As Olimpíadas e a revolução carioca, por Bayard Boiteux*

Aos poucos, o Rio vai ganhando novas feições. Uma outra cidade devagar aparece, notadamente na Abelardo Bueno, perto do antigo Autódromo, onde a Cidade Olímpica começa a se desenhar. O bairro sofre uma revolução nunca vista: chegada do BRT, construção de um shopping, novos hotéis, entre outras providências. Sentimos que aos poucos a cidade tão maltratada pelas autoridades vai, em função do evento, conseguindo algumas melhorias. Entendo que o melhor de tudo é o legado para a cidade maravilhosa que carece tanto de grandes obras, desde a linha vermelha, amarela, Sambódromo, para citar alguns exemplos. Os moradores envolvidos em obras e transporte de massa deficiente sorriem devagar ao verem seus imóveis valorizados, mas, sobretudo pelo fato de morarem numa Jacarepagua, que vai se transformando num novo bairro: Barra Olímpica? Cidade Olímpica? Ainda não se sabe, mas se tem a certeza que o novo local terá denominação diferente.

O carioca não está ainda convencido de que o evento é um novo momento de mudança. Nossa auto-estima muito baixa com tantos escândalos políticos e tanta falta de segurança cobrem os ventos de melhoria que sopram sobre o Rio. Ainda mais com as denúncias de que a poluição da Lagoa e das praias pode trazer problemas para os atletas. É muita coisa ao mesmo tempo para corações corrompidos com a falta de esperança, durante anos. Pelas recentes pesquisas, há uma captação no ar de amor perdido que se recupera, com a possibilidade de alugar apartamentos, em bairros como Copacabana e Jacarepagua e viver uma paixão contida que pode se presumir real e que não quer se esconder. São as incongruências de uma cidade partida, com um coração que sofre ataques sem parar e que permeia a existência de gritos e sussurros de alegria e tristeza.

O grande desafio é o que vai acontecer após as Olimpiadas. Os equipamentos serão preservados e o esporte incentivado ou vai acontecer como na Grécia, onde temos um elefante branco que definha? Ou os estádios em vários Estados herdados da Copa que não sediam partidas. O grande compromisso do governo não é só construir, mas deixar um plano de médio e longo prazo para o desenvolvimento do esporte no Brasil, da sustentabilidade e da manutenção de tudo que foi construído. Há também que se estudar o que fazer com os hotéis que foram se abrindo, num país que não recebe nenhum 1% de todos os fluxos internacionais que visitaram o mundo e que hoje não tem uma política de turismo estruturada numa promoção efetiva e lógica.

Nosso Rio, que conseguiu, no atual governo municipal, melhorar bastante o turismo, deve considerar a hipótese de finalmente criar uma sinalização turística trilíngue (português/espanhol/inglês) e um programa de capacitação turística para as forças de segurança, na origem de sua formação, que deve incluir obrigatoriamente uma disciplina voltada para Turismo. Por outro lado, incentivar o artesanato local e estruturar os novos polos como Vargem Grande, Prainha, a própria Santa Teresa com o retorno do bondinho e nossa Paquetá, que carece de um banho de loja e formatação.

Sim, a revolução das Olimpiadas está aí e pode ser um recomeço para o turismo carioca e brasileiro, como um case de sucesso, com material informativo e promocional distribuído nos postos de informações, como o famoso Guia da Riotur, que traz um formato novo e ambicioso, no sentido de atender as novas diretrizes mercadológicas. O Rio e seus moradores que andam tão cabisbaixos precisam levantar as cabeças e gritar: “Rio, minha paixão, quero que você volte a nos encantar e nos dar orgulho”.

*Bayard Do Coutto Boiteux é coordenador do Curso de Turismo da UNISUAM, vice-presidente executivo da Associação dos Embaixadores de Turismo do RIO e presidente do Site Consultoria em Turismo. (www.bayardboiteux.com.br)

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