Na saúde, gestão Doria quer extinguir 127 AMAs e fechar 50 UBSs

O secretário municipal da Saúde de São Paulo, Wilson Pollara, adiantou em audiência pública realizada na Câmara Municipal nesta quarta-feira, 16, que deve fechar 50 UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e todas as AMAs (Assistência Médica Ambulatorial).

A vereadora Juliana Cardoso (PT) contou ao Catraca Livre que essa reestruturação na saúde prevê o fechamento das 127 AMAs que existem na capital e diminuir o atendimento não agendado. Além disso, até o dia 31 de julho já foram congelados R$ 98 milhões na área.

Créditos: Fernando Pereira/SECOM-PMSP

Wilson Pollara disse que gestão Doria vai construir oito UPAs e 13 UBSs

Segundo o secretário, a ideia é expandir o atendimento das equipes de Saúde da Família, para que realizem o atendimento primário e saibam qual a demanda por especialidade. Assim, os médicos seriam encaminhados para as UBSs de acordo com as necessidades específicas de cada região.

“Nós vamos fazer com que essa UBS tenha atendimento para toda a demanda espontânea e esteja em cima do programa de Saúde da Família, com médicos o tempo todo”, prometeu.

A gestão do prefeito João Doria (PSDB-SP) quer extinguir as AMAs, que são municipais, e por isso o Ministério da Saúde “não as reconhecem”, ou seja, não repassa verba exclusivamente para isso, como é o caso das UPAs (Unidade de Pronto Atendimento).

“Nós temos AMAs que são verdadeiros centros de especialidades. Nós vamos colocar para que elas [as AMAs] possam atender com hora marcada num centro de especialidades”, explicou Wilson Pollara. Outro problema exposto pelo secretário é o de que a AMA não dá continuidade ao tratamento com o mesmo médico, diferentemente da UBS. Ele também adiantou que o projeto é construir oito UPAs e 13 UBSs.

Doria reduzirá verba de postos de saúde e hospitais da periferia

O secretário afirmou que 85% dos casos que chegam a qualquer unidade de saúde podem ser resolvidos por unidades de atendimento primário e por isso a gestão quer concentrar esforços e transformar AMAs em UBSs. “Ele [o paciente] tem que ir pra unidade básica ser atendido por um clínico para que ele avalie o caso e indique o profissional específico para o caso.”

Apesar de o secretário dizer que nada vai ser decidido ou feito sem a participação da população, o jornal Agora São Paulo mostrou que a AMA/UBS City Jaraguá já havia sido transformada em AMA, sem pronto-atendimento, mas, depois de ser questionada, a secretaria normalizou o serviço porque as mudanças na unidade foram “precipitadas e desautorizadas”.

O município conta, hoje, com 448 UBSs. De acordo com Pollara, 50 delas estão inadequadas por conta do tamanho (com 50 a 100 metros quadrados) e que é “certeza que serão fechadas” porque alguns imóveis também estão com infiltração e divisórias de lona. “Eu me comprometi a não fechar nada que não estivesse vazio e que as pessoas não pudessem ser atendidas em outro lugar”, disse.

Sob protestos, o secretário também escorregou numa fala: “Existe essa batida: a restruturação, fechar, a restruturação, desmonte. Nós não fechamos nada, gente. Ainda”.

A prefeitura, porém, já fechou a UBS Vila Carioca, na zona sul, por ser pequena, e remanejou os pacientes para outra unidade que está lotada, como mostrado novamente pelo jornal Agora São Paulo.

Ana Rosa Costa, do Conselho Municipal de Saúde, contou na audiência que 11 UBSs da zona sul tiveram seu atendimento reduzido em duas horas, passando a fechar às 17h e não mais às 19h e que isso causou lotação no pronto-atendimento e na UPA da região.

De novo ao som de protestos, o secretário disse que o fechamento antecipado das unidades foi um pedido da comunidade e justificou dizendo que “para o médico trabalhar oito horas até as 19h, ele teria que entrar às 11h. E a população prefere ir à unidade de manhã”.

O desmonte também tem surgido com demissão de profissionais. Ana revelou que na AMA João Yunes, também na zona sul, sete enfermeiros foram demitidos. “Estão demitindo aos pouquinhos para não chamar a atenção”, acrescentou.

“Nós vamos ter a cada 10 unidades de saúde, uma UPA. A cada 1,5 milhão de pessoas, nós vamos ter um hospital estruturante”, também prometeu.

As OSSs (Organizações Sociais de Saúde) também estariam sofrendo cortes na verba, assim como outras clínicas que recebem repasse da prefeitura, segundo uma fonte ouvida pelo Catraca Livre. “O [prefeito João] Doria fez uma reunião para anunciar que vai diminuir 30% do repasse da verba para a saúde e o Centro de Saúde Escola, que em 2016 teve um contrato firmado de cinco anos, vai perder totalmente esse repasse”.

Outro lado

Procurada para explicar melhor essa reestruturação na saúde, a Secretaria Municipal de Saúde se limitou a dizer que “ainda seguem em processo de debate as diretrizes da atenção básica de saúde e que, desta forma, qualquer afirmação sobre o tema é mera especulação. Antes de qualquer proposta concreta, a população e todos os demais atores deste processo deverão ser consultados”.

Em relação à alteração de horário de algumas UBS, a pasta esclarece que houve uma adequação do horário dos servidores, após a devida aprovação dos respectivos conselhos gestores, mas que o período de atendimento permanece o mesmo.

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