Congresso Latino-Americano de Enoturismo dá largada à programação com ampla representatividade internacional

Trocar experiências, debater políticas públicas, conhecer estratégias comerciais e estudar casos regionais e internacionais para qualificar os empreendimentos e os serviços prestados a fim de desenvolver toda a região onde o turismo ligado ao vinho tem potencial de ser realizado. Esse é um dos propósitos da sétima edição do Congresso Latino-Americano de Enoturismo, que iniciou hoje (27), no Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, e será encerrado no sábado, dia 30 de junho. Amanhã (28), a Master of Wine Liz Thach apresentará de que forma os vales de Napa e Sonoma se transformaram em um dos principais e mais populares roteiros de enoturismo das Américas (leia entrevista abaixo).

Com o tema “Território, Vinho e Turismo: harmonização que dá certo”, a programação do evento contempla 18 explanações, entre conferências, painéis, apresentações de cases e picths (apresentações compactas sobre um empreendimento específico), além de quatro visitas técnicas por roteiros da região e o evento Wine Festival, na sexta-feira à noite, que marcará o encerramento das palestras com vinhos, música, comida e a confraternização entre os participantes e a comunidade.

“O Enoturismo é umas principais ferramentas para o fortalecimento do setor vitivinícola. Cerca de 30% das vinícolas já possuem atrativos turísticos e, destas, 90% são micro e pequenas empresas. Nestes empreendimentos, mais de 40% da receita provém da venda direta aos turistas”, comentou Marcio Ferrari, vice-presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), uma das entidades realizadoras do evento. O dirigente destacou que, desde 2016, com a criação do Comitê de Enoturismo e posteriormente com o apoio à Aenotur, o Ibravin vem ampliando as ações voltadas à atividade, incluindo a realização do Congresso Latino-Americano neste ano, a viabilização do Dia do Vinho há uma década, dentre outras iniciativas.

Ivane Fávero, presidente da Associação Internacional do Enoturismo (Aenotur), entidade também promotora do Congresso, apresentou o histórico da associação, atualmente liderada pelo Brasil, e pontuou que o grande desafio é mesclar a oferta turística e ampliar para outras regiões produtoras brasileiras. De acordo com Ivane, a inclusão do enoturismo como um segmento importante no contexto turístico é recente e o Congresso tem como uma das metas a proposição de inovações na atividade, profissionalização e também integração e troca de experiências com outras regiões que estarão presentes nos painéis. “Se não trabalharmos a inovação, fazer mais do mesmo não é competitivo em lugar nenhum no mundo. Temos que trabalhar o composto da oferta turística. Precisamos fazer mais parcerias”, sintetizou.

O representante do governo do Rio Grande do Sul, o secretário da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Victor Hugo Alves da Silva, elogiou a iniciativa de trazer ao Estado o Congresso. Segundo ele, o enoturismo é uma mostra de um estado que dá certo, que gera emprego e renda. “Estamos levando as paisagens do enoturismo gaúcho em todos os eventos que participamos, ajudando também na divulgação deste potencial. Enquanto estamos aqui, muitas pessoas estão planejando suas viagens e essa troca de experiências é fundamental para que o enoturismo gaúcho esteja entre as opções, como um ótimo destino, com grandes vinhos, paisagens maravilhosas e a receptividade que já é uma marca do nosso povo”, ressaltou.

A receita californiana para desenvolvimento do enoturismo

Amanhã (28), um dos pontos altos da programação será a palestra da Master of Wine americana Liz Thach. Ela abrirá o segundo dia do Congresso discorrendo sobre como o Napa e o Sonoma Valleys se transformaram em um dos principais e mais populares roteiros de enoturismo das Américas e de que forma o setor vinícola soube aproveitar a atividade para potencializar seus negócios.

Liz Thach é uma das 370 profissionais no mundo com o título de Master of Wine. A expert leciona as disciplinas de Administração e Vinhos da Sonoma State Universtity tanto para cursos de graduação como de MBA. Tem publicados mais de 130 artigos acadêmicos, além de oito livros sobre o tema, entre eles Best Practices in Global Wine Tourism (Melhores Práticas em Enoturismo Global). A californiana, jurada em diversos concursos e premiações vinícolas internacionais, é residente em Sonoma, onde cultiva um pequeno parreiral e elabora seu próprio Pinot Noir.

Confira a entrevista feita com a Master of Wine, no qual ela pontua algumas questões que abordará na palestra a ser proferida durante o Congresso:

1. Como pode ser medida a importância do enoturismo para o setor vitivinícola, bem como para a região onde é desenvolvida?

O enoturismo é um motor econômico na maioria dos principais países produtores de vinho. Por exemplo, nos Estados Unidos, as receitas oriundas do turismo da atividade foram de US$ 17,6 bilhões, com 43 milhões de turistas visitando as vinícolas americanas em 2017, de acordo com estudo encomendado pela Wine America e conduzido pela John Dunham Associates de Nova York. Na Califórnia, a indústria do vinho emprega 325 mil californianos e fatura US$ 57,6 bilhões anualmente. A melhor maneira de avaliar os resultados do enoturismo é realizar estudos para determinar o número de turistas que visitam a cada ano, a quantidade média de gastos feitos por eles e o impacto econômico na região.

2. O vinho por si só é suficientemente atrativo para levar turistas para uma região?

A maioria das pesquisas sobre enoturismo indica que é importante que uma região tenha outras atrações turísticas próximas, em vez de apenas o vinho. Por exemplo, Napa e Sonoma são muito próximas de São Francisco, que é uma grande cidade turística. A região da Borgonha, na França, fica a três horas de carro ao Sul de Paris, mas ainda tem muitos edifícios arquitetônicos e museus da Unesco que atraem turistas, além de trilhas para caminhada e restaurantes com estrelas Michelin.

3. O enoturismo tem algum diferencial com outras modalidades turísticas? E o que tem em comum?

O enoturismo está intimamente relacionado ao turismo culinário, ecoturismo, agroturismo e, em alguns lugares, como Central Otago, na Nova Zelândia, está ligado ao turismo de aventura. Para locais com SPAs e campos de golfe, o turismo do vinho pode ser vinculado à saúde e ao turismo esportivo, por exemplo.

4. Existe algum efeito negativo dessa atividade?

Se muitos turistas chegam a uma região de enoturismo e a infraestrutura (hotéis, restaurantes, estacionamento, polícia, médicos, etc.) ainda não está preparada de forma eficaz, então pode ser muito frustrante para as pessoas que vivem lá. Além disso, muito tráfego pode criar poluição ambiental e sonora. Napa Valley e Sonoma tem sofrido com alguns desses problemas.

5. No caso de Napa, quais foram as estratégias aplicadas para consolidar a região como um destino turístico?

Napa Valley é considerada uma das regiões de enoturismo mais bem sucedidas do mundo. Eles conseguiram isso principalmente através da alta qualidade do vinho, belas paisagens e esforços colaborativos entre vinícolas, empresas e outras partes interessadas. O Napa Valley Vintners (NVV) é uma organização que ajudou a liderar grande parte desse arranjo, e eles continuam a fazê-lo hoje trabalhando de perto com os vinicultores e principais interessados, desenvolvendo programas regionais de promoção e realizando atividades de captação de recursos, como o leilão de vinhos do Napa Valley.

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