Artigo: O que aprendi na Futurecom 2015

A edição deste ano da Futurecom – evento super concorrido para o mercado de telecomunicações que ocorre anualmente no Brasil, reunindo cerca de 14.500 pessoas para discutir as últimas tendências em redes – já veio e já passou. Enquanto os temas e tendências apresentados são cautelosamente digeridos, é hora de refletir sobre o maior aprendizado deste ano: SDN e NFV já são uma realidade na América Latina.

Desde o ano passado acompanhamos SDN e NFV saírem lentamente da fase de concepção para a realidade. No evento deste ano, o conteúdo e o tom das conversas com os nossos colegas e clientes indicaram claramente que chegamos a um estágio crucial na evolução dessas tecnologias. Por exemplo, várias operadoras da América Latina já implantaram pilotos e testes de SDN e NFV. Algumas até chegaram a discutir seus planos para progredir na implantação de redes que as suportem. As atividades na Futurecom validaram o que o diretor da Analysys Mason, Glen Ragoonana, já havia relatado: a receita das redes controladas por software aumentará a uma taxa de crescimento anual composta de 22,5% na América Latina entre 2014 e 2019. É muito bom ver que estamos dando passos importantes como região.

Que diferença faz um ano! O resultado desse ciclo foi palpável e coerente com o que vínhamos ouvido em conversas despretensiosas com clientes e parceiros a respeito da melhor forma de utilizar softwares para criar e definir conjuntamente os aspectos que terão as novas redes sob demanda no continente latino-americano.

É claro que qualquer evento deste porte conta com uma diversidade de interesses, e não estou sugerindo, nem de longe, que SDN e NFV dominaram os debates. 5G, Internet das Coisas (IoT) e monetização da rede também foram temas quentes. No entanto, contei nada menos do que sete painéis e palestras na programação deste ano com foco na transição das redes para o software e a virtualização.

Novos marcos

No evento do ano passado, as discussões em torno de SDN e NFV deram uma guinada em direção à praticidade, com mais empresas demonstrando soluções e softwares que de fato colocaram essas tecnologias no contexto. Neste ano, as discussões revelaram que as operadoras latino-americanas estão adotando atitudes mais agressivas. Na verdade, pelo menos três operadoras declararam publicamente suas metas de implantação de SDN e virtualização, sustentando o consenso crescente de que a virtualização trará benefícios. As operadoras estão focando em novos modelos de negócios que essa transição exigirá e também em como poderão monetizar os novos serviços. Em suma, os temas mais quentes discutidos foram:

• Equipamentos virtuais nas instalações do cliente (vCPE) – com interesse concreto na compreensão de como entregar serviços empresariais como firewalls, roteamento virtual e balanceamento de carga.

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• Orquestração – em argumentos específicos a favor de um modelo multi-vendor e contra qualquer tipo de dependência de algum fornecedor.

• Controle de IP e de transporte de múltiplas camadas, a evolução do plano de controle e, claro, a arquitetura (OS, NBI, Apps, DCI).

Ecos do passado

É interessante ver como algumas premissas do passado dão um jeito de novamente se tornarem relevantes. Por exemplo, no evento deste ano me lembrei mais de uma vez da transição de Ethernet de TDM para pacotes e a resistência inicial a essa tendência. Este ano, ouvi menos ecos desse ceticismo e uma maior aceitação da ideia de que a transformação da rede seja uma realidade inevitável.

Curiosamente, vários colegas fortaleceram a opinião, com alguns deles comentando que também ouviram um tema comum entre operadoras e fornecedores: uma mudança de mentalidade – e mesmo de treinamento – são necessários para realizar essa transformação. O setor está mudando de uma cultura operacional para uma cultura de software, de silos de abastecimento para equipes abertas, de múltiplos fornecedores, trabalhando em colaboração para criar uma ponte entre as soluções legadas e as de próxima geração.

Não há dúvida de que o diálogo em torno de SDN e NFV se tornou mais concreto com as operadoras se expressando mais abertamente em relação aos seus objetivos, à receita esperada dos novos serviços (por exemplo, casos de negócios) e a quanto custará essa evolução.

Está claro que o cenário das telecomunicações na América Latina está mudando e evoluindo rapidamente. Será interessante ver o que será discutido no Futurecom do próximo ano. No curto prazo, podemos certamente esperar um aumento de SDN e NFV na região, então, quem sabe estaremos comemorando e discutindo em 2016 algumas de nossas realizações com software.

*Hector Silva é diretor de tecnologia para a América Latina da Ciena.

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