Crimeia perde turistas após anexação pela Rússia

Tamara Tsetlayana estava em uma faixa estreita de praia cinzenta, lavando-se da lama preta supostamente teraputica que atrai visitantes a este lago salgado h mais de um sculo. O feio litoral talvez fosse menos atraente que destinos de frias anteriores na Turquia e na Europa, disse, mas o patriotismo orientou sua opo neste vero.

“Com todas essas sanes, decidimos apoiar o que nosso”, disse Tsetlayana, manifestando um sentimento que o Kremlin esperava que fosse inspirar uma disparada de turistas russos pennsula da Crimeia, no mar Negro, depois que a Rssia anexou a Ucrnia no ano passado.

Alexander Aksakov/Getty Images/The New York Times

Antes de a Rssia anexar a Crimeia, 6 milhes de turistas visitaram a pennsula; neste ano, foram 600 mil
Em 2013, antes de a Rssia anexar a Crimeia, 6 milhes viajaram para l; neste ano, foram 600 mil

No entanto, esse afluxo de turistas nunca se materializou -e no por falta de incentivo. Trabalhadores das companhias estatais receberam pacotes de viagem subsidiados para l, e empregados dos servios de segurana foram proibidos de tirar frias no exterior.

O premi da Crimeia, Sergey Aksyonov, chegou a dizer a um reprter ocidental que milhes de turistas russos realmente viriam. “Tudo est certo com a temporada turstica”, disse. “Os russos com mentalidade patritica deram ateno Crimeia.”

Porm, os nmeros contam outra histria, bem abaixo dos 6 milhes de visitantes anuais que vieram em 2013, antes da anexao da pennsula pela Rssia.

As pessoas comuns que vivem do turismo -guias, motoristas de txi, donos de pousadas- descreveram a temporada como anmica. Um grupo de aldees na “Riviera da Crimeia”, no sul, escreveu uma carta aberta a Putin dizendo que os visitantes neste ano representaram apenas 10% do nmero de 2013, lamentando que enfrentaro o desemprego e a fome. “As pessoas no sabem como vo sobreviver no inverno”, disse a carta.

James Hill/The New York Times

Praia perto de Livadia; moradores da pennsula da Crimeia dizem que russos preferem resorts
Praia perto de Livadia; moradores da pennsula da Crimeia dizem que russos preferem resorts

Moradores de toda a Crimeia citaram motivos para esse problema, incluindo a fraqueza econmica em toda a Rssia, problemas de transporte e a falta de atraes. Cerca de 33 mil pessoas costumavam chegar todos os dias de trem para passar as frias ali, mas hoje a Ucrnia bloqueia a ferrovia. O servio de balsa limitado.

Aksyonov disse que houve um enorme salto no nmero de avies de passageiros, com 106 chegando por dia, em vez de apenas 12, trazendo aproximadamente 15 mil pessoas por dia. Um esforo de reconstruo no aeroporto de Simferopol mais que duplicou o espao de terminais nos ltimos seis meses. Alguns avies circulam durante 30 minutos esperando uma janela para pousar.

Muitos moradores da Crimeia notaram que o turismo est mudando. Os ucranianos ficam felizes em alugar um quarto a uma distncia razovel da praia e em cozinhar as prprias refeies. Os russos preferem pacotes em hotis.

“Muita gente na Rssia se acostumou com os resorts elegantes na Turquia e no Egito, com seus pacotes ‘all inclusive'”, disse Vera Basava, 67, na aldeia de Gurzuf.

Muitos moradores da Crimeia que trabalham no setor de viagens esperam que o mercado se recupere quando a ponte de bilhes de dlares ligando a pennsula ao continente for construda. No entanto, isso vai demorar pelo menos trs anos.

Uma agente de viagens em Ialta mantm fotos em seu computador dos enormes navios de cruzeiro estrangeiros que costumavam parar aqui, fantasmas de outra era, antes das sanes ocidentais.

“Pensamos que a Rssia encheria este lugar com seminrios e conferncias, mas at agora nada”, disse com um suspiro, acrescentando que a Crimeia havia se transformado em um “hospcio”. Ela preferiu no dar seu nome por medo de perder negcios com o governo.

Colaborou NIKOLAY KHALIP

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