4hindia #criança

Uma publicação compartilhada por looking4heroes (@looking4heroes) em 28 de Jan, 2018 às 4:20 PST

No ano seguinte, em 2017, criamos um projeto para comprar cadernos para os mais de três mil alunos de uma escola angolana. A campanha foi parte de um estudo com os alunos de 6º a 9º anos sobre o continente africano e sua influência sobre a cultura brasileira. Como parte do projeto estive pessoalmente na Escola 17 de Setembro, em Luanda, entregando as doações e conhecendo a realidade da escola que abriga 3000 alunos em apenas 14 salas de aula. Ainda em dezembro de 2017 parti para a mais longa e desafiadora expedição do projeto Looking 4 Heroes, 42 dias na Índia para uma imersão em uma das escolas mais inovadoras da atualidade, a Riverside School.

A Riverside School foi criada há 18 anos pela designer Kiran Bir Sethi que criou um modelo próprio de educação voltada para desenvolver a criatividade das crianças tornando-as “super-heróis”, cidadãos preparados para os desafios do nosso tempo e socialmente responsáveis. Tanto tempo em um país como a Índia já é em si uma grande inspiração para um professor, mas viver a rotina de uma escola como essa está sendo um divisor na minha carreira. Durante todo o último mês de janeiro estive assistindo as aulas com os alunos e participando das demais atividades da escola. Nesse período pude me emocionar vendo alunos participando desde a limpeza da escola até construindo um banheiro para uma família carente da vizinhança.

Com uma metodologia baseada no Design Thinking, na Teoria das Múltiplas Inteligências e nos ensinamentos de Mahatma Gandhi, a Riverside torna a experiência escolar de seus alunos muito mais relevante, conectada com as demandas atuais, intuitiva e interessante. Lá pude participar de aulas em um supermercado, em meio à natureza e nas ruas em torno da escola. Presenciei uma aula de storytelling para crianças de apenas seis anos de idade e pude ver como a escola prepara as emoções e o comportamento dos seus alunos para que eles saibam extrair o máximo de toda situação que oferecer oportunidade de aprendizado.

Logo em seu pátio principal a escola apresenta seu lema de ensino em quatro banners com os dizeres; sinta, imagine, faça e compartilhe – sinta o mundo à sua volta, imagine melhorias para ele, coloque-as em prática (faça) e as compartilhe – um lembrete da responsabilidade que ela assume com seus alunos e professores de auto aperfeiçoamento em função do bem comum. E é nesse sentindo que pesa agora a responsabilidade de ter tido a oportunidade de ir tão longe aperfeiçoar meu trabalho, traduzir para a realidade de uma escola pública o aprendizado colhido em uma das melhores escolas do mundo.

Ainda sem tem em mente um destino para uma próxima expedição, retomo minhas aulas no Brasil com mil ideias na mente e já colocando em prática o que aprendi na Índia. Na minha primeira semana de aula deste ano letivo comecei a introduzir noções de design e gerenciamento de projetos para produção de textos, e já nas primeiras aulas avalio que o resultado foi muito bom, o que confirma o retorno certo do investimento em formação continuada de qualidade. Quero também compartilhar com outros professores a experiência e a inspiração adquirida conhecendo escolas em 3 continentes, nem todos têm a oportunidade de trilhar um caminho como o meu e, com o lema da Riverside na cabeça, sentir, imaginar e fazer fazem pesar sobre mim a responsabilidade de compartilhar.

Conheça mais sobre o projeto Looking4Heroes

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