NO REINO DA BAGA

Filipa Pato e William Wouters estão unidos pelo casamento e pela paixão pelos vinhos e pela gastronomia. A sua casa e as suas vinhas localizam-se em Óis do Bairro, na Bairrada, e estas últimas crescem em 15 ha de terrenos argilo-calcários, cultivadas em modo biodinâmico. Filipa é a viticultora e licenciou-se na Universidade de Coimbra em engenharia química e como produtora de vinhos foi-se especializando em Bordéus (França), Mendoza (Argentina) e em Margaret River (Austrália), isto sem falar, é claro, de um professor muito especial; o seu pai, Luís Pato, o mais conhecido e ferrenho defensor da casta Baga tão comum na Bairrada e durante tantos anos tão maltratada.

A filosofia é simples: criar vinhos autênticos sem maquilhagem, ou seja, com intervenção mínima na adega, fermentando com leveduras indígenas e utilizando métodos ancestrais como os lagares em madeira e as ânforas. São os chamados vinhos de ‘terroir’, a evidenciar o seu próprio carácter, expressando a autenticidade das vinhas velhas.

As castas aí trabalhadas são as tradicionais da Bairrada, tais como a Baga (nos tintos), a Bical, o Arinto, a Cercial e a Maria Gomes (nos brancos), e Filipa Pato dá toda a prioridade à vinha, tendo abandonado o uso de herbicida para defender a biodiversidade. Tudo ali é natural e se não há químicos, eles têm de ser substituídos por outra coisa qualquer. O quê? Pois bem, os animais são os grandes aliados para, por exemplo, limpar o terreno de ervas daninhas ou evitar que os caracóis dêem cabo das plantas.

Quanto a William Wouters, natural de Antuérpia (Bélgica) é um Chef e um Sommelier com créditos firmados internacionalmente e chegou mesmo a ser o Chef oficial da selecção belga de futebol no campeonato do mundo no Brasil (2014)e no ‘europeu’ em França (2016). William vem assim completar o outro projecto do casal; o enoturismo. E foi com os pratos cofecionados por William que partimos para as harmonizações com os vinhos que Filipa ia anunciando.

Começámos com uma ‘Panna Cota’ de Requeijão com ‘aspic’ de ervas, que foi acompanhada com o vinho Nossa Branco 2016, todo feito com a casta Bical. Depois de fermentado em barricas novas e usadas, evidenciou na boca muita cremosidade, notas de fruta branca e a acidez tão habitual nesta casta. Nota alta para o vinho e para o Chef. Seguiu-se um Gaspacho de tomates e morangos com manjericão. Uma delícia soberbamente acompanhada pelo Post Quer..s Tinto 2016, produzido 100% com a casta Baga. Foi fermentado e estagiou em ânforas de barro e não teve qualquer madeira. Uma decisão sábia, já que a Baga é uma casta delicada que não se dá muito bem com a madeira. Notas de morangos silvestres e fruta preta, que nos dá um vinho elegante e de grande complexidade. Por último, comemos um Carré de cordeiro assado no forno, batatas com tomilho e molho de Baga, que casou com o Nossa Tinto 2015, também ele produzido apenas com Baga. Muito elegante e muito fresco, conseguiu uma óptima harmonização com o prato.

No ‘reino da Baga’, Filipa Pato produz grandes vinhos, acompanhados pela mão mestra do seu marido William a liderar no capítulo da gastronomia. Um sucesso.

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