A trajetória da Villa Francioni, que mudou o rumo da produção de …

Natural de Criciúma, terceira dos quatro filhos de Manoel Dilor de Freitas, fundador da Cecrisa, uma das principais indústrias de cerâmica do Brasil, Daniela Borges de Freitas descobriu junto com o seu pai e seus irmãos um novo negócio que iria apaixonar a família: os vinhos. Atualmente ela mora com o filho em São Paulo, onde apoia a administração das outras empresas em que a família tem participação, porém durante a conversa disse que estava se preparando para voltar para Florianópolis.

Daniela assumiu o negócio iniciado pelo pai, que apostou nas pesquisas que apontavam a região da Serra fértil para uvas Vitis vinifera. Assim deu início ao ‘terroir catarinense’ – Marco Santiago/ND

No início da conversa, Daniela conta que o pai, aquele mesmo visionário que fundou uma indústria cerâmica há mais de 50 anos no Sul do Estado, subiu a Serra e comprou alguns hectares de terra em São Joaquim, na Serra Catarinense, mesmo sem saber que ali cultivaria o que hoje é o principal sonho de sua filha. Foram alguns anos de pesquisa até que ele descobriu o projeto de produção de vinho da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina). A partir dali não apenas a história da família teria um novo rumo, mas também a profissionalização vitivinícola ganharia o impulso necessário para colocar vinhos catarinenses de qualidade nas prateleiras dos supermercados e restaurantes de todo o país.

Os vinhos da Serra catarinense são conhecidos como os melhores vinhos de altitude do Brasil segundo o Guia de Vinhos do Brasil (2017/2018), da Inner, a mais importante editora brasileira focada no setor.

Sobre a empresa:

A Villa Francioni idealizada por Dilor de Freitas foi fundada em 2004, possui mais de 50 hectares de vinhedos, plantadas com mudas importadas da Europa, fornecendo uma variedade de castas de uva, como: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Chardonnay, Pinot Noir e Sauvignon Blanc, além de Petit Verdot, Malbec, Syrah e Sangiovese, e suas plantações são inspirados nas melhores regiões produtoras do mundo. Seu investimentos inicial superou os R$ 3 milhões, possuindo 4.478 m2 de área construída e condições de industrializar mais de 300 mil garrafas anuais. Porém, seu Dilor morreu antes de ver o seu empreendimento concluído. Assim a administração passou a ser compartilhada pelos seus quatro filhos, até que em 2008 Daniela assumiu a presidência da vinícola.

Missão da Villa Francioni: “Enriquecer a celebração da vida ao sabor de um elegante vinho elaborado com amor e arte.”

A arquitetura do sistema produtivo da Villa Francioni é sustentada sobre três fundamentos: a natureza, o homem e a tecnologia. Consolidando a interação entre o meio ambiente, trabalho e conhecimento. Arte, labor, investimento, paixão, todos os componentes que transformam a elaboração do vinho em alta cultura, estiveram presentes na concepção da vinícola.

Entrevista: Daniela Borges de Freitas, presidente da Villa Francioni

Como começou o projeto da Villa Francioni?

Já com uma idade mais avançada meu pai pensou em adquirir uma área, na Serra catarinense, um local que ele se sentia muito bem para passar mais tempo com a família. Ele queria desfrutar mais desse momento da sua vida. Mas como sempre teve um espírito de empresário, ele começou a pesquisar o que poderia se adaptar melhor a essa terra, que tipo de negócio. Flores, frutos, até que ele encontrou na estação experimental da Epagri em São Joaquim uma microvinificação com uvas vitis viníferas para produção de vinhos de qualidade. A partir dessa descoberta, ele trouxe enólogos e técnicos para avaliar a qualidade e percebeu que haveria um grande potencial para vinhos de qualidade. Em função do clima, do solo e das variedades de uvas naquele ambiente. Então ficou muito entusiasmado e viajou por regiões que tinham o enoturismo como base para implantar o nosso projeto da Villa Francioni. A partir daí ele contratou consultores, técnicos de vinícolas famosas para nos assessorar e nos orientar como a gente deveria fazer o vinho, o vinhedo, a escolha dos equipamentos. A partir daí ele já tinha uma concepção ideal de como seria o projeto com a pretensão de criar um novo polo da vitivinicultura brasileira e catarinense, focado na qualidade e no turismo, porque ele percebeu que em todo o mundo o enoturismo agrega muito para a vida das pessoas.  Além do marketing que iria fazer para a própria região.

Como foi a transição na gestão da empresa?

A primeira safra foi em 2004 e o meu pai faleceu no meio do ano. Eu e meus irmãos tínhamos um novo negócio na família para administrar e demos continuidade mais ainda sem saber muito do negócio, porque era novo na família. Buscamos profissionais no mercado para orientar para onde iria a nossa produção. Definimos a linha e com o tempo fomos crescendo, aumentando rótulos, variedades, tintos com cortes diferentes, os brancos dentro de um estilo bem característico da França. E desenvolvemos ainda a linha de espumante e dos licorosos. Hoje temos um portfólio bastante completo, com 17 rótulos.

Como foi a tua preparação para assumir os negócios da família?

Eu sou formada em direito, trabalhei com advocacia, mas aos poucos fui me direcionando para as atividades da família, a cerâmica e outros negócios; como herdeiros e como futuros gestores do conselho de administração. Nós fomos direcionados para entrar no Conselho de Administração. Depois de três anos e meio da morte do meu pai eu assumi a Villa Francioni. E o grande desafio dos primeiros anos foi tornar a marca conhecida, com credibilidade e que conseguisse ofertar a qualidade sugerida aos clientes por um longo período de tempo. Agora nós estamos presentes nos principais mercados do Brasil, mas Santa Catarina é a nossa âncora, porque nós somos daqui e a nossa produção também.

Como é trabalhar com a produção de vinho?

É muito mais estimulante profissionalmente, a gente tem mais contato com as pessoas. É um mundo mutável, porque a produção depende do clima e de muita vigilância daquilo que se está fazendo. Nós temos um negócio artesanal. A colheita é manual, todo o manejo do vinhedo é manual, então temos que cuidar de cada fase da produção. Eu me identifico muito com a questão agronômica da produção da uva e a vinificação.

Na realidade o que se viu no mercado não foi apenas uma vinícola se sobressair, mais de fato algumas vinícolas, uma nova região produtora. Isso faz parte de um contexto para o setor?

Sim, existe uma associação dos produtores de vinho de altitude e nós fomos um dos precursores dessa associação, porque nós entendíamos (e também era entendimento do meu pai), que devíamos fazer com que a região se desenvolvesse como um polo de vitivinicultura de alta qualidade, distinta da que existia no Brasil até então, para isso precisávamos agregar várias vinícolas. Então incentivamos essa associação e, no início, quando só a nossa vinícola estava estruturada e existia capacidade ociosa, nós começamos a vinificar para os produtores de uva da região, para que eles pudessem criar os seus próprios rótulos. E assim teríamos mais pessoas participando desse processo.

O objetivo do seu Dilor foi alcançado?

O que ele queria era que a família se envolvesse porque ele sabia que o negócio de vinícola é para muitas gerações. Não seria só com ele que o negócio iria se desenvolver. São negócios centenários que vão passando de pai para filho e assim por diante. Ele queria que a família se envolvesse e adquirisse essa paixão. E isso aconteceu. Nós fomos fisgados pela mosquinha da videira.

 

 

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