Fiquei paralisado ao pisar na Antártida, diz vencedor de concurso

Relato por Ricardo Marques

No dia 12/03 cheguei no aeroporto de Guarulhos por volta das 15h e logo encontrei com a equipe da que já estava aguardando para o embarque. No saguão pude conhecer a pessoalmente a Leka, uma das ganhadoras da promoção. Neste momento já era perceptível a grande inquietação de todos, a ideia de viajar para um lugar tão inusitado e desconhecido quanto a Antártida nos deixava muito ansiosos.

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Fizemos um voo tranquilo até a cidade de Santiago, no Chile, e lá fizemos uma conexão para Punta Arenas. Estávamos ao todo em 19 pessoas. Conexão feita e mais 3 horas e meia de voo.

Chegamos em Punta Arenas por volta das 5h30 e ao desembarcar já tivemos ideia da gelada que estávamos entrando. A temperatura fora do aeroporto era de 5ºC a 6ºC, mas com um vento de mais de 40 km/h a sensação térmica era de alguns graus negativos.

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Em frente ao nosso hotel fica a Plaza Muñoz Gamero e no meio da praça fica o monumento a Fernão de Magalhaes. Diz a tradição local que quem tocar ou beijar o pé do índio aónikenk, que faz parte do monumento, voltará a visitar a Patagônia. Não acredito muito em lendas, mas para voltar a visitar aquele local incrível não custa nada tentar.

No dia seguinte começaria a viagem para a Antártida, então fui dormir cedo, para me preparar para a jornada. Por volta das 7h já estávamos a caminho do aeroporto. Embarcamos em um voo fretado e duas horas depois pousamos na pista da Base Aérea Chilena presidente Eduardo Frei Montalva, na Ilha Rei George.

Ao descer do avião, a visão já era absolutamente diferente de tudo que eu já vira antes. O negro das rochas e o branco da neve desenham toda a paisagem ao redor, a sensação de estar naquele lugar era tão contagiante que por uns instantes fiquei paralisado. Da pista de pouso fomos caminhando pela base aérea chilena até chegarmos aos botes que nos levariam para a região chamada de Glaciar Collins. Foi um percurso de aproximadamente 20 minutos, no barco o vento tornava o frio muito mais intenso. A paisagem vista do bote nos surpreendia a cada instante, geleiras imensas de um branco com diversos tons de azul hipnotizante.

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Desembarcamos em uma costa rochosa e fomos caminhando até os glaciais. Foi uma sensação ímpar poder estar em contato com a natureza mais intocada que pude contemplar na vida. Leões marinhos nos vigiavam a uma distância curta, o silencio do lugar era quebrado apenas pelo barulho dos passos no chão coberto por rochas de todos os tamanhos.

Passamos horas explorando cada canto daquele lugar, um grupo de pinguins também nos observava, mas estes foram mais amistosos. O tempo que passamos caminhando por ali foi tão intenso que tínhamos a impressão de que uma semana tinha se passado.

Já era por volta de 16h e nosso guia nos informou que tínhamos que iniciar o regresso, o tempo tinha começado a mudar e poderíamos ter problemas para retornar. Embarcamos novamente nos botes e fomos em direção ao paredão de gelo que ficava do ouro lado.

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O vento soprava cada vez mais forte e o mar que na nossa chegada era muito calmo nos mostrou que as coisas por ali nem sempre são assim. O retorno foi um pouco mais demorado por estarmos contra o vento, mas felizmente não tivemos problemas. E para coroar a nossa breve estada na Antártida fomos agraciados com uma baleia Fin (Balaenoptera Physalus) nadando bem próxima aos nossos botes. O som que produz quando sai da água para respirar vai com certeza permanecer vivo na minha mente por muito e muito tempo.

Tudo que vivemos ali foi tão intenso que encerro meu relato por aqui, pois o retorno para casa foi tão normal que em nada se compara com a dimensão de tudo que experimentamos por lá. Mas uma certeza é muito viva dentro de mim… Eu vou voltar lá.

Ricardo Marques, 39 anos, professor universitário, foi um dos vencedores do Desafio Halls Prata

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