Por Camila Engelbrecht
Posso dizer que essa foi a melhor viagem que fiz. Mas então paro para refletir e a melhor viagem é sempre a última que fizemos. Esse é o indício da necessidade que temos em viajar. Não exatamente para ver novas paisagens, mas para experimentar e tocar o novo. Ver a vida com novos olhos, em outra cultura, outros ares, novas esperanças. É preciso partir. Entender que o mundo é uma imensidão onde há espaço para ser feliz do jeito que se é. Tratando de felicidade, o riso cusqueño contagia e não sai fácil de dentro do peito. É muita pobreza espalhada pelos cantos, mas a cidade que vive de turismo se movimenta feito máquina, a gargalhadas e disposição. Dispostos a madrugar, a batalhar um cliente para massagens, comidas, bebidas, festas, passeios, vendas, dar informações, conversar e lhe acompanhar a algum lugar apenas pela gentileza de colocar-lhe na direção correta. A riqueza é da alma.
Cusco? Ahh… que cidade maravilhosa. Tem alma de gente que dança e as mais belas pedras esculpindo cada canto. A antiga capital inca tem história em cada milímetro e viajar para o “umbigo do mundo” –significado de seu nome em quíchua –é uma imersão cultural que deixa marcas. Porque tem histórias bonitas e doídas, é mística e a herança permanece não apenas nas pedras, mas no povo que conta com sentimento de pesar e orgulho a história de seus antepassados. O encanto de cada novidade preenchia meus olhos de alegria, feito criança em mundo novo.
A cereja do bolo fica por conta de Machu Picchu. A cidade sagrada traz paz, ares místicos e inexplicavelmente a energia lhe contagia. Renova o interior, nos faz cuspir os resquícios ruins e ficamos inebriados por doçura. Olhar a imensidão da Cordilheira dos Andes, a névoa que ela emana e a força do rio Urubamba que a cerca traz paz e encanto – entendemos enfim que a perfeição da natureza é maior e a forma como os incas viviam em simbiose com o meio ambiente nos faz refletir: por que nossa sociedade não consegue ser sustentável e maltrata tamanha perfeição?
A cidade de Águas Calientes com suas três ruas traz encanto. Toda cercada por montanhas andinas e águas dos rios que com sua força, dependendo do lugar onde estiver, parecem o rufar de tambores. A vontade é de fotografar cada grão de areia da cidade cheia de magia, flora incrível e um povo muito amigável. Ah, claro, é preciso dizer: peruanos adoram brasileiros!
Algo me tocou naquele país. Fez voltar em mim um sentimento que não tinha há um tempo, o da curiosidade que arde em querer saber o que mais há por aí. O levar a vida com olhos de turista, vendo mundo a fora e cotidiano a dentro em cada sutil detalhe –nenhum dia é como outro e a rua por onde passamos ontem, já não é mais a mesma. E a sutileza se encontra nos detalhes, que é onde a vida acontece, no lento. E isso se perde se a visão está ofuscada. A viagem devolveu isso a mim e essa é a maior gratidão que levarei dessa experiência.
O mundo tem seus olhos voltados a uma das sete maravilhas do mundo moderno. Destino de muitos, é legal demais encontrar gente de todo lugar, conversar com eles, ouvir suas histórias e abrir uma janela em nossas mentes para o novo. Li muitas dicas, roteiros, descrições e no final fiz minha própria viagem. Deixei a vontade, espontaneidade, curiosidade, instinto e acaso falarem mais alto. Para quem pretende fazer essa viagem eu só tenho uma dica: descubra sua própria Cusco/Machu Picchu/Peru, construa suas experiências pessoais e deixe que o lugar se encarregue de lhe surpreender.
Agradeço ao Catraca Livre e Viagem Livre por proporcionar essa viagem incrível, ao Submarino Viagens pela organização perfeita de roteiro e hospedagem no sensacional Palácio del Inka. Muito obrigada a todos e todas!