Enoturismo: uma experiência de afectos

O Vinho do Porto, mais do que um vinho natural e fortificado, é um símbolo de uma região e um grande atractivo turístico. Em 2016, as visitas às Caves do Vinho do Porto, no Centro Histórico de Vila Nova de Gaia, ultrapassaram a barreira do milhão de visitantes e as previsões para 2017 são de números acima do milhão e meio, com cada turista a gastar em média 10 euros por visita. Valores que atestam da dimensão e da importância que o enoturismo tem, não só em Vila Nova de Gaia, mas também na cidade do Porto e na Região Demarcada do Douro.

Quem não tem dúvidas da sua importância é a directora executiva da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP), Isabel Marrana, para quem este crescimento se deve “ao elevado fluxo de turismo na região, mas também à marca Vinho do Porto [que sempre foi atractiva] e a um trabalho de promoção que foi feito ao longo dos anos”.

Para a directora executiva da AEVP – cujos os 15 associados representam 92% de comercialização do Vinho do Porto e cerca de 40% do vinho do Douro – o momento que se vive deve-se muito à “eficiência e eficácia”, fruto daquilo que tem sido “a interlocução entre a Associação, as empresas e as diversas instituições, quer ao nível local como do poder central e respectivos ministérios nos assuntos que podem influenciar toda a área do enoturismo e da actividade das empresas”. Isabel Marrana acrescenta ainda que “ao nível do enoturismo temos uma actividade de grande coordenação, que é feita através de representação em feiras internacionais de turismo onde promovemos o destino Vila Nova de Gaia”.

Enoturismo de qualidade

Um serviço de qualidade e uma experiência diferente é algo que Isabel Marrana considera serem fundamentais para o sucesso do enoturismo, pelo que a AEVP mantém “um sistema de autorregulação da qualidade das caves. Contratamos uma empresa de certificação internacional, que todos os anos faz uma auditoria às mesmas, garantindo a qualidade do serviço prestado e procurando assegurar junto das instituições, do turista e do consumidor, que o serviço é certificado e de elevada qualidade”, refere.

Mas não basta apenas oferecer um serviço de qualidade. As áreas circundantes têm que ter as condições adequadas. “Relativamente ao enoturismo, nós temos uma obrigação de vigilância, no sentido de que o território à volta das caves do Vinho do Porto esteja em condições. Não só na zona da beira rio, mas também a montante. Os turistas sobem as ruas de Gaia pedonalmente, que são muito interessantes do ponto de vista da arquitectura e que eles apreciam. E essa vigilância prende-se com o bom desempenho dos serviços públicos. Nós queremos que este espaço enoturístico [que é o maior do País e um dos maiores do mundo] esteja em condições ao nível da limpeza, dos arruamentos e dos jardins. É necessário que os factores básicos estejam absolutamente cuidados, porque é isso que distingue um espaço turístico de alta qualidade de um espaço onde apenas há muita gente que quer apenas fazer turismo”, salienta Isabel Marrana.

Um turista diferente

O que também tem mudado nos últimos anos é o perfil do turista que, de acordo com Isabel Marrana, “no passado visitava as caves e ia embora. Mas hoje felizmente não é assim. A oferta gastronómica é muito interessante e diversificada, o que justifica a quantidade de turistas que nos visitam. O Porto e a zona ribeirinha de Gaia têm já motivos de atractibilidade. Do nosso ponto de vista isso é muito importante, porque é um turista que se vai ligar mais ao produto e à marca Porto, que para nós é fundamental. Nós olhamos para quem nos visita não apenas como um turista, mas também um consumidor que queremos fidelizar”.

Além disso a diretora executiva da AEVP chama a atenção para o facto de “nós cada vez menos temos aquilo que, no passado, chamávamos de época baixa, onde normalmente tínhamos um conjunto de meses que ia de Novembro a Março, com uma diminuição do fluxo turístico. Nos últimos anos isso não se tem verificado e passamos sim a ter diferenciação de turismo. O perfil do turismo varia consoante os meses de que estamos a falar e a verdade é que nesta variável existe também uma variedade de idades. Todas estas condições permitem um crescimento nos números, uma vez que existe uma sustentabilidade numérica mensal”, garante.

Gaia como referência mundial

Quando questionada sobre o crescimento do enoturismo nos próximos anos, Isabel Marrana acredita “que é possível fazer mais e há projetos para fazer mais. Nos próximos cinco anos a zona histórica de Vila Nova de Gaia vai ser certamente, do ponto de vista do enoturismo, talvez o lugar mais significante do mundo. E temos que nos preparar para isso criando as condições necessárias”, acrescentando que, “este ano tudo indica que vamos ultrapassar o milhão e meio de visitantes, o que é um aumento muito grande e acreditamos que este fluxo se vai manter. Por isso diria que de certeza que o enoturismo continuará a crescer”.

Sobre a experiência de uma visita às caves do Vinho do Porto, Isabel Marrana garante que “quem visita este espaço cria uma ligação emocional e afectiva com um produto que depois, mais tarde, poderá vir a consumir fruto desta memória e recordação. Nós queremos que quem nos visita, mais do que um consumidor tem que se tornar num divulgador pelo que a sua experiência tem que ser perfeita. Queremos que as pessoas sintam o Douro e tudo aquilo que ele significa aqui em Gaia, nas caves”.

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