Passeio em monomotor mostra paisagens do ‘verdadeiro’ Alasca

Quando o piloto aciona o motor e o minsculo Cessna 185 com espao para quatro passageiros treme todo, o crente se benze, o ateu sua frio, o curioso arregala os olhos e todos se agarram com fora nas bordas das poltronas.

Chacoalhando como uma batedeira, o aviozinho rola pela grama, ganha o asfalto, acelera e zum!, est no ar. O piloto, de cabelos e bigode brancos, com voz calma conta que tem mais de 30 anos de experincia e promete que o voo ser tranquilo –a viagem pode ter alguns solavancos, mas nada que preocupe.

Enquanto isso, as grandiosas notas iniciais da msica-tema de “2001 – Uma Odissia no Espao” inundam os fones de ouvido dos passageiros. O equipamento serve para a comunicao interna e para abafar um pouco o rudo insano do monomotor.

Travestido de guia turstico, o piloto apresenta o entorno –o voo turstico decolou das margens do aeroporto internacional Ted Stevens, o mais importante do pas em transporte de carga e um dos mais movimentados da Amrica.

Taxiamos em volta do lago Hood, usado por muitos cidados locais como “gua de pouso” para seus hidroavies. O Alasca, ensina o guia, o mais voador dos Estados norte-americanos –segundo a administrao aeronutica, em 2008 o Estado tinha 10.346 pilotos ativos e 10.732 aeronaves registradas.

Explica-se: a muitas reas rurais s se chega por via area. A prpria capital do Estado, Juneau, no oferece acesso rodovirio –os carros chegantes adentram a cidade transportados por barcas.

Alimentados com tais curiosidades e estatsticas, os turistas vo se acalmando e podem enfim apreciar a paisagem, observando o entorno de Anchorage –maior cidade do Alasca, com 301 mil habitantes– a partir de mais de mil metros de altura.

O objetivo do tour areo dar aos visitantes vises do monte McKinley, mais alta montanha da Amrica. preciso ter sorte, porm: apesar de o pico da montanha estar a 6.168 m acima do nvel do mar, nem sempre visvel. Fica encoberto por nuvens ou pela bruma que toma conta do horizonte.

O que no diminui a emoo da viagem. Depois de quilmetros sem fim de pradarias e rios serpenteantes, com uma casinha isolada aqui ou acol, finalmente se tem uma vista do “verdadeiro” Alasca: montanhas de neve sem fim, escarpas de rocha geladas, poas de gua de um azul at ento inimaginado.

Com pouco mais de uma hora de voo, chega-se ao parque Denali. O avio fica ainda mais diminuto perto dos cumes nevados, passa por gargantas, tira “fino” de escarpas, enquanto o piloto garante que, l longe, est o McKinley.

Um solavanco mais forte indica que os esquis do aparelho esto no local adequado. Teremos um pouso em plena neve, em uma das geleiras do Denali.

Entre os passageiros, h momentos de tenso, que logo se esfumaa enquanto o monomotor desliza no gelo. A aeronave para, todos se livram dos equipamentos de segurana e, em segundos, viram crianas: at bolas de neve so jogadas de um lado para outro enquanto alguns mais aventureiros testam passadas desequilibradas na neve.

Na volta, mais rpida e tranquila, os viajantes ainda conseguem apreciar grupos de alces se movimentando nas pradarias. H ursos tambm, garante o piloto, mas naquela viagem no foram vistos. Mesmo assim, ningum discute que a viagem valeu cada centavo dos cerca de US$ 500 (R$ 1.930) que cada um pagou pelo passeio de trs horas.

Que abrilhantado pela trilha sonora escolhida pelo piloto. Cada vista importante foi marcada por um tema cinematogrfico ou de srie televisiva; na chegada, toca a abertura de “Guerra nas Estrelas”.

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