GWC. Esta sigla está a atrair americanos ao Porto

A 14 de junho de 1999, o Porto foi um dos sócios fundadores da rede internacional Great Wine Capitals, conhecida no mundo do enoturismo pela sigla GWC. Quase vinte anos depois, uma das formas de medir o impacto desta rede na vida da cidade é contabilizar o número de turistas norte-americanos que passam por aqui a caminho do Douro, mas também da Região dos Vinhos Verdes: o número de americanos que dormiram no Porto aumentou 125% em três anos, para atingir os 69.221, mostram os indicadores do INE – Instituto Nacional de Estatística.

“Quando olhamos para os números mais recentes do turismo uma das surpresas é ver o salto registado nos hóspedes e dormidas com origem nos Estados Unidos, o maior mercado do mundo do ponto de vista do enoturismo. E sabemos que a presença do Porto na rede GWC ajudou a potenciar este movimento”, sublinha Ricardo Valente, vereador da Câmara do Porto com o Pelouro da Economia, Turismo e Comércio.

É verdade que Portugal está a atrair cada vez mais turistas norte-americanos, tendo registado um salto de 90% em três anos, para os 685 mil, com a região de Lisboa a apresentar uma quota de 54%. Mas também é verdade que o Porto está a crescer acima da média nacional. E enquanto o boom do turismo na cidade se reflete numa subida de 20% no número total de visitantes (1,5 milhões), a percentagem chega aos 125% no caso dos americanos.

Se ao longo do Douro, o enoturismo ganha adeptos e as quintas abrem cada vez vez mais as suas portas a hóspedes de todo o mundo rendidos à cultura do vinho, a uma paisagem que é Património Mundial, a Região dos Vinhos Verdes começa,também, a fazer esse caminho. E o Porto apresenta-se como ponto de passagem e de paragem obrigatória nos dois sentidos.

“Quando este movimento começou, há 20 anos atrás, o enoturismo ainda era uma coisa pouco falada”, reconhece Ricardo Valente. “Mas agora tudo é diferente”, acrescenta. O enoturismo está na moda e o Porto tem, aqui, uma plataforma de promoção à escala de outras grandes referências internacionais do velho e do novo mundo do vinho, de Bordéus, em França, a Adelaide, na Austrália ou a Valparaiso, no Chile.

Um dos objetivos comuns é trabalhar cada cidade como ponto de partida para uma região mais alargada, “o que traz mais valias ao nível da diversificação da oferta e potencia o aumento da permanência média para além do city break”, acrescenta Ricardo Valente.

Fundamental, diz, é não esquecer que este é um trabalho de nicho, não para turismo de massas, mas que pode ajudar a conquistar clientes com mais poder de compra e a vocacionar cada vez mais a oferta para um segmento elevado.

Na verdade, mais do que focar-se no público em geral, a rede GWC trabalha para segmentos especializados nos sectores do turismo e do vinho, destacando a sua oferta através de iniciativas como a atribuição anual dos prémios Best of Wine Tourism que distinguem propostas de enoturismo em sete categorias diferentes, do alojamento aos restaurantes vínicos, arquitetura e paisagem, arte e cultura, experiencias inovadoras, serviços e práticas sustentáveis.

O Porto que presidiu à GWC em 2016, faz isto com um orçamento anual de 20 mil euros, através da Câmara Municipal que tem como braço executivo na gestão operacional da rede a Associação de Turismo do Porto, aproveitando esta rede para a promoção do enoturismo, mas também para discutir outras questões ligadas ao sector do vinho como o aquecimento global.

Parceiros e Rivais

Ao lado do Porto na GWC há mais 9 cidades, unidas pelo património económico e cultural das suas regiões vinícolas e por projetos conjuntos à volta do enoturismo: Bilbao Rioja (Espanha), Bordéus (França), Verona (Itália) Mainz (Alemanha), Mendoza (Argentina), São Francisco Napa Valley (EUA), Valparaíso Casablanca Valley (Chile), Adelaide (Austrália) e Lausana (Suíça)

“São rivais nas garrafeiras e nas prateleiras dos supermercados, mas parceiras neste trabalho em rede”, destaca Ricardo Valente sublinhando como exemplo o facto de Porto e Bordéus serem cidades geminadas há 40 anos e a Cité Mondial du Vin, em Bordéus ter este ano o Porto e o Douro como convidados da sua exposição mundial, em outubro.

Juntas, as regiões vinícolas que integram a GWC têm uma área próxima dos 600 mil hectares de vinha e uma produção de 35 milhões de hectolitros.

O Porto, com o Douro, a mais antiga região demarcada do mundo, e os vinhos verdes, destaca-se neste grupo como a única cidade que marca presença com duas regiões demarcadas.

Olhando para este grupo de 10, Ricardo Valente comenta que “as principais referências internacionais no mundo do vinho estão aqui reunidas” e a rede, neste momento, fechou as portas a novas adesões, decidida a manter-se com um forum exclusivo. É verdade que Lausana, a formalizar a sua entrada no grupo esta semana, num encontro na cidade italiana de Verona, pode parecer um pouco deslocada entre os pesos pesados do mundo do vinho.

“Foi uma entrada que motivou alguma discussão interna, sim”, diz Ricardo Valente. “Mas Lausana tem vinho e tem a maior escola do mundo de turismo, o que nos dá um palco e uma alavanca extraordinários. Foi por isso que Bordéus defendeu a sua entrada e nós apoiamos”, justifica.

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