Pela primeira vez, William Waack fala sobre episódio de racismo

Neste domingo, 14, William Waack se pronunciou, pela primeira vez, sobre o episódio de racismo que levou à sua saída da TV Globo em um artigo divulgado no jornal Folha de S. Paulo. No texto, intitulado “Não sou racista, minha obra prova”, o jornalista refletiu sobre a polêmica ocorrida há pouco mais de dois meses.

“É coisa de preto”

Em novembro de 2016, durante a campanha eleitoral nos Estados Unidos, o então âncora do ‘Jornal da Globo’ foi filmado, sem saber, momentos antes de uma entrevista com Paulo Sotero, diretor do Brazil Institute, do Wilson Center, em um estúdio em frente à Casa Branca, na capital dos Estados Unidos.“Tá buzinando por quê, seu m. do cacete? Não vou nem falar porque eu sei quem é.”Quando, na sequência, diz ao convidado: “É preto. É coisa de preto”.

Créditos: Reprodução/TV Globo

Paulo Sotero e William Waack

Após o operador de VT Diego Pereira e o designer gráfico Robson Ramos divulgarem o conteúdo, o jornalista foi amplamente criticado pela postura racista nas redes sociais, culminando em sua demissão no dia 22 de dezembro.

Confira: 

“Se os rapazes que roubaram a imagem da Globo e a vazaram na internet tivessem me abordado, naquela noite de 8 de novembro de 2016, eu teria dito a eles a mesma coisa que direi agora: “Aquilo foi uma piada —idiota, como disse meu amigo Gil Moura—, sem a menor intenção racista, dita em tom de brincadeira, num momento particular.

Desculpem-me pela ofensa; não era minha intenção ofender qualquer pessoa, e aqui estendo sinceramente minha mão.Sim, existe racismo no Brasil, ao contrário do que alguns pretendem. Sim, em razão da cor da pele, pessoas sofrem discriminações, têm menos oportunidades, são maltratadas e têm de suportar humilhações e perseguições.

Durante toda a minha vida, combati intolerância de qualquer tipo —racial, inclusive—, e minha vida profissional e pessoal é prova eloquente disso.

Autorizado por ela, faço aqui uso das palavras da jornalista Glória Maria, que foi bastante perseguida por intolerantes em redes sociais por ter dito em público: “Convivi com o William a vida inteira, e ele não é racista. Aquilo foi piada de português.”Não digo quais são meus amigos negros, pois não separo amigos segundo a cor da pele. Assim como não vou dizer quais são meus amigos judeus, ou católicos, ou muçulmanos. Igualmente não os distingo segundo a religião —ou pelo que dizem sobre política.

O episódio que me envolve é a expressão de um fenômeno mais abrangente. Em todo o mundo, na era da revolução digital, as empresas da chamada “mídia tradicional” são permanentemente desafiadas por grupos organizados no interior das redes sociais.Estes se mobilizam para contestar o papel até então inquestionável dos grupos de comunicação: guardiães dos “fatos objetivos”, da “verdade dos fatos” (a expressão vem do termo em inglês “gatekeepers”).

Na verdade, é a credibilidade desses guardiães que está sob crescente suspeita.Entender esse fenômeno parece estar além da capacidade de empresas da dita “mídia tradicional”. Julgam que ceder à gritaria dos grupos organizados ajuda a proteger a própria Imagem institucional, ignorando que obtêm o resultado inverso (o interesse comercial inerente a essa preocupação me parece legítimo).

Por falta de visão estratégica ou covardia, ou ambas, tornam-se reféns das redes mobilizadas, parte delas alinhada com o que “donos” de outras agendas políticas definem como “correto”. Confira a carta na íntegra no site da Folha.

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