‘Nóis’ viaja, mais é cada marmita que ‘nóis’ come

Basta postar uma foto nas redes sociais bebendo um vinho ou comendo algo diferente que alguém vem e comenta: “ficou rica agora?” “Tá podendo, né?!”. Pois é, mas não é bem assim! Ninguém sabe que, por trás daquela viagem, tinha um orçamento apertadíssimo, que você passou o tempo todo com uma marmitinha e fazendo os passeios free da cidade, ou comprou todos os bilhetes com meses de antecedência para pagar mais barato. Que você teve que carregar uma mochila super pesada pelos passeios porque todas suas roupas tinham que caber dentro dela para você não precisar pagar excesso de bagagem e você não podia deixar ela no hostel porque a sua diária só começava a contar de tardinha. E que você só está bebendo vinho porque aqui ele custa € 6.

Mochila e mala fazer parte do passeioMochila e mala fazer parte do passeio

Créditos: Arquivo pessoal

Mochila e mala fazer parte do passeio

Por isso, prepare-se, você vai saber o lado do meu intercâmbio que compartilhei com poucas pessoas. Por quê? Simplesmente pra você saber que nem tudo são flores.

1 – Para começar, não poderia deixar de citar a imigração em Londres. Antes de chegar em Dublin, minha conexão foi na Inglaterra. Como eu não sabia nada de inglês (ou achava que sabia), fiquei 15 minutos ‘presa’, porque não entendia o que a imigração falava, o que me fez perder o voo pra Dublin.

2 – Encontrar casa. Sério gente, isso foi meu primeiro grande sofrimento aqui. Eu caminhava quilômetros, todos os dias, visitei lugares imundos, meu pé foi se recuperar depois de uns 2 meses de Dublin. Mas, no último minuto do segundo tempo (último dia de acomodação no hostel), eu consegui meu primeiro lar.

3 – Não, eu não morava sozinha. E, dividir casa com outras 5 pessoas, também não é fácil, afinal, você precisa aprender a respeitar o espaço do outro e conviver com personalidades muito diferentes da sua. Às vezes, dava uns quebra-paus, mas quem nunca, né? Ah, nas fotos, ninguém vê o varal no meio da sala. Sim, como Dublin chove a cada segundo, o varal fica dentro de casa mesmo, onde tiver um espacinho.

4 – Roubaram meu celular. Aqui é muito comum ‘knackers’ passarem de bike e tirar o celular da sua mão. Claro que isso tinha que acontecer comigo também, né?! Ah, eles também jogam ovo nas pessoas, mas dessa eu me livrei!

5 – Abrir a conta no banco. Como vocês devem saber, é preciso comprovar € 3 mil para tirar o visto na Irlanda. Pra isso, você precisa abrir uma conta no banco, tirar um extrato e levar até a imigração. Só que aqui, não é simplesmente você ir ao banco e dizer ‘preciso abrir uma conta’, como no Brasil. Você precisa de documentos da escola, comprovante de residência e um monte de coisa lá..

O problema é que eu cheguei justamente quando deu toda aquela bagunça em que os bancos não estavam mais aceitando a carta da escola como comprovante de residência. Resultado, meu dinheiro extra estava quase acabando, tive muitas dores de cabeça na escola e chorei, chorei muito (quem me conhece sabe que eu realmente chorei haha). Mas no fim, deu tudo certo, consegui uma agência bancária que aceitou a carta e pude pegar meu visto (lembro que agora, as regras para comprovar os € 3 mil mudaram de novo).

6 – Consegui casa, mas longe do centro. Isso me fazia caminhar por uma hora para ir e uma hora para voltar da escola. Tudo porque, a grana de intercambista é curta minha gente!

foto_fabiana_norder

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7 – Frio e chuva. Todos os dias, quando cheguei, chovia. E nem adiantava comprar guarda-chuva, porque o vento de Dublin é tão forte que carrega pra longe. Chegar à escola ou em casa molhada, já era parte do ‘uniforme’.

8 – Dormir no aeroporto. Esse foi pra acabar, sério! Comprei minha passagem de volta de Amsterdam com a data errada e só fui perceber quando cheguei para fazer o check-in. Como eu viajo com dinheiro contadinho e o aeroporto é longe da cidade, não restou saída a não ser ficar 23 horas por lá mesmo.

9 – Sair da escola e ir para o parque chorar. Esse é o mais triste. Meu primeiro dia de aula, cheguei na escola e não entendi nada. Saí de lá correndo e fui para o St. Green. Sentei no banco, chorei horrores e resolvi voltar para o Brasil. Mandei mensagem para meus amigos e eles falaram: ‘Volta, que iremos te esperar no aeroporto com um chinelo bem grande pra te mandar de volta’. Sim, porque eles sabiam que era só uma fase.

10 – Fingir que entende o inglês que os irishs falam. Quem nunca?

11 – Dinheiro acabando e eu ainda não tinha trabalho. Chorei horrores, passei algumas noites em claro, tudo porque não queria voltar para o Brasil antes do tempo.

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12 – Comida. Esse nem foi tão difícil, mas… dinheiro acabando, a gente tem que se virar com o reduced do Tesco ou com o feijão enlatado de 0,23 né?

13 – Por último e o mais engraçado: Peguei piolho gente. Sim, inacreditável, né?! A pessoa sai do Brasil pra pegar piolho na Europa. Foi na escola das crianças do meu Au Pair. Imaginem vocês, eu com minha cabeleira cacheada? Vou dizer que não foi fácil, viu. E é claro que eu tive que contar isso para todos meus amigos no Brasil para garantir boas risadas. OBS: Tá, já podem voltar a ser meus amigos, que eu já estou ‘curada’.

Relato por Liliane Catto, do blog Latitude 53

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